23 | ᴇᴍʙᴀʀᴀçᴏs

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Humano. - Chamo sua atenção. - Qual você escolheria... O rato do campo ou o rato da cidade?

— Que? - Pergunta sem entender.

— É uma das fábula de Esopo, não conhece? - Ele nega com a cabeça.

Hayakawa e eu estávamos debaixo de um lugar coberto, esperando a chuva passar. Depois dali, iríamos para o prédio da Segurança Pública, onde Aki treinaria sua luta de boxe. Angel havia ido embora antes de começar a chover, ele disse que iria para casa dormir.

— O rato do campo vive em segurança, mas não come a comida deliciosa que tem na cidade. O rato da cidade come comidas deliciosas, mas corre o risco de ser morto por humanos ou gatos. - Eu explico. - Esse é um conto que Kaito contou para mim e para o meu irmão ainda quando éramos crianças. Angel escolheria ser o rato do campo, ele prefere a segurança. Mas eu... Eu prefiro o rato da cidade. Mesmo que o rato do campo viva melhor, prefiro a adrenalina de sentir a morte... E ainda mais se for para fugir dela. E você, qual preferiria?

— Bom, apesar de preferir o rato do campo, acho que estou mais para o rato da cidade. - Responde ele.

— Ah... - Digo olhando para as gotas finas de água da chuva se juntando em uma poça na nossa frente. A chuva estava parando.

(...)

— TEMOS UM VENCEDOR! - Nomo, um dos caras com uma cicatriz grande na boca, diz apontando para Aki, que usava a suas luvas de boxe e uma camiseta regata branca com uma calça larga, e havia acabado de dar um golpe fatal em seu adversário.

— Ghhr... Obrigado pelo treino. - O homem golpeado diz com o sangue escorrendo pelo canto da boca.

— Boa partida. - Hayakawa responde tirando as luvas, e eu o olho com os braços cruzados.

— Aki, meu chegado! - O da cicatriz encosta o cotovelo no ombro de Hayakawa, que o olha de canto de olho. - Foi mal ter te chamado para treinar esses bunda mole.

— Eu não posso falar não pra você, Nomo. - Responde.

Hayakawa e Nomo pouco conversaram, e em seguida, Aki desce da plataforma de treino para o seu descanso de 10 minutos. Ele pega uma garrafinha de água e vem em minha direção.

— Sede? - Hayakawa me oferece a garrafinha e eu recuso. - O que acha de ir na próxima? - Se refere a próxima partida, nossa luta amistosa.

— Acho bom.

— Ótimo. - Ele toma a água e deixa a garrafinha de lado. - Vamos para o terraço, preciso fumar um pouco. - Diz e vai em direção ao elevador, eu o sigo.

Assim que as portas do elevador se abrem, me deparo com uma visão bonita de uma das ruas mais movimentadas de Tóquio. Nunca havia vindo até aqui antes, mesmo com todos esses anos trabalhando nesse lugar. As várias luzes dos prédios me chamavam muita atenção, tanta que eu nem sabia para onde olhar.

Hayakawa foi até a grade de proteção e tirou um maço novinho de cigarros do bolso e um isqueiro.

— Vai querer dessa vez? - Ele pergunta pegando um dos cigarros.

— Não, obrigada. Prefiro não alimentar um possível vício. - Ele guarda a caixinha no bolso novamente.

Hayakawa acendeu o cigarro e colocou na boca. Ao mesmo tempo, eu observava a rua movimentada em nossa frente, isso até que eu percebesse o olhar de canto de olho vindo do meu lado.

— O que é? - Pergunto franzindo as sobrancelhas.

— Preparada para voltar lá pra baixo? - Ele diz e se aproxima de mim. - Eu não vou pegar leve. Você pode ser uma mulher, mas ainda é um demônio.

Claro que estou. - Ele se aproxima ainda mais. - Minha intenção não é que você pegue leve.

   Ao perceber a tamanha aproximação repentina, eu recuo aos poucos, mas mesmo assim, Hayakawa continua se aproximando. Eu só paro de dar passos para trás quando as minhas costas encontram a grade.

   Eu iria tentar fugir para o lado, mas sou impedida por Aki, que segura forte os meus ombros. Foi aí que eu percebi: Eu vou morrer. Aki Hayakawa vai me matar. Era tão óbvio e eu fui tão ingênua. Todos tentaram me avisar, até mesmo Makima. Hayakawa odeia demônios, a minha raça havia matado toda a sua família. Ele havia prometido matar todos nós.

A minha vida patética havia passado pelos meus olhos naquele momento, assim como a conversa que tivemos hoje mais cedo, onde eu havia dito que "gostava da adrenalina".

   Eu fechei os meus olhos com força esperando que ele me matasse de uma só vez, mas abri assim que senti sua mão puxar o meu queixo para cima, me fazendo olhar em seus olhos.

   Uma coisa que eu tinha certeza era de que naquela hora, o meu olhar não expressava nada além do medo. Eu estava com medo. Mas mudou rapidamente para um olhar de dúvida quando Hayakawa colocou uma das mechas do meu cabelo que estava no meu rosto para trás da minha orelha.

Abre a boca. - Ele diz e eu fico sem entender.

Por que eu faria isso? - Sem me dar uma resposta, ele fuma o cigarro sem soltar a fumaça.

Com a dúvida misturada com o medo, eu pouco abro a boca. Hayakawa se aproxima bruscamente e volta a segurar o meu queixo. Ele estava tão perto que pude sentir nossas respirações se misturarem. Com isso, ele solta a fumaça do cigarro pela boca, que estava à milímetros da minha.

Naquele momento, era como se o meu coração pudesse sair pela boca. Eu nunca havia sentido nada parecido antes. Foi um sentimento tão estranho que pude sentir não só o meu rosto como todo o meu corpo esquentar.

— As vezes eu gostaria de poder esquecer que você é um demônio por alguns segundos... - Hayakawa diz ainda muito próximo à mim. O meu coração estava disparado.

Foi quando a porta do terraço foi aberta de maneira brusca revelando Nomo, que acabou entrando em uma situação embaraçosa. Suas bochechas avermelhadas eram nítidas.

— Ah... É... - Ele tenta dizer. Enquanto isso, Hayakawa não tinha qualquer expressão no rosto, não havia nem sequer ficado envergonhado. - Precisamos de vocês aqui em baixo. - Diz e fecha a porta tentando se livrar da situação.

KITSUNE 🎭 - Aki Hayakawa (Chainsaw Man)Onde histórias criam vida. Descubra agora