33 - Três É Melhor

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- Devíamos ter feito alguma coisa. Devíamos ter feito alguma coisa! - Encostei minha cabeça no barril, enquanto minhas mãos seguravam meu cabelo, encaixando os dedos na raiz e puxando alguns fios, meus olhos estavam pesados, doloridos e ardiam, mas nenhuma lágrima saíam deles, como se meu coração já estivesse calejado de tanto sofrimento, eram tantas pessoas morrendo, todas destinadas a ter apenas um final desde que se tornaram cobaias, a única forma de salvar cada uma delas seria sugar seus poderes, como fiz com Ruby, assim eles seguiriam com suas vidas como se aquele instituto nunca fez parte de sua existência, um momento no qual seria considerado um surto coletivo, um pesadelo que finalmente acabou.

- Como? Eu e você não temos como combater todos esses homens armados, só eu sei usar arma e estamos sem poderes. - Não havia outro motivo além deste, mas ainda assim era tão vergonhoso ver como estávamos inúteis naquele momento, mantive naquela posição, pensando se valeria a pena me levantar e ir embora para casa como se nunca viemos ali naquela caverna, os túneis nos quais guardam segredos obscuros, cobaias e mortes. - Sinto muito, eu sei que ela era sua amiga e...

- Ela era sua amiga também, Ruby. Sinto muito a você também. - A interrompi, afinal eu não poderia deixar que ela agisse como se eu fosse a única pela qual poderia sentir pena, me era estranho pensar que eu deveria ser vista como coitadinha, sendo que muitos morriam por minha causa, como sempre. - O que ela quis dizer com espião? Ela iria te dedurar? - Abri meus olhos apenas para poder visualizar aquela areia abaixo de meus pés, esbranquiçada com um cheiro de fermento e bicarbonato, tinta lixada da parede, mas era apenas a rocha da caverna cujo eles soldaram para ter aquele formato de uma sala. Ruby suspirou fundo, esperando aqueles homens armados sair daquele lugar para que possamos fugir da caverna, mas estávamos entorpecidas ao ver uma amiga morrer de uma forma tão dolorosa, lenta e repudiosa.

- Não, você não ouviu ela? É como se esse espião estivesse fazendo um trabalho sujo, não é por conta própria como eu sou. - O peso em minha cabeça me fez esticar o pescoço, a olhei de lado, me sentindo uma falsa por estar escondendo aquele fato, de que Warren estava usando minha cabeça, não apenas por informações como para se vingar, por ter matado seu ex-pai. Ou talvez por ser sua maior diversão, torturar e brincar com a mente das pessoas. Ainda assim, não consegui me sentir culpada, já que Warren usava minha mente e tinha controle de sua parte, havia coisas cujo eu não conseguia fazer, falar ou sentir, como ir visitar Esther, falar sobre ele, ter controle de minha mente e sentir saudades de Sam. Eu me sentia até um pouco cansada, de não poder ser eu mesma, de não sentir dor emocional, ou até mesmo de chorar, ele poderia estar tentando me manter segura, mas daquela forma estava errado, eu tinha de aprender a controlar minhas emoções, sozinha, não com a ajuda de alguém. Se é que eu poderia chamar aquilo de ajuda, uma tortura psicológica. - Temos que ir, não sabemos quando eles vão reaparecer. - Nem mesmo percebi que os homens haviam saído, não quando minha mente estava girando naqueles pensamentos sobre Warren, a ruiva se levantou e passou suas mãos em sua calça, limpando qualquer vestígio de poeira que havia sujado o tecido.

- E o corpo dela? - Me levantei, um tanto devagar, já que eu havia ficado muito tempo agachada sobre meus tornozelos, a dor em meus joelhos e panturrilhas poderia me causar cãibras. Olhei de lado para a garota, que balançou a cabeça negativamente e arrastou seus pés pelo piso, indo em direção ao caminho pelo qual passamos para entrar naqueles túneis, mas meu olhar sobre a ruiva apenas começou a irradiar raiva, formando uma linha fina com as sobrancelhas, em um longo passo a alcancei, rondando meus dedos em volta do pulso da garota, a puxando em minha direção, para que me olhasse e ouvisse o que estava entalado em minha garganta.- Ruby, chega disso. Você me arrasta até aqui, apenas pra saber a localização e como sou totalmente fraca pra enfrentar cada um deles? Temos que fazer alguma coisa, nem que seja enterrar o corpo dela, é nossa amiga e merece ao menos ter seu corpo enterrado por mãos seguras. - Ruby me olhou com o cenho franzido, não puxou seu braço de volta ou fez careta, era como se nem mesmo estivesse me escutando, então ergueu sua mão com o dedo indicador levantado, para que eu calasse a boca, meu coração acelerou de imediato, o sangue esquentando, eu poderia dar um soco no lindo rosto dela naquele instante. - Escuta aqui, ruivinha. Ou você me responde e faz o que eu digo, ou eu juro que...

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora