11 | ᴜᴍ ғᴀʟsᴏ ᴀᴛᴇɴᴅᴇɴᴛᴇ

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   Naquele dia, complementamos a segunda fase da missão: Encontrar o demônio. Ou ao menos era isso que pesávamos.

   Já havia escurecido, e aparentemente, não havia ocorrido nenhum desaparecimento até o momento, o que era ótimo.

   Hayakawa e eu iríamos procurar algum lugar para comprar algo para comer. Na noite anterior, acabamos comendo o que havíamos trazido de Tóquio, mas agora, precisaríamos comprar.

   Colocamos uma roupa comum, sem blazers ou gravatas. Assim que pisamos o pé para fora de casa, fiz a minha forma demoníaca desaparecer.

   Parecia estranho, mas ainda sinto que Aki não gosta de mim. Angel, que querendo ou não, é mais próximo do Hayakawa que eu, diz que não é que ele não goste de nós, mas ele não gosta de demônios num geral.

   Demônios, a mesma raça que assassinou toda a sua família bem na sua frente. A raça que, Aki matava sem dó ou piedade.

   Mas acredito que coisas desse tipo acontecem, certo? Não são todos que vão me aceitar como sou. Bom, eu prefiro pensar dessa maneira.

   No momento, estávamos caminhando pela vila, e nisso, passamos próximo à praia. O lugar onde Angel e eu mais gostávamos de brincar; O lugar onde Makima nos encontrou; E o lugar que colocou um fim nos humanos da antiga aldeia.

   Deixando Aki ir na frente, eu paro, observo a areia da praia e em seguida, a água. Tudo parecia certo, a calmaria do som das águas me deixava tranquila, e com isso, me trazia inúmeras memórias boas. Eu respirei fundo enquanto me lembrava delas.

— Demônio? - Aki diz à mim, parando e olhando para trás. Eu caminho até ele em passos pesados.

— Eu tenho nome, sabia? É horrível ter que ouvir alguém te chamar por sua raça 24 horas por dia. - Resmungo.

— Mas é isso que você é, não? Um demônio. - Ele diz simples.

— Não totalmente. Eu sou híbrida, metade demônio e metade raposa. Sou tanto raposa quanto demônio. Não é como se você tivesse escolhido uma das minhas metades para me nomear, certo? - Debocho. Nós caminhávamos na beira da praia em direção ao local indicado por Makima, no mapa que nos deu.

— Seu irmão também é um híbrido e eu o chamo da mesma maneira. Por que não posso te chamar também?... Aliás, vocês são gêmeos, e muito parecidos, apesar de serem do gênero oposto

— Porque eu não gosto. Não me importo com os gostos de Angel, nós somos semelhantes apenas na aparência e compartilhamos o mesmo sangue, nada mais. - Continuo. - E outra, você gostaria que eu lhe chamasse de humano para lá e para cá? É a mesma coisa.

— Eu não me importaria. - Ele diz e me faz revirar os olhos com raiva.

— Tudo bem então, humano idiota. - Eu franzo as minhas sobrancelhas tirando uma risada sincera do rosto de Hayakawa, atingindo ainda mais a minha ira. - Babaca. Otário. - Continuo pisando forte.

Em algum tempo de caminhada, chegamos em um restaurante simples de cidade pequena. Tinham apenas duas mesas com quatro cadeiras cada, e apenas um atendente que provavelmente também era o cozinheiro.

— Boa noite. - Aki diz ao senhor que nos entrega um cardápio sorrindo.

— Boa noite, o que vão querer? - Ele tinha um sorriso simpático no rosto.

Mais que rápido, senti um cheiro estranho vindo daquele homem. Com certeza ele não era um humano. Apesar de ser algo muito fraco, tinha algum odor demoníaco ali.

Eu precisava arranjar alguma forma de avisar Aki sem que o atendente demônio notasse, mas a questão era: Como?

— Eu quero alguns Hossomaki de salmão. E você? - Hayakawa me pergunta, mas eu estava perdida demais nos meus pensamentos para responder no mesmo segundo.

— Ah... Eu quero um Temaki. - Respondo sem pensar muito.

— Certo. Podem se sentar em qualquer uma das mesas. Em cerca de quinze minutos entregarei seus pedidos. - Ele anota em um bloquinho, arranca a página e vai para a cozinha, deixando o bloquinho e a caneta em cima do balcão.

Aki vai até uma das mesas e se senta. Eu garanto que o atendente não está olhando para pegar o bloquinho e a caneta, com isso, me sento de frente para o Hayakawa na mesa, o mostrando o bloquinho em minhas mãos.

— O que você— - Eu o corto fazendo o sinal de silêncio.

— O que está achando daqui? - Escrevo no bloquinho enquanto digo. - Quero dizer, da vila.

* BLOQUINHO *
O atendente é um demônio, sinto seu cheiro.
Não diga nada sobre isso, apenas mantenha uma conversa normalmente. Vamos pegar a comida e ir embora. Demônios tem bons ouvidos.

Escrevo e passo para Hayakawa sem levantar o papel da mesa. Ele concorda com a cabeça lentamente.

— É um bom lugar. - Ele responde a minha pergunta, isso enquanto pega a caneta para também escrever no bloquinho. - Poderíamos ir à praia em algum momento livre. - Que ótimo disfarce. Ele passa a folha do bloquinho para mim.

* BLOQUINHO *
Se é assim, ele já deve saber quem somos e está atento na nossa conversa.

— Sim! - Digo respondendo tanto o papel, quanto a sua pergunta falsa. - Claro. - Também pego o bloquinho e a caneta.

* BLOQUINHO *
Pessoas que residem em pequenos vilarejos como esse sempre conhecem visitantes. Eu me lembro bem de como foi ver a Makima pela primeira vez, bem aqui.
Agora, se me der licença, preciso devolver o bloquinho.

Assim que Aki termina de ler, ele passa o bloquinho de volta para mim, que tiro as duas páginas que usamos e as coloco no bolso. Depois pego o bloquinho e a caneta e coloco no balcão de volta.

Ficamos algum tempo jogando papo fora, não falando nada importante, é claro. Em alguns minutos, o falso atendente nos entrega o nosso pedido.

— Obrigado. - Aki agradece. - Aqui está o pagamento. - Ele lhe estende algum dinheiro.

Nós nos levantamos da mesa e o homem fica confuso.

— Já vão embora? - Ele pergunta.

— Temos que voltar para casa, decidimos comer no caminho. Obrigada! - Digo com o sorriso mais falso possível estampado no meu rosto.

KITSUNE 🎭 - Aki Hayakawa (Chainsaw Man)Onde histórias criam vida. Descubra agora