4 - A Cachoeira

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Acordei com Sam me sacudindo, enquanto estava ajoelhado ao meu lado, suas mãos agarravam meus ombros, ele me olhava aflito, quase como se eu tivesse ficado naquela forma por tempo demais. Pisquei os olhos devagar, arrastando meu corpo para frente, Samuel me erguia, com as mãos em minhas costas, me ajudando a ter meu equilibro de volta.

- Você está melhor?
- O que aconteceu?
- Você perdeu a consciência.

Pisquei os olhos outra vez, a sensação agora não era tão dolorosa, longe disso, eu me sentia... Silenciosa, era quase como se eu estivesse com os pensamentos silenciados, o que era bom, já que eu vivi todos esses meses sentindo tanto pânico mental, pensamentos que eram tão mais cruéis do que a forma na qual eu havia sofrido.

Olhei novamente nos olhos de Sam e sorri, para o tranquilizar, agora eu sabia que poderia viver minha vida em paz, só precisava testar se eu realmente estava com os poderes presos naquele bendito anel. Desci o olhar lentamente para minha mão e por automático, o segurei para deslizar, girar entre meu dedo, mas uma fisgada me vez perceber que não, não era possível.

- Ainda dói quando se mexe.
- Não cicatrizou ainda, acho melhor não cutucar enquanto não melhorar.
- Está bem.

Samuel me levantou, me deixando em pé com sua ajuda, mas ele segurou meus braços antes de me soltar, só para conferir que eu tinha adquirido meu equilíbrio de volta. Eu estava bem. Então agora ele realmente me olhou, me viu com sua camisa longa que serviu de vestido para mim. Pude ver, ao menos um vislumbre de meio segundo, cortar seus olhos. Um meio sorriso e um levantar de sobrancelhas, eu sabia que tinha conseguido fisgar ele.

- Está mais relaxada? Posso te relaxar, o que acha?
- Uma massagem?
- Eu não diria isso, mas se quiser, posso providenciar.
- Então o que você diria?

Samuel se calou, olhou nos meus olhos e sorriu envergonhado, então eu percebi, entendi o que ele queria dizer, dessa vez, eu quem senti minhas bochechas queimarem, meus ombros se encolheram com a descoberta de seus pensamentos. Virei de costas para ele e caminhei por aquele cômodo que levava para uma pequena área onde uma rede nos esperava.

A vista era uma floresta tropical, esta que chuviscava, mas estava um clima abafado. Eu podia ver os pássaros cinzas, pareciam andorinhas, mas elas tinham pernas e pescoços maiores. Estavam caminhando pelo gramado e bicando alguns pontos de vez em quando. Fiquei olhando aqueles bichos enquanto me sentava na rede e esperava pela presença quente de Samuel.

- Nunca passamos do limite, e eu não quero tentar enquanto você mesma não permitir a si mesma. Afinal, você é nova e... Passou por muitas coisas, seria mais um item na lista de que uma garota de dezesseis anos não deveria viver.
- Respira, Samuel.

O olhei de lado quando ele se sentou do meu lado e tagarelou, o rosto dele estava avermelhado, quase como se ele estivesse morrendo de vergonha pela nossa conversa, o rumo que ela seguia. Me inclinei em sua direção e me deitei em seu colo. Samuel passou sua perna ao meu lado e deitou também, mas o tronco de seu corpo ficou mais inclinado para cima.

Fechei meus olhos enquanto meu corpo se acomodava nos braços de Samuel, a presença dele me dava uma sensação de realização, eu me sentia aliviada e completamente feliz, ele era tudo para mim e estava sendo cada vez mais, tudo o que eu gosto que seja, eu não crio expectativas com ele, o que acaba sendo muito mais impactante e intenso.

- Eu não ligo para idade, sabe disso.
- Para uma garota de dezesseis anos, você não liga para muita coisa.
- Eu me recupero emocionalmente sempre que ultrapasso meu limite como criança.
- Hm. Então se considera criança?
- Você é uma criança, apenas um pouco mais... Madura, fisicamente. Mas eu tenho mais maturidade, pode crer.
- Lembre-se que eu gosto de competir e eu mesmo crio minhas regras.

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora