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                                                                                  Jaqueline

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                                                                                  Jaqueline

Sua pele está pálida e fria, mas ainda respira.

Entrando no aposento real, o mais belo quarto já visto em Anara, sigo para a cama de meu pai. O rei.

Ele acorda de um sono leve ao escutar passos e sorri ao me ver, um sorriso cansado e aliviado. Mantenho a cabeça erguida ao aproximar-me, sem querer pensar no tempo que ainda temos.

— Jaqueline, a flor do reino, a minha filhinha — a voz, antes cheia de vida e alta, agora rouca, sendo forçada a sair.

Seus olhos, pretos, antes iluminados, agora estão ... Opacos. Como se a vida estivesse de fato sendo sugada para fora.

— Você está bem? — ouso perguntar.

Ele sorri tensamente.

—Sem dor, se é o que pergunta — estica o pescoço aliviando alguma tensão — Mas triste por deixar as pessoas que mais amo nesse mundo.

Bate na cama para eu deitar-me ao seu lado, e sem hesitar aproximo-me lentamente. Seus braços continuam fortes e aconchegantes, como eu me lembrava.

Ficamos em silêncio por tempo demais, apenas escutando a respiração um do outro.

— Como vamos seguir sem você? — pergunto para o nada, a voz ainda firme.

Ele suspira, e encara a janela aberta, uma leve brisa entra.

— Apesar de tanto horrores, a natureza ainda segue seu curso, apesar de tudo, ela segue em frente. Vai doer, mas um dia, quando estiver pronta, vai se levantar e começar de novo — sua voz é um suspiro na escuridão, a ausência do caos.

— Não serei uma boa princesa sem você por perto, pai...

Ele ri, ri tanto que coloca o braço sobre a barriga, ele geme com a dor que o atinge. Quando se recupera, consegue me olhar e dizer:

— Você vai ser maravilhosa, minha querida. — os olhos pretos encaram os meus, e de repente um pouco do brilho retorna para eles — Você é forte, fria, poderosa, e mesmo assim, tem compaixão o suficiente dentro de si, para governar o mundo inteiro sem ajuda. Mas... Receber ajuda é bom, se permita ter pessoas que se importam ao seu lado, e tudo ficará bem — não respondo nada, ele suspira demoradamente.

''... Quando você era bebê, pequenininha do tamanho de uma bonequinha, chorou a noite inteira. Não deixava seu irmão dormir, pelas Luas — ele gargalha com a lembrança e meus olhos enchem-se de água — Sua mãe estava tão cansada que nem conseguia levantar, então eu entrei no quarto, e te contei uma história, e caramba, você apenas berrou mais. Admito que foi uma história péssima, então... — eu rio com a ideia —... eu cantei uma música, mesmo não tendo a melhor voz. Depois você só dormia com aquela música, toda noite precisava da minha voz cantando para você... — faz uma longa pausa — Um dia, você parou de precisar, e começou a dormir sozinha, estava pronta para seguir sem mim... — absorvo as palavras, acho que entendo aonde ele quer chegar. — ... Você não precisa mais de mim agora, querida. Não precisa há um bom tempo. Está pronta para seguir sozinha de novo. ''

As lagrimas escorrem pelo meu rosto e mancham a túnica de meu pai. Ele abre um sorriso para mim, sincero e relaxado. Como vou sentir sua falta...

— Canta para mim? — reúno forças para dizer — Uma última vez?

O sorriso se alarga.

— È claro — diz simplesmente. E faz uns sons estranhos preparando a voz — Dorme, dorme, bebezinho, a lua vem te acompanhar, as estrelas dão soninho e o sonhos vão chegar. Dorme, dorme, meu amor, sempre vou te amar, nada nesse mundo vai te machucar. Sempre que precisar, olhe para as estrelas e a resposta virá, se seu coração pronto deixar. — a cantiga se repete por longos minutos, e quando ele termina, ainda estou chorando.

— Eu te amo pai.

— Eu te amo, querida.

Deixo que o sono me pegue. Tudo pode dar errado amanhã, mas hoje... Hoje me agarrarei a cada pedacinho que ainda tenho dele.  

Reino dos Eclipses vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora