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                                                                                         Jaqueline

A festa começou a umas horas e explode cada vez mais de alegria. Todos querem cumprimentar o novo rei e saudar o velho. Meu pai e minha mãe estão sentados sozinhos no canto do salão, bebendo e sorrindo apaixonadamente um para o outro. Eu os invejo mais-que-tudo.

Porque, apenas quero algo assim.

Alguém para que eu possa voltar, alguém que eu possa beijar, contar meu dia, e após cinquenta anos, ainda nos olharmos como jovens apaixonados. Meus pais escolhem-se diariamente, independente de tudo e todos. O casamento é uma construção continua de aprender a amar.

Minha mãe gargalha com algo que meu pai cochicha, depois, o jeito que se olham...

Minha atenção é levada ao outro lado, para um jovem de cabelos negros e olhos azuis, a única pessoa que já amei. Então, uma jovem, de cabelos brancos e olhos azuis, o agarra por trás e ele a toma em um beijo leve. Eu deveria sentir raiva, em vez disso, felicidade se aglomera em meu coração. Não é fácil senti-la ou aceitá-la, contudo, quando se ama alguém... È isso que se sente.

Caminho entre as pessoas histéricas e bêbadas, entre nobres dançando com suas esposas, ou as traindo. Passo por Fael se descabelando pela bagunça que a festa se tornou, e depois sou pega de surpresa com a conselheira Manjab beijando intensamente sua namorada ruiva. Sorrio ao pensar na felicidade de ambas.

Estou quase entretida demais para sentir uma mão agarrando-me. Quase. Desvio com habilidade, e encaro o abusado.

— Seus reflexos estão bons — comenta Analitya com o sorriso perverso.

— Esperava o contrário ?

— Não, é claro que não — o general acrescenta aproximando-se de nós, a voz soando alta por cima da música.

Reviro os olhos.

— Não poderia deixar duas damas conversarem? — Analitya comenta.

—E vocês são damas aonde? — lanço um olhar de desgosto para ele, que devolve com uma piscadela. — Por favor, senhoritas, digam-me, o que esperam de nosso novo rei?

— Ele vai se sair bem — a nova tenente comenta, com o olhar dançando até Ryzen, sentado no trono e flertando com algumas damas — Apesar de não parecer precisamente bem, agora.

— Uma pessoa, que ele queria que estivesse aqui, não apareceu — provoco — Acho que vou estripá-la mais tarde, por deixar Ryzen triste no dia de sua coroação.

Radeon ri com ironia, meu olhar o percorre de cima a baixo, procurando a graça.

— Você diz Liana? Não, eles são apenas amigos.

Analitya gargalha alto o bastante para que todos ouvissem se a música não estivesse ainda mais estrondante.

— Pelo amor das luas, Radeon, desencana homem. — ela coloca suas mãos perfeitas em seus ombros. — Aqueles dois, estão caidinhos um pelo outro há algum tempo, todos sabem, pensei que soubesse também.

O general fica tão tenso que seus ossos quase despedaçam, ele trinca seu maxilar, e por um segundo, acho que seus dentes vão quebrar. Quando por fim, depois de um longo suspiro, diz:

— E posso saber, como sabe disso, Analitya?

Mas é eu quem respondo:

— Porque ele é meu irmão, e não o vejo agindo daquele jeito desde a morte de Ametista.

Analitya gargalha de novo, e comenta por fim:

— Um é pouco, dois é bom, três é de mais — ela balança a cabeça — Os dois parecem fazerem bem um ao outro.

Radeon encara Ryzen, como o sorriso malicioso do rei não sobe aos olhos, a forma como ele se esforça para parecer sedutor e entretido, quando na verdade...

O general sorri tristemente, concordando com a cabeça. Não é um babaca, nunca brigaria com Ryzen por uma garota, eles se amam demais para isso.

Um criado passa ao nosso lado com uma bandeja cheia dos melhores espumantes do reino, vindos diretamente da capital de Canopus, Adhara. Radeon pega três com agilidade impressionante e nos entrega em uma proposta silenciosa.

Analitya estreita os olhos e pega sua taça, faço o mesmo, e antes de tomar um gole, verifico o cheiro... Apenas por precaução.

— Desafio você, para um treino intensivo amanhã, princesa. — provoca. — Já que ainda tem sangue nas unhas.

— Desafio aceito, general — sussurro de volta.

A tenente olha de mim para ele e levanta a palma da mão livre, balançando a cabeça.

— Isso vai acabar mal... — sorri — E é por isso que vou estar lá para assistir.

Todos rimos e tomamos em conjunto um grande gole de bebida.

Lanço um último olhar para Ryzen, que ainda passeia as mãos pelo corpo das jovens. Meu coração se entristece. Não há nada que eu possa fazer para ajudá-lo.

Reino dos Eclipses vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora