Subi os degraus da calçada de casa, meus dedos tremiam quando apoiei minha mão sobre a maçaneta da porta, pensei por um momento, e se ele não estivesse mais aqui? Eu correria esse risco, não importa o que acontecesse. Girei meu pulso enquanto a maçaneta virava para trás, liberando meu acesso facilmente para entrar em casa, empurrei a porta devagar, sentindo um cheiro de café recém coado.
Caminhei devagar pela entrada da casa, mas fiquei parada entre a cozinha e a sala, pois bem na divisão da escada para ir aos quartos, uma parede fina tinha um quadro com uma foto minha e do meu pai, eu era pequena ainda. Tinha no máximo uns 12 anos? Ele ainda estava ali, a casa ainda era nossa, senti meus batimentos cardíacos acelerados dentro do peito, o silêncio ao meu redor apenas intensificou as batidas de meu coração, como um tambor dentro da cabeça. Certamente meu pai estaria no andar de cima, em seu quarto se arrumando para ir trabalhar, decidi esperar na sala, por sua presença, algo que eu não tinha já fazia longos meses.
Caminhei até a sala, dei a volta no sofá, para poder me sentar, mas não tive coragem, não quando o estofado e o chão estava repleto de folhetos, todos iguais, um cartaz de uma pessoa desaparecida. Me agachei para pegar uma folha, que certamente me fez sentir uma agonia interna, era a minha foto ali naquele papel. Com todos os dados do meu pai para caso me encontrasse, tremi da cabeça aos pés. Para ele eu tinha desaparecido quando sai do instituto com Samuel, o que fazia alguns dias já.
Ele achava quê eu estava em perigo, desaparecida, fora de sua proteção. Depois do quê me aconteceu na ponte da cidade, eu entendo como ele se sentia, era como se ele estivesse desesperado, todos aqueles folhetos não era para deixar pela cidade, não podia ser, eram muitos. Fiquei encarando aquele folheto, com uma certa angústia no peito, pois eu não tive a compaixão de se quer mandar uma mensagem para meu pai, para lhe avisar quê eu estava bem e que estava segura ao lado do meu namorado. Deus, ele nem sabia que Samuel era meu namorado, ou tinha uma breve noção depois de o ver todos os dias no hospital, cuidando de mim?
Eu estava tão agoniada por segurar um folheto que tinha a minha cara como alguém desaparecido, quê nem mesmo ouvi os passos dele atrás de mim, não percebi quando ele me agarrou por trás, fui pega de surpresa, pela sua presença e principalmente por sua atitude. Suas mãos prenderam minhas mãos atrás de minhas costas, enquanto me empurrava em direção a parede, para me deixar presa. Eu poderia facilmente me livrar daquele aperto, se não fosse meu pai ali, assustado com a presença de alguém em sua casa.
— O quê faz aqui? Quem é você?
— Sou eu...
— Como entrou em minha casa? Quer me roubar? Vou chamar a polícia mocinha!
— Pai, sou eu!Eu estava sendo interrompida por suas palavras assombrosas, além de sua voz estar alta demais, meus braços estavam doendo naquela posição. Então não me importei de gritar de volta, não me importei de dizer em alto bom som quem era eu, tinha de fazer isso. Quando ele enfim entendeu o quê eu queria dizer, ouviu minha voz com sua consciência, senti o aperto em minhas mãos ficar um pouco mais fraco, percebi que ele me reconheceu.
Ao me soltar, virei em sua direção sentindo meus olhos começar a marejar, em minha frente estava meu pai, o homem cujo me criou desde meus dez anos quando perdi minha mãe. Apenas olhei em seus olhos por poucos segundos, até ele erguer seus dedos e tocar meu rosto, tentando sentir minha pele, pisquei, deixando as lágrimas rolar pelo meu rosto, nem mesmo esperei ele sentir minhas lágrimas tocar na ponta de seus dedos, apenas me joguei contra seu peitoral, deixando meu rosto preso ao seu calor enquanto minha pele se molhava a cada lufada de ar que saía de meus lábios.
Senti meu pai me abraçar, apertando meu corpo enquanto acariciava minha cabeça, senti seu coração batendo forte dentro do peito, como se estivesse assustado no fim das contas, por me ver ou pela situação em que me viu. Daniel me afastou com as mãos em meus ombros, para depois segurar meu rosto molhado e olhar em meus olhos, cada um deles com desespero enquanto tentava verificar se eu estava machucada, enquanto ele me olhava de cima a baixo, mantive a postura, tentando controlar a respiração.
— Onde você esteve esse tempo todo, Olívia?
— Pai, eu estou bem, fiquei segura enquanto estive fora, está bem?
— Para mim, a única visão de segurança para mim é você estar em casa, debaixo do meu teto, comendo proteína e carboidratos. Dormindo na sua cama que eu arrumei todos os dias na esperança de você voltar.Ouvir o desespero nas palavras dele quebrou meu coração, ele provavelmente achava que eu estava magra, para dizer sobre uma alimentação mais saudável. E realmente, enquanto eu estava aqui em casa com ele, ele sempre me manteve segura, me cuidando como se fosse uma boneca, só não era presente em questão do que eu sentia, mas era um pai maravilhoso. Não tinha como ser perfeito em tudo. Como minha mãe, era perfeita comigo, mas estava trabalhando para um maníaco e se apaixonou por outro alguém ainda pior, e morreu. Ela só não era perfeito por esses três fatos.
— Pai, eu... Preciso pedir um favor, por mais idiota que seja agora, eu preciso, com urgência.
— Diga, eu faço o quê for, inclusive... Eu acabei de coar o café, você vai querer?Meu pai soltou meu rosto e seguiu até a cozinha para pegar duas xícaras, não neguei, eu estava com fome depois de andar tanto, mas o quê eu fosse pedir, com certeza iria paralisar meu pai, pois ele estava animado com a minha presença.
— Preciso ir a delegacia para informar um desaparecimento.
— Sim, claro. Preciso avisar a eles que não é mais necessário procurar por você. Estou tão feliz que esteja aqui, minha querida.Daniel repousou as duas xícaras com café na mesa, ergueu uma espátula com manteiga para passar no bolo, o que me apertou o coração, ele deveria ter sofrido tanto com a minha ausência, ter desaparecido para ir até o instituto, mesmo avisando, ele ficou sem a minha presença, depois toda aquela confusão na escola, meu acidente na ponte e agora quando fugi com Sam para a cabana dos avós dele. Foi muito tempo para ele, sem mim. Engoli em seco enquanto me aproximava da mesa, mas não me sentei, ao contrário de meu pai, que ergueu a xícara até os lábios, os olhos olhando para mim com um brilho no olhar tão lindo de se ver. Uma dor instalou em meu peito, eu tinha duas pessoas no mundo que amava, meu pai e Samuel.
— Não é sobre mim, pai. É o... Sam.
— Ah sim, o Samuel. Como ele está? Falando nisso, eu gostei muito daquele rapaz, parece ser um bom rapaz e com certeza te amava, minha filha, a forma como ele te tratava e te olhava no hospital...Não podia falar agora, não quando ele estava tão bem, decidi apenas me sentar junto à mesa junto com ele, peguei a xícara de café e beberiquei devagar enquanto ouvia meu pai contar, cada detalhe da conversa que teve com Sam. Definitivamente ele estava muito feliz com a minha escolha para amar um homem, eu era feliz por isso também, mas falar desse assunto quando Sam estava em perigo, me cortava o coração.
Passou-se algumas horas para quê ele terminasse de falar tudo quê lhe aconteceu em todo esse tempo em que estive fora, o ajudei a preparar o almoço enquanto escutava ele todo feliz contando para mim, mesmo quê o assunto não era sempre tão contagiante. Era bom vê-lo sorrindo daquele jeito. Encolhi meus ombros algumas vezes quando ele citava sobre Samuel.
Meu coração estava dilacerado, pois eu queria lhe dar um espaço para desabafar tudo o que queria, com sua filha. Mas no fundo, eu quase não estava prestando tanta atenção, pois minha mente estava voltada para Sam, que estava na cidade, então não estaria no instituto. No fim do almoço, meu pai e eu nos sentamos no sofá e ele começou a falar dos seus planos para se mudar de cidade, ir para Carolina, uma outra cidade logo ao lado, maior e mais bonita, com certeza tinha mais possibilidades de emprego para ele. Porém não me animei, deixar tudo da minha vida para trás não era algo que eu iria conseguir aguentar tão fácil.
Decidi interromper meu pai e o informar sobre o desaparecimento de Sam, o que me custou um pouco de gaguejo e tremedeira, mas enquanto eu falava, Daniel prestou atenção em minhas palavras e era até como se ele estivesse tenso por mim, pois seu corpo não se mexia enquanto eu falava, mas seus olhos estavam estreitos e sério.
— Então, por favor. Pai, eu preciso encontrar ele, eu só... Você sabe o quanto eu sofri com tudo o quê eu perdi, não posso perdê-lo também.
Eu sabia que iria conseguir convencer meu pai, mas não por que eu estava implorando, mas por que ele sabia como era doloroso perder quem amava, ele me olhou nos olhos por longos segundos enquanto raciocinava tudo o que eu falava. Então ele apoiou sua mão sobre a minha e sorriu, fora mais um sorriso para tentar me consolar de tudo o que eu passei. Eu soube que tinha conseguido o que eu queria, quando ele assentiu com a cabeça e me ergueu ainda segurando minha mão, para quê pudéssemos nos arrumar para ir até a delegacia.
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Poderes De Outra Dimensão - 2ª Temporada
Ficção CientíficaSegundo livro da obra Poderes De Outra Dimensão. 2ª Temporada. A Ilusão De Uma Mente Roubada. Olívia quase morrera na tempestade, mas Sam fora seu anjo da guarda, a salvou antes de sua última batida do coração. Ele a prometeu que ela teria uma vida...