01 | ᴄʀɪᴀɴçᴀs ɴᴀ ᴘʀᴀɪᴀ

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𓆩 Visão de Volpine 𓆪

— Eu quero um sorvete! Eu quero um sorvete! Angel, compra um sorvete pra mim!

— Não, Volpi. - Meu irmão me repreende. - São dez horas da manhã, você não pode comer sorvete à essas horas.

   Nós esperávamos por Fumiko, a "namoradinha" de Angel. Estávamos sentados na areia da praia, isso enquanto um carinha que usava um boné esquisito vendia sorvetes ali por perto. Meus olhos seguiam o vendedor de um lado para o outro com as pupilas finas.

— Oi. - Fumiko chega próxima. Ela estava descalça e segurava os seus chinelos nas mãos. - Demorei muito?

— Não, tudo bem. - Angel se levanta e fica lado a lado da garota. - Como você está? - Ele pergunta e eu continuo sentada os observando.

— Eu estou bem. E você? - Fumiko pergunta ao meu irmão com um sorriso ladino.

— Isso é ótimo. Também estou bem.

— E você, Volpi. Como está? Melhorou daquele desconforto que estava sentindo na semana passada? - Ela me pergunta.

— Ah... Sim. - Me lembro imediatamente da bolsa de sangue humano que Angel teve de me arrumar para que enfim melhorasse.

(...)

Angel, Fumiko e eu, estávamos brincando dentro da água salgada do mar. Era divertido, fazíamos isso todas as semanas.

Fumiko era uma garota legal. Filha de um fazendeiro cujo a mulher morreu de tuberculose. Na época da morte de sua mãe, Fumiko mal saia de casa. Irmos brincar na praia foi a solução que Angel e eu encontramos para que a garota voltasse a brincar conosco.

Dês de pequeno, Angel sempre teve um afeto peculiar por Fumiko. O que era estranho, já que o seu lado demônio odiava humanos. Na época em que comecei a perceber o afeto repentino, pensei que fosse apenas algum efeito do seu lado anjo, que aparecia de vez em quando, mas as tais demonstrações entre ambos começaram a ficar cada vez mais frequentes.

Apesar de Angel expressar um carinho especial por Fumiko e vice-versa, eles nunca puderam se tocar. Isso acontece porquê o meu irmão tem uma habilidade única, na qual ele pode absorver a vida útil dos humanos com um toque simples, ou seja, encurtar a vida com apenas um contato físico qualquer. Com a vida útil que se tira, Angel é capaz de criar armas fortes. Essa é uma habilidade que apenas ele e mais ninguém, possui.

Igualmente ao meu irmão, eu também tenho algumas habilidades únicas, mas ao contrário dele, não são tão trágicas... Não se você souber como usar.

Todos nós, demônios, possuímos algo que chamamos de "Nome demoníaco". Cada demônio ganha um desses assim que descobrimos as nossas habilidades. E do mesmo jeito que Angel é conhecido como Demônio Anjo, eu também possuo um nome desses.

Demônio Kitsune, é assim que me chamam. Isso devido a minha forma híbrida, metade demônio e metade raposa.

No folclore japonês, Kitsune é um espírito com poderes mágicos de transformação. São conhecidas por serem trapaceiras e hábeis em magia.

Como já é de se esperar, recebi o apelido por ter habilidades semelhantes as de uma Kitsune. As principais delas são: Aparecer em sombras, criar ilusões e materializar algumas delas. Algumas Kitsunes mais evoluídas também aprendem a dominar formas gigantescas de uma Kyuuby, uma raposa que possui até nove caudas, cada uma delas simboliza seu nível de poder. Quanto mais caudas, mais forte é a Kitsune, sendo Kyuuby a mais poderosa delas.

Eu ainda não sei usar a tal forma, mas ainda sim, quando tenho um sentimento muito forte, minha cauda única aparece, juntamente com as orelhas peludas, caninos pontudos e pupila fina. Isso porquê eu uso a habilidade de ilusão para disfarçar a minha metade raposa.

— Volpi, você ainda quer o sorvete? - Angel pergunta ao ver o passar rápido do dia. O sol já estava começando a se esconder, e nós ainda estávamos na praia com a Fumiko.

— SIM! - Respondo rápida. - Eu esperei o dia todo por isso. Quero um de morango!

— E você, Fumiko. Quer qual sabor de sorvete? - Angel sai da água se espreguiçando.

— Hum... Qualquer um está bom. - Ela dá de ombros.

— Tudo bem. - Angel caminha em direção ao vendedor de sorvetes, que passava ali por perto de novo.

— Ei, espera! - Eu corro até o meu irmão, deixando Fumiko para trás. - Vou com você.

— Não deixe a Fumiko sozinha. - Ele aponta para a garota, que agora, estava de costas, sentada na areia e olhando para o mar.

   Eu iria voltar para perto de Fumiko desapontada, mas algo, ou alguém, me interrompeu.

— Olá! - Uma mulher bonita e engravatada aproximou-se de nós, sorrindo. Ela não era dessa região, não tinha como ser.

— Quem é você? - Angel perguntou simples. Eu me escondi atrás do meu irmão, olhando para a mulher por cima do ombro. Nesse momento, as minhas pupilas com certeza afinaram.

   Um cheiro leve de sangue vinha da mulher de olhos amarelados. Aquilo me incomodava.

— Então. Me mostrem os seus poderes. - Ela diz ainda com um sorriso no rosto.

— Sem chance. Meu poder causa a morte. - Meu irmão diz enquanto pouco abre as asas tentando me proteger. Eu preferi não dizer nada.

— Me mostrem seus poderes. - A mulher fica séria de repente. - Essa é uma ordem. - Angel fecha as asas devagar, se sentindo intimidado. Eu vou para o seu lado com cuidado e sem movimentos bruscos.

   A mais velha de cabelo em tons de rosa pouco se inclina próxima a mim, ficando a centímetros do meu rosto e com os olhos na altura dos meus. Era como se ela analisasse bem no fundo das minhas pupilas. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a minha metade raposa aparece como um "Puuf!". Um sorriso fino aparece no rosto da mulher. Ela ajeita a sua postura novamente e se vira ao meu irmão. As minhas orelhas estavam juntas, a minha cauda aflita, e as minhas pupilas mais finas do que nunca. Aquela mulher me causava um enorme desconforto.

   Foi quando o dia se tornou noite de repente. O céu ficou escuro e várias estrelas eram visíveis.

   Aquela mulher era um demônio? Ela não tinha cheiro de um. Será que ela é capaz de acelerar o tempo ou algo assim? Ou só cria ilusões como eu?

— Hã...? Por que está de noite? - Angel olha para a lua sem entender. Seu olhar vai do céu para mim, e depois para a mulher de novo.

— Você tem um ótimo poder. - A mulher de olhos amarelos diz ao meu irmão, e como um piscar de olhos, várias pessoas estavam sem vida no chão. Eram as pessoas da nossa aldeia.

— Fumiko! - Eu me abaixo, tocando no corpo sem vida da garota. Meu irmão fica paralisado, sem saber o que fazer. A mais velha tinha um sorriso macabro no rosto.

KITSUNE 🎭 - Aki Hayakawa (Chainsaw Man)Onde histórias criam vida. Descubra agora