Beautiful Love • Jikook •

10.2 - Família

Faltando pouco menos de dois meses para o vestibular, a escola parecia um verdadeiro confinamento zumbi. Alunos dormiam durante as aulas e precisavam ser constantemente acordados pelos professores e inspetores. Bibliotecas lotadas e era raro vermos refeições durarem mais que cinco minutos.

Muitos dos meus colegas estavam fazendo uso dos mesmos remédios que eu para aumentar o desempenho e melhorar o foco, o que implicou no fato de eu ser abordado, no mínimo três vezes ao dia, por pessoas diferentes pedindo meus remédios para que elas tivessem o maior desempenho. O desespero era tão grande que estavam dispostos a pagar quanto eu pedisse. É óbvio que não vendi, que fique bem claro.

Eu sempre soube que o ensino era rigoroso, mas nunca tinha visto de perto como era estar no último ano do ensino médio rumo à universidade.

Entrar no banheiro e ver alunos se drogando, em crises de ansiedade e muitas vezes se perguntando se valeria a pena viver se seus pais soubessem que eles fracassaram no exame, era uma imagem muito forte para se lidar.

Meus pais nunca me pressionaram para o sucesso profissional, apenas torceram para que no futuro eu pudesse fazer algo que eu realmente amasse e fosse feliz, independente do status da profissão ou quanto eu ganharia no final do mês.

Infelizmente a minha realidade era diferente de muitos outros. Alguns tinham apenas essa saída, como era o caso do Taehyung e da Yeri, eles precisavam ir bem nos estudos para oferecerem um futuro melhor às suas famílias; já o Jimin estava em busca do seu grande sonho de tornar-se médico e ele dava tudo de si para realizar, mesmo que muitas vezes ele sacrificasse seu sono, seu tempo livre ou até mesmo sua saúde. Hoseok, por outro lado, estava se matando para satisfazer sua família fervorosa por educação e não fazia ideia do que queria ser, apenas seguia o cronograma idealizado e imposto por eles, não ousando sequer abrir espaço para sonhar.

Juntamente com minha mãe, preparei várias lancheiras no decorrer da semana para levar à escola e cuidar dos meus amigos que estavam se esforçando tanto. Eu me sentia uma mamãe ave alimentando seus filhotes, já que eles mal conseguiam focar nas refeições por estarem ocupados demais com a cara enfiada em seus livros e cadernos.

Presenciar toda aquela maratona de estudos mexia um pouco comigo, a sensação de estar sendo deixado para trás era constante. Me sentia paralisado, incapaz de conseguir fazer o mesmo que todos, por mais que me esforçasse, não conseguia sair do lugar e aquele sentimento começou a me consumir.

Não apenas os pensamentos em relação aos estudos, mas a tudo que me cercava. Eu costumava me sentir constantemente indo contra tudo e todos, desde meu TDAH, personalidade, orientação sexual e até mesmo minhas baixas expectativas de futuro.

Enquanto boa parte das pessoas traçavam todo um futuro e caminhavam rumo a ele, eu mal conseguia traçar um dia inteiro na minha rotina e cumprí-lo.

Minha vida era cercada de incertezas, medos e frustrações constantes, mas eu tentava sempre me lembrar das coisas boas para que não fosse arrastado pela onda de pensamentos ruins.

No sábado achei que fosse dormir até tarde por estar esgotado devido às atividades da semana, porém acordei cedo e, para a minha surpresa, ao descer as escadas, dei de cara com meus pais na sala assistindo TV.

Por um instante achei que estava sonhando, que logo iria despertar e ver que nada daquilo era real. Eles estavam realmente juntos.

ㅡ Mãe? O que faz aqui? Quer dizer... o que está havendo?

ㅡ Filho, precisamos conversar.

Meus pais, acordados tão cedo em pleno sábado, falando que precisam conversar comigo, já imaginei todas as prováveis encrencas que eu tenha me metido sem saber.