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                                                                                              Liana

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                                                                                              Liana

Ela está morta.

Serafinn, está morta.

Recostada nas grades geladas, vendo o metal começar a enferrujar, não me permito pensar em como tudo saiu do controle. Mas mesmo assim, apesar de meu esforço, a memória continua a surgir, de novo e de novo. Acho que os deuses estão se divertindo ao me torturar — ao ver-me definhar conforme as memórias não cessam.

O olhar chocado e arrasado de Ryzen arranca-me o sono.

O ódio que vi de relance no rosto de Radeon arranca-me a fome.

Àsdis, ver minha irmã, ver as sombras em seus olhos pelo o que deve ter passado. Vê-la mancando a dar passos em minha direção. Não que ela realmente se importasse...

Meu pai está morto. Enterrado em uma vala qualquer pela traição de sua amante. Sole.

Nunca fui idiota suficiente ou cega o suficiente para não ver as indiretas que Sole mandava a ele — Ou a mim.

Minha vó esta morta, e com ela o último resquício de família que eu poderia ter. Ela se sacrificou por mim. Pulou na frente da flecha, sem pensar duas vezes.

Ela está morta.

Tic. Tic. Tic.

O barulho das unhas de Clove batendo nas barras de sua cela, mais uma vez, ressoa. Engulo em seco. Já fazem mais de 24 horas que estamos soterrados nessa prisão. Vigiados por guardas exageradamente armados. Vamos ser enviados para outra cela logo, em outro reino. No fundo, sei por que Ryzen não quer cuidar de nós pessoalmente, — porque é um covarde. Um covarde que não aguentaria condenar-me a morte. Então, mandou seus novos aliados misteriosos resolverem isso. Lavou as mãos, mesmo sabendo que terá que conviver a vida inteira com sua decisão.

Passo as mãos pelo rosto e uma dor dispara no pulso. Finalmente encaro as algemas — uma viga com espinhos cheios de uma substância que corta meus poderes, ou deixa-me tão fraca, que sequer posso acessá-los.

Depois que tira, ainda demora um tempo para passar. Mas passa. A voz feminina ressoa em minha mente. Lanço um olhar de aviso para Clove.

Já mandei não entrar na minha cabeça — penso.

—Sim, e mantive-me bem longe de seus pensamentos, Alteza — responde conseguindo sorrir para mim — Mas as coisas se complicaram desde então.

È eu sei bem disso — desvio o olhar para a parede. — Esses dois meses foram um desperdício de tempo.

Não sinto sua voz em minha cabeça por uns segundos.

Eu não acho isso. Talvez... — pausa. —Talvez tudo tenha uma razão.

Que razão? —sai mais grosseiro do que eu queria.

Liana, olhe para mim — diz severamente — Olhe para mim, sua teimosa de merda.

Por fim, a encaro — seu rosto está com cortes feios, cheio de sangue e sujo além da imaginação. Mas, seus olhos, seguem com... Uma força inabalável.

Você está com raiva, e ódio, e principalmente em luto. Mas não se perca por conta disso, o caminho de volta é longo e muito mais dolorido, do que qualquer um deveria experimentar — um brilho perpassa seus olhos esmeralda — Grite se precisar, chore, fique calada. Mas volte a lutar.

Posso saber como sabe de tudo isso? — indago cautelosamente.

Ela encolhe-se parecendo medir qual é resposta menos ignorante a se dar. Seu olhar recai em Wick cochilando há uma cela de distância.

Cresci em um orfanato...

Uma pausa, então:

Quando eu tinha 3 anos, meus pais me abandonaram em um orfanato, localizado o mais distante possível da sociedade — ela engole em seco — Mais tarde, descobri que eles foram enforcados por serem pegos roubando. Quando completei 16, logo depois da prova solar, tracei um plano para fora daquele lugar. Esperei as madames dormirem, e na calada da noite, pulei o portão principal — Clove abre um sorriso triste com a lembrança — Sinceramente, logo aprendi a me virar muito bem. Eu era a melhor ladra da província. Então... — sua voz, em minha cabeça, adquire um tom baixo, como um sussurro — Fui pega em flagrante e levada para ser julgada no... castelo. O rei sabia de meus antecedentes criminais, e apenas não me declarou pena de morte, porque tinha algo em mente...

A missão. Essa missão. Ela não precisou falar para que eu entendesse.

Minha habilidade era forte o bastante para ele me comprar rapidamente. Prometendo dinheiro, proteção, treinamento e claro, gloria e fama. O que uma adolescente, sem nada a perder, poderia querer mais? — completa. — Aqui estou eu. Longos anos depois. Minha raiva me consumiu por muito tempo... Abandono não é nada fácil, para ninguém. Porém, teve pessoas, como Connor — reconheço o nome de um lugar, embaçado nas lembranças. Connor é o senhor ilusionista, que nos ajudou a entrar. Ele ajudou-me de certa forma também. "Não tema quem você é. Vai precisar deles lá dentro". Lembro vagamente de suas palavras — Que me ajudaram a passar por isso, você também tem, Liana.

— Eu sinto muito por tudo isso, Clove.

Ela sorri tristemente para mim.

—Eu também sinto Liana. Contudo, vamos dar um jeito.

Reino dos Eclipses vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora