15 - Uma Mudança De Rumo

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- Sou Garrett.

Fiquei calada, não ousei dizer nada, eu não conseguia confiar naquele garoto, mesmo depois de ter me salvado duas vezes. De levar uma advertência do diretor em meu segundo dia de aula e de morrer pela asma. Desviei o olhar para longe, enquanto apertava minha mochila contra meu peito, eu não iria voltar mais para a aula, estava esgotada demais com o que vivenciei, eu ainda me sentia tonta pela falta de ar. Fiquei parada justamente para que o esforço físico não derrube minha pressão, mesmo que fosse algum movimento leve.

- Olha, eu não consigo entender o por que você está brava comigo, acho que já deu para perceber que eu não quero seu mal e que eu gosto de voc
- Gosta mesmo? Então por que você falou de mim para Nathaly? Se ela não soubesse quem eu sou, não iria se lembrar do meu passado e nem iria encher a porra do meu saco.
- Espera, você acha que eu sou amigo dela? Eu nem converso com ela. E sobre seu passado, ele passou na televisão, não há uma pessoa nessa cidade que não sabe quem é você e de verdade? Eu acho que depois do que você disse hoje, ela não vai mais encher o seu saco, ou o de sua amiga.
- Espero que ela não enche mais o saco de ninguém.
- Depois da humilhação que você fez com ela, duvido muito mesmo.

Sorri de lado, definitivamente ele estava certo, e o que eu mais achava interessante era o fato de ele respeitar meu espaço, era uma única coisa que me fazia acreditar que ele poderia não ser tão igual como os outros. Ainda assim, eu não iria me abrir completamente para ele, ninguém era cem por cento confiável. Coloquei a mochila em minhas costas e me levantei devagar, me segurando no tronco da árvore. Percebi que Garrett ficou me olhando, de cima a baixo, prestando atenção em meus movimentos, sorri uma última vez, dessa vez envergonhada por senti-lo me encarando.

Do outro lado do Campus, Esther me esperava encostada no portal, de cabeça baixa, envergonhada ainda por toda a bagunça que fora causada. Deixei o garoto sozinho e decidi seguir meu caminho até minha amiga, quando me aproximei dela, pensei que ela estivesse limpando uma lágrima, mas então ela sorriu e estendeu sua mão em minha direção, não pensei nem duas vezes em segurar seus dedos.

- Me desculpe, eu sei que ficar quieta numa situação como essa é a melhor a se fazer, mas eu não podia deixar que ela ficasse sempre te humilhando sobre uma questão pessoal.
- Ei, sua cabeça dura. Está tudo bem, eu adorei o que você fez, ninguém nunca me defendeu dessa forma.
- É o certo a se fazer.

Entrelacei meus dedos aos dela e seguimos juntas pelo pátio, mas Esther ficou na escola, enquanto eu decidi ir embora, para espairecer a cabeça, depois quando você tem uma crise de asma, o medo de ter novamente é grande o suficiente para causar uma ansiedade e eu merecia um bom descanso depois dessa gritaria que tirou minha paciência dos eixos.

Alguns dias se passaram, a escola ficou mais suportável sem aquela maltrapilha para nos encher o saco, ela só andava com seu grupo, mas ficavam isoladas no campus, o quê diminuiu o índice de estresse de todo o colégio. Quando eu parava para pensar nisso, sempre caía na risada, pois eu tinha conseguido reverter essa situação apenas falando coisas nas quais para mim era tão óbvio de se notar.

Eu me cadastrei na aula de natação e naquele momento, estava treinando um mergulho profundo com movimentos de ondulação do quadril. Era mais difícil do que eu imaginava, mas tão útil quanto qualquer outro, a única questão que ainda me incomodava era a resistência na respiração. Quando minha garganta começou a queimar pela falta da circulação de ar, impulsionei meu corpo para cima, a quebra da água para a superfície me fez soltar o ar pela boca com força, segui nadando de braçada até a beirada da piscina, na intenção de poder descansar a respiração.

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora