Prólogo - Quando tudo mudou

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Jungkook, 16 anos

"Um dia eu te vi pela primeira vez
Olhando para mim como o Sol,
como o próprio destino em um daqueles dias lindos
Esta pessoa estava olhando para mim"
TXT - Love Sight

🍃

Quando nos mudamos de Busan para Seul, só me recordo do quanto chorei. Simplesmente não queria ter deixado meus amigos, parentes, a casa onde cresci, enfim, toda a minha vida para trás. Não importou o quanto eu chorei e implorei, nós nos mudamos.

Me perguntei se meus pais tinham noção de que mudar de cidade afetaria toda a minha vida. Eles estavam me tirando da minha zona de conforto, da minha sensação de segurança e do lugar quentinho que me fazia sentir que nada de ruim poderia me acontecer.

No dia da mudança, ao chegarmos em frente ao condomínio, permaneci com a cara fechada. Meus pais achavam que eu estava bravo, mas, na verdade, era tristeza. Os adultos não sabem identificar quando um adolescente está triste, isso é fato. Ignoram que também temos sentimentos e angústias e resumem tudo a sermos temperamentais, jogando a culpa na mudança de hormônios.

Adentramos o condomínio e meus pais buscaram pela casa roxinha, nosso novo lar. Desceram do carro, abriram a porta da casa e eu permaneci no carro. Pensava que se descesse, estaria oficialmente aceitando estar em um lugar novo. E eu não queria nada daquilo.

— Vem, Jungkook, pare de se comportar assim e vem nos ajudar com essas caixas — chamou minha mãe ao perceber que eu não ia descer do carro.

— Eu só queria que não tivéssemos nos mudado! — respondi, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Meu filho, não chora. Aqui seu pai ganhará mais, você estudará em uma boa escola e tenho certeza de que terá bons amigos também. Não fique assim, tá bem?

Ela me abraçou e enxugou minhas lágrimas. Não importava que eu tivesse 16 anos, ainda me comportava feito um bebê, e tudo, absolutamente tudo, me assustava ou me deixava sensível.

Respirei fundo e coloquei meu pé para fora do carro, como se eu estivesse testando se o chão ia desabar comigo ou não. Olhei ao redor e era tudo tão novo e assustador, mesmo com as casas sendo todas coloridas e com seus belos jardins, aquilo era um pesadelo para mim. Eu só queria acordar logo.

Enquanto pegávamos as caixas e as colocávamos diante do nosso novo lar, a porta da casa da frente abriu e uma mulher, que aparentava ter a idade da minha mãe, veio ao nosso encontro. Ela nos cumprimentou educadamente.

— Olá, vocês devem ser os novos moradores. Muito prazer, sou Park So Young.

— Muito prazer. Jeon Yoon Hee. — Minha mãe apontou para si e depois para meu pai: — Aquele é meu marido So Ji e este é meu filho, Jungkook.

Cumprimentei a senhora da maneira mais formal possível e tentei não mostrar que estava extremamente desgostoso com a mudança.

— Que lindo você, Jungkook. Quantos anos tem?

— Obrigado. Tenho dezesseis — respondi, um pouco tímido. Nunca fui muito bom em receber elogios.

— Oh! Que surpresa, é a mesma idade do meu filho, porém você parece mais velho. Você é alto e forte, mas o rosto é de um bebê.

Dei um sorriso um pouco de lado, como quem dissesse: 'pô, que legal saber que pareço uma criança que cresceu demais', e continuei pegando as caixas.

— Vocês devem estar precisando de ajuda. Esperem aqui, vou chamar meu filho.

Park So Young saiu e minha mãe sorriu pra mim, como se quisesse reafirmar que ficaria tudo bem. Afinal de contas, tínhamos uma vizinha muito boa, prestativa e que ainda por cima tinha um filho da minha idade que, com sorte, aceitaria ser meu amigo. O que poderia ser tão assustador pra mim, não é mesmo?

Logo a senhora Park saiu, acompanhada de um garoto que parecia ser um pouco mais baixo que eu. Cabelos e olhos castanhos, blusão branco, calça jeans azul e um sorriso no rosto. Era como se eu não estivesse vendo um ser humano. O garoto mais parecia um anjo, de tão lindo.

Fiquei estranhamente nervoso e meu coração acelerou como se eu estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. Nunca tive um, mas, com certeza, pareceu muito similar a um provável piripaque. Desviei o olhar em uma tentativa fracassada de fazer com que aquele nervosismo passasse, mas não resolveu muito.

Quando chegaram perto de nós, a senhora Park apresentou seu filho aos meus pais e logo em seguida a mim. Ele esticou sua mão e, quando fui cumprimentá-lo, acabei derrubando a caixa bem em cima dos seus pés.

— D-desculpa... e-eu... eu te machuquei? — perguntei, desesperado, e o garoto sorriu, apesar da caixa ser um tanto quanto pesada. Ele devia ser muito resistente.

— Está tudo bem, não me machucou. Eu sou o Jimin.

Ele esticou a mão de novo e, dessa vez, eu a apertei sem derrubar nada. Mais uma vez uma onda de arrepios tomou conta do meu corpo. Senti-me o próprio Harry Potter escolhendo a varinha. Aposto que uma luz pairou ao nosso redor.

— Jungkook. Muito prazer, Jimin.

Jimin sorriu, fazendo seus olhos se fecharem por completo, formando dois risquinhos.

E foi assim que conheci Jimin, meu vizinho e o primeiro e o único grande amor da minha vida.

Beautiful Love • Jikook •Onde histórias criam vida. Descubra agora