23.1 - A voz que não se cala

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"Você é meu sonho
Você é meu amor
É você quem me mostrou o amor
Siga o seu tempo"
Dream - Paul Kim

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As primeiras semanas após o início das aulas foram as mais difíceis. Contei tudo o que estava sentindo acerca das minhas inseguranças para a minha psicóloga, que disse que eu estava apresentando sintomas de dependência na minha relação com o Jimin, e até mesmo com meus amigos.

"... você entende que o outro irá suprir suas necessidades afetivas... ninguém tem o poder de fazer você feliz ou infeliz."

Eu não queria estar naquela posição, ou ter que deixar as pessoas que eu amo. Ouvir que minha vontade de estar perto era interpretado como dependência, como um viciado depende da sua droga, aquilo me doeu profundamente.

Eu sentia que ela não me entendia tão bem quanto deveria. Ou talvez fosse eu quem não me entendia ao certo. O que eu sabia era que certas situações estavam tornando as coisas difíceis.

A ausência dos meus amigos durante nossos horários livres me fazia imaginar que cedo ou tarde eu seria alvo de ataques e palavras maldosas. Em um dos dias em que me sentei sozinho, um dos alunos jogou um desenho de pênis na minha mesa e perguntou se eu gostava de chupar.

Taehyung, quando chegou e me viu calado e amedrontado, pegou o papel, amassou e fez o garoto engolir. Para o azar dele, o aluno tinha um pai influente e não aconteceu nada, enquanto ele teve vários pontos descontados. Tae sorriu, com aquele sorriso quadrado que só ele tinha, e disse que não se importava, que faria de novo se fosse preciso.

Eu estava inseguro. Ainda me adaptando à minha nova realidade, sob uma pressão desumana na escola e ainda por cima estava com medo de perder o Jimin. Que por sinal passava mais tempo em um grupo de estudos com o Jongin do que comigo.

Tudo aquilo me fez perder o controle dos meus pensamentos.

Aliando minhas inseguranças e as palavras ditas pela psicóloga, foi uma mistura catastrófica para a minha mente ruidosa. Comecei a me culpar por tudo. Mais uma vez por eu ser gay, ter nascido com a droga de um transtorno que me acompanharia pelo resto da vida e que, por causa disso, eu não podia ser tão inteligente quanto o Jongin, ou qualquer outro aluno da outra turma.

Na minha cabeça, o Jimin estaria tão focado nos estudos e nos seus colegas inteligentes que logo se cansaria de mim e veria o quão péssima foi sua ideia de querer namorar alguém feito eu, que além de não poder acompanhá-lo em nada na jornada acadêmica, ainda não podia satisfazê-lo "como homem".

Sentia-me da mesma forma com o afastamento do Hoseok. Ele também não teria mais tanto tempo para estar comigo, e seu tempo livre seria para estar com o Taehyung, que merecia muito mais a sua atenção. E assim, eu estaria sozinho, porque até mesmo a Yeri estava muito ocupada, precisando conciliar os estudos e o trabalho.

No fim, a minha psicóloga tinha razão: eu estava ficando dependente das minhas relações.

Eu preferia me machucar a machucar as pessoas que amava. Não queria ser dependente, não queria causar qualquer tipo de dor ou transformá-los em remédios. Se eu pudesse me afastar para evitar aquilo, eu faria.

Era o que minha cabeça sugeria o tempo inteiro: que eu ficasse sozinho. Isolado de todas as pessoas que eu amava.

Passei os dias seguintes o mais quieto possível, e sempre que Jimin ou meus amigos queriam estar perto, eu inventava qualquer desculpa para ficar um pouco distante. Não conseguia me abrir com eles e botar pra fora o que estava sentindo porque sentia que era bobagem minha. Eles não precisavam lidar com aquilo.

Beautiful Love • Jikook •Onde histórias criam vida. Descubra agora