18 | ᴀ ᴘʀᴀɪᴀ

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Aki e eu estávamos entediados. Eu havia acabado de ler o diário antigo de Kaito, o sacerdote, e não havia nada que eu pensava em fazer, a não ser...

Humano. - Chamo por Hayakawa, que não responde, mas ao menos prendo a sua atenção. - O que você disse no outro dia... Sobre a praia. Pretendo ir para lá agora. Você vem? - Sou simplista.

— Não sei se gostaria de conhecer a praia. - Ele olha para o céu. Aki estava sentado em frente a uma janela, com os braços cruzados.

— Você já viu o mar alguma vez... Né? - Temo a resposta.

— Quando chegamos aqui foi a primeira vez que vi o mar. - Hayakawa diz como se não fosse nada.

— O que? - Eu franzo as sobrancelhas e me aproximo dele. - Não, não, não! Você TEM que ir a praia! E nós vamos! - O puxo levemente pelo braço, confesso que tive medo de levar esporro, mas pelo contrário, o rapaz mal reagiu. - Entra aí e se troca. - Empurro para dentro do quarto.

— Qual seria a roupa mais apropriada para ir a praia? - Ele pergunta e eu faço cara de tacho. - Eu não trouxe muita coisa.

— Qualquer coisa que não seja formal! Vamos! - Fecho a porta, deixando Aki do lado de dentro do quarto.

O espero de braços cruzados na cozinha, andando de um lado para o outro. Os curativos no meu braço estavam intactos, então resolvi deixar para os trocar mais tarde.

Pouco demorou, mas Aki saiu do quarto usando uma regata branca e uma calça larga.

— Olha... Pelo menos 50% você acertou. - Digo me referindo à roupa. - Agora se me der licença...

Empurro Hayakawa para fora do quarto, entro e fecho a porta. Assim, coloco um biquíni que havia trazido exatamente para essa ocasião: Voltar à praia depois de anos. Em seguida, coloquei um camisetão por cima. Tiro algumas coisas que não seriam necessárias da minha mochila, deixando apenas protetor solar, toalhas e entre outros, e a coloco nas costas.

— Vambora'! - Abro a porta do quarto e saio da casa, sendo seguida por Aki, que parecia um pouco perdido.

Enquanto caminhávamos, pude o perceber muito disperso. O analisando melhor, pude ver o seu braço esquerdo enfaixado assim como o meu.

— O que houve? - Pergunto apontando para o seu braço. Caminhávamos lado a lado, indo em direção a praia.

— Nada demais... - Arqueio as sobrancelhas indicando para ele continuar. - Um demônio que tenho contrato... Em troca do seu poder, ele leva uma parte do meu corpo. Nesse caso, foi a minha pele. - Hayakawa explica.

— Parece ser doloroso.

— É sim. - Responde.

— Olhando por outro lado... Estamos na mesma situação, iguais. - Levanto o meu braço, também enfaixado, enquanto sorrio.

   Quando chegamos em frente a calçada que já dava direto para a areia, percebi que Hayakawa havia parado. Ele estava com a cabeça inclinada para cima e deu um suspiro fundo. O barulho do mar era perceptível e me acalmava demais.

   Tirei os meus chinelos e os segurei na mão, pisando na areia depressa. Corro até a beira da água, e quando a água molha os meus pés, um flashback tomou a minha mente.

* FlashBack On *

— Fiquem longe! - Eu dizia em posição de defesa. - Não se aproximem de nós.

— Vocês são aberrações! - Um garotinho segurando um graveto dizia. Atrás dele, outros três nos olhavam com raiva. - Deveriam estar em grandes gaiolas para um espetáculo!

   Angel estava atrás de mim. Meu irmão não suportava humanos, mas mesmo assim, sentia medo de os confrontar. E por isso, sempre quem o defendia era eu. Ele se escondia em meio as suas assas, os olhando por cima do meu ombro.

   Aquelas crianças eram as piores da aldeia. Não gostavam de Angel e eu por sermos demônios, e por isso, nos atormentavam diariamente.

   Kaito nos disse para nunca, em hipótese alguma, os ameaçar. Segundo ele, só pioraria a nossa situação, isso por sermos demônios... E eu achava que ele tinha razão.

— NÃO SE APROXIME! - Digo após o primeiro garoto dar um passo adiante com um sorriso tentado.

— Nossos pais sentem medo de vocês, sabiam? - Uma garota que estava com os outros valentões diz. - Minha mãe disse que os adultos os tratam bem para que vocês não os devorem.

— Mas nós não temos medo, e por isso estamos aqui! Aberrações! - O outro diz.

* FlashBack Off *

   Memórias boas também começaram a invadir minha mente, mas acabaram fugindo totalmente assim que vi Hayakawa próximo a mim enquanto soltava os seus cabelos negros que tocavam seus ombros.

— O que foi? - Ele pergunta pouco risonho. Percebo que eu estava boquiaberta olhando para seu cabelo.

— Não imaginava que o seu cabelo fosse tão longo. - Respondo.

— O seu também não é nada curto... E nem o do seu irmão.

— Verdade... - Volto a olhar para o mar azul em minha frente.

   Em seguida, tiro o camisetão e entro na água devagar. Que saudade dessa sensação, Angel amaria tudo isso aqui.

KITSUNE 🎭 - Aki Hayakawa (Chainsaw Man)Onde histórias criam vida. Descubra agora