A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)

Capítulo 37

Arregalou os olhos, dando passos lentos para trás, procurando se afastar daquela pessoa. Seus batimentos cardíacos conseguiram ficar ainda mais acelerados, juntamente de sua respiração. Pareceu que todo o ar havia sido drenado de seus pulmões. Não era Tiago. Não era o seu Tiago. Não podia ser.

Sentiu seu rosto ficar dormente, juntamente com suas pernas e mãos. Se desmaiasse a qualquer momento, não iria se surpreender. Isso não podia ser verdade. Não queria acreditar nisso.

Não. Não. Não. Não. Não. Não.

Repetiu mentalmente para si mesma, várias e várias vezes. Não podia ser verdade. Não queria acreditar. Não era verdade. Tinha que ser mais uma de suas brincadeiras sem sentido. Não tinha outra possibilidade.

É. É isso.

— Não. Não. Fala que não é verdade! Fala que isso é uma brincadeira de mal gosto! — Sentiu seus olhos começarem a arder, e sua visão ficou turva. Lágrimas começaram a rolar por seu rosto. — Tiago... Você não fez isso comigo... Você... você nunca faria isso comigo!

Por que ele faria algo assim? Por que a trairia? Não fazia nenhum sentido. Ele foi até lá para salvá-la; para ficar junto dela. Ele nunca...

Por mais que não quisesse acreditar, a reação dele já dizia tudo. Ele não iria desmentir, porque não poderia desmentir algo que não era verdade, e infelizmente, no fundo, Camila sabia disso.

— Tiago... — Agora, as lágrimas rolavam em montes por seu rosto. — P-por quê?

Ele também chorava, porém, silenciosamente, a encarando.

— FALA ALGUMA COISA! — Camila gritou. Era tudo o que ele iria fazer? Ficar a encarando, calado? Vendo a se desesperar, e não dizer nada?

— Eu não acredito nisso. — Kari olhava incrédula para ele. — Nós abrigamos você aqui, e é assim que você nos retribui? Nos traindo?

Ele, porém, não disse nada.

Camila sentiu seu coração doer, uma dor que nunca havia sentido antes. Nem se comparava com o que sentia no dia em que viu Ximú pela última vez. Estava destruída; dilacerada. Não conseguia raciocinar. A dor em seu peito era muita. Não estava acreditando no que estava acontecendo, tinha que ser um pesadelo. Não tinha como ser real. Precisava acordar daquilo. Mas não acordou. Não podia, e sabia disso no fundo, porque era tudo real. Seu mundo havia acabado. Respirava pesadamente, e começou a chorar como nunca havia chorado. Tiago a havia traído. Mas por quê?

De repente, uma raiva tremenda a invadiu. Uma raiva que não se igualava nem contando com todas as vezes que sentiu tal coisa somadas. Havia sido enganada, feita de idiota, pela pessoa que mais confiava e amava em sua vida. Todo aquele sentimento de querer descontar tudo em alguém, veio à tona. Queria descontar tudo nele; queria machucá-lo assim como ele a machucou.

Gritou. De raiva e dor, e tentou extravasar tudo o que sentia. E então, fechou as mãos em um punho, e sem hesitar, foi com tudo na direção dele, lhe desferindo um soco no rosto. Escutou gritos vindo de pessoas ao redor, mas isso não impediu que ela parasse. Quando deu por si, Tiago já estava no chão, se encolhendo com as mãos no rosto, enquanto ela reunia todas as suas forças para machucá-lo.

— COMO PÔDE FAZER UMA COISAS DESSAS COMIGO? EU CONFIEI EM VOCÊ! POR QUÊ? POR QUÊ? SEU DESGRAÇADO!

Sentiu mãos em volta de seus braços, tentando tirá-la dali, junto com gritos que não conseguia entender o que era dito. Lutou o máximo que conseguiu para tentar se soltar, porém, seja quem fossem as pessoas, eram fortes demais.