Capítulo 39

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Não conseguiu dormir na noite anterior. O que havia acontecido, ainda a assombrava. No lugar do sono, apenas lágrimas pesavam sobre seus olhos. Lembranças do momento em que descobriu que foi traída por seu melhor amigo; por seu irmão, ainda passavam em sua cabeça como flashes.

Se perguntava o porquê de tudo de ruim acontecer com ela. Por que não tinha nenhum minuto de paz? Já era azarada por ter perdido seus pais, e não sendo o suficiente, tinha que ir para um universo paralelo, ter a consciência transferida para uma menina que "morreu", quase ser morta várias vezes, ter uma organização secreta a perseguindo, ver todos que amava se darem mal, e além disso, ser traída pela pessoa que mais confiava.

Escutou a porta de seu quarto abrindo, de repente, e passos caminharam até ela.

— Acorda, menina. Está na hora de ir para a escola. — A voz de Rosa disse em seu ouvido. Porém, Camila nem se mexeu. — Anda! Vai se atrasar!

Apesar de estar acordada, não queria levantar da cama. Não queria sair nunca mais dali. Não pos-suía ânimo para nada, muito menos para estudar. Nem era sua vida, então, por que se preocuparia com isso?

— Leyla, levanta!

— Eu não vou para a escola hoje. — Sua voz saiu rouca, por conta do tanto que chorou durante a madrugada.

— Por quê? Está se sentindo mal?

— Sim. — E não era mentira. — Não quero ir para a escola.

Ouviu Rosa suspirar.

— Certo, como quiser. Me chame qualquer coisa. — Após isso, ela saiu do quarto.

Camila não saiu em nenhum momento do dia, apenas se levantava de sua cama para usar o banheiro, que era uma suíte, dentro do quarto, e saía apenas algumas raras vezes para pegar água.

Se lembrou das memórias de Leyla. Ao que parecia, havia um frigobar em seu quarto, há um tempo, antes de quebrar por sabe-se lá qual motivo. Se ainda tivesse, a ajudaria bastante naquele momento, para não ter que ficar saindo do quarto sempre. Se pudesse, não se levantava da cama nunca mais. Além disso, não sentiu fome boa parte do tempo, e quando sentiu, resolveu que não iria comer nada.

Essa mesma rotina se estendeu pelo final de semana inteiro. Chorar, tentar não pensar no que houve, se lembrar e chorar novamente junto de pequenas pausas para usar o banheiro e beber água foi tudo o que fez. Percebendo o comportamento estranho vindo dela, Rosa foi até seu quarto no domingo, e tentou convencê-la de comer alguma coisa.

— Leyla, precisa sair daqui para comer. Os funcionários não te viram em nenhum momento fora desse quarto, e nem eu.

— Eu não quero. — Sua voz saiu de uma forma esquisita; quase inexistente. Se sentia fraca, sem forças até mesmo para levantar. Porém, não queria comer. Sua vontade era nula.

— Você ainda se sente mal? Precisa ir à um hospital!

— Eu estou bem, só não quero comer.

— Menina, coma pelo menos uma fruta. Vou trazer para você uma maçã, tudo bem?

Assentiu, sabendo que a mulher não sairia dali até ela aceitar. Quando comeu, sentiu um alívio muito bom em seu estômago, que por não ter recebido nenhum alimento durante todo o final de semana, estava fazendo-a se sentir enjoada. Porém, foi tudo que comeu pelo resto do dia.

Na segunda de manhã, Camila acordou com Rosa lhe chamando novamente, e sua resposta, foi a mesma que deu na sexta.

— Não quero ir para a escola hoje.

— Isso já está passando dos limites, menina! — Rosa parecia furiosa, porém, ao mesmo tempo, preocupada. Camila sabia que ela já havia sido bem próxima de Leyla no passado, e ainda parecia se importar bastante com ela. — Você precisa se levantar dessa cama, e sair desse quarto!

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora