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                                                                                       Jaqueline

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                                                                                       Jaqueline

Ele estava belíssimo.

Como um verdadeiro rei deve se parecer.

Meu rei, meu irmão, meu sangue, vivo e respirando, curado. Liana o trouxe de volta, e merecia o cargo que Ryzen está prestes a oferecer a ela.

Conselheira particular.

Não posso negar que, um pingo de inveja corre por minhas veias, afinal, esse cargo deveria ser meu. Contudo, meu irmão sabe o que está fazendo, ele está vivo, e isso é tudo o que importa.

As velas distorcem a multidão parada a frente, ansiosos pelo início da cerimônia. Sorrio com a ideia de que, todos se curvarão em breve, para o herdeiro prometido, o herdeiro que a deusa da lua abençoou os governantes mais justos de todos os tempos.

Meu pai, em uma espécie de cadeira com rodas que o permite se locomover, com sua pesada capa azul esparramando-se pelos degraus do altar. A coroa de estrelas e luas brilhando em sua cabeça. Minha mãe, segue de queixo erguido, apesar, de eu saber, o esforço que está fazendo para manter a pose. A rainha Arabella Galanis. Poderosa. Forte. Indestrutível. M.i.n.h.a m.ã.e.

O salão de baile do palácio parece não caber mais ninguém, mas contínua enchendo-se de pessoas, e aos poucos, elas param de chegar. Por não ter mais lugar ou apenas por que todos vieram.

Enrolo uma mecha da minha trança, ansiosa para o soar das batidas. A coroa parece pesar em minha cabeça.

Os instantes parecem não passar até que...

As portas abrem-se, Ryzen caminha lentamente, a cabeça erguida, arrogante. Quase não dá para notar a sombra de tristeza que o envolve. Ele recebeu a notícia de nosso pai ontem, e ainda não esboçou uma reação oficial. Apenas concordou com a coroação e se retirou dos aposentos reais, sem dizer mais nada. Percebi Radeon o acompanhando para fora do quarto, e horas depois, o general voltou um tanto quanto... preocupado.

O herdeiro continua andando imponente, a capa preta me causando arrepios, consigo ouvir as batidas do tambor acompanhando cada passo. Todos em volta curvam-se, sem nem hesitar. Elas sabem que o futuro delas está chegando, e ele não tem medo de deixar claro o quão poderoso é.

Os olhos cinzentos de Ryzen estão frios, sérios. Nunca o vi assim, não tenho certeza do que significa. As medalhas brilham em seu peito, e a cada passo, mais perto, meus pelos erguem-se mais.

Quando por fim, meu irmão chega ao seu destino. Ele ajoelha-se-, uma onda de silêncio percorre todo salão.

Um criado aproxima meu pai de seu filho, minha mãe continua parada, como uma figura poderosa ao lado.

— Pela deusa da lua, pelas estrelas a cima, por todo o nosso reino que caiu e ressurgiu das cinzas, morreu e renasceu, lutou e doou por tempos melhores, terminamos mais uma história, terminamos mais uma era, mais um legado. E com isso, um novo nascerá. — as palavras do rei saem fracas, e com um sobro do meu poder, levo ela aos ouvidos de todos, para que até a mosca no fundo do salão, consiga ouvir — Eu, rei Heibdwn Galanis, comecei meu legado a duzentas e quarenta luas atrás, e hoje ele ganha um fim.

A sacerdotisa, Serafinn, aparece por fim atrás de todos. Calmamente, ela posiciona-se ao lado esquerdo do rei, sua expressão está neutra, não revelando nada como sempre, esse é um dom que poucos tem. O rei ajoelha-se perante o filho, cede um breve olhar para a água sagrada que Serafinn carrega com tanto pesar.

Reis anteriores já relataram que, a dor de encostar os lábios naquele líquido, é quase impossível de suportar, chamam de a passagem. A passagem de milhares de legados, milhares de histórias , conhecimentos que ninguém deveria obter. Porém, a espécie de magia, que abençoa a água, foi cedida pela própria deusa lunar. Ela garantiu que todos saberíamos do passado, para não errarmos no futuro.

A lembrança da dor faz meu pai estremecer, ele vira-se para Ryzen, e sorri levemente. Você consegue. È o que parece sussurrar.

Serafinn leva a água aos lábios carnudos e rosados do herdeiro, que bebe apenas o necessário, sem medo, sem hesitar. Todos percebemos quando a dor o atinge, pois seu corpo arqueia para trás, um rugido sai estremecendo o salão. Tenho certeza que não fui a única a arrepiar inteira. Quase desvio o olhar dos olhos cinzas se revirando, do suor escorrendo de sua testa, da dor avassaladora corrompendo seus ossos. Sua sterrenbeeld brilha mais-que-tudo o que já vi.

E então, tão rápida como veio, a dor some. Deixando Ryzen ofegante e exaurido. Contenho o impulso de correr e o abraçar. De proteger. Meu pai segura seus ombros e sorri confiante.

Assim, os tambores recomeçam a música, e a sacerdotisa aproxima-se mais um pouco, retirando a coroa que brilha como nunca dos cabelos de meu velho pai.

— Ao novo legado — ela declara alto e forte, para que todos ouçam, sem eu precisar tocar em meu poder.

O salão repete e repete as palavras, com meu peito inflando de orgulho, junto-me a eles, minha mãe, apesar da dor, reúne força o bastante para o fazê-lo também.

A promessa do futuro. De tempos melhores. O brilho na escuridão. O farol que continuará guiando todos pela fome, morte e corrupção até a terra prometida. O herdeiro da noite, e de todas as estrelas que pontilham o céu, o grande e poderoso rei, que pessoas comentarão em futuras conversas em volta de lareiras. O homem que faz de tudo por seu povo, que morreria e mataria qualquer um, para salvar cada cabeça que pertença ao seu reino. O sussurro da deusa lunar, a promessa de que tudo vai melhorar. Um ponto final para o passado, um recomeço para o presente e uma esperança para o futuro.

Ryzen recebe a coroa de cabeça erguida, sem dúvida de que merece aquela aclamação. E, com toda a sua grandeza, coloca-se de pé, e vira-se, para seu povo, sua responsabilidade, para seus súditos.

— Vida longa ao rei! — Radeon, o general parado perto do altar, grita mais alto que todos.

— Vida longa ao rei! — Analitya Scalzus, a nova tenente, acompanha o urro, com um sorriso largo de orgulho.

— Vida longa ao rei! — surpreendo-me ao ver Azura, parada bem no fundo do salão, quase irreconhecível, se juntar a farra.

As aclamações, mudam para um grito de guerra, um chamado, uma coisa insana e totalmente hipnotizante. Ao soar de uma batida do tambor, todos se ajoelham simultaneamente, um a um. Levando as cabeças aos pés e sorrisos gratos nos rostos. Por respeito e um orgulho maior que meu poder, prostro meus joelhos no chão, e entrego minha lealdade ao meu rei.

Mas, os olhos de Ryzen não param — apesar do sorriso — de varrer a multidão... Em busca incansavelmente de algo, alguém.

Quem o rei Ryzen procura, não veio à coroação.

Reino dos Eclipses vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora