41 - Jogo Baixo

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- Você me chamou? Estou aqui. - O som daquela voz despertou em mim lembranças rudes, cruéis, uma dor arriscando minha respiração, rasgando meu peito e triturando meu coração. Me fazendo perceber que no fundo, os dias eram nublados, sem emoção e sem alegria, conforme pouco a pouco a distância e o mistério do que aconteceu com ele me deixou sem a ardência dos sentimentos, pensando que poderia tudo ser a culpa do manipulador de minha mente, do controlador que fazia de tudo pra me destruir, mas estar sem ele, era o que estava arrancando as cores de minha vida, com tanta firmeza que doía na alma. E ali eu percebi, que havia passado mais um dia sem ouvir a voz dele, mais um dia sem sentir o cheiro dele, mais um dia sem o gosto do beijo doce que ele me dava toda vez que nossos olhos se encontravam. Mais um dia sem ele, mais um dia que inexisto. Porém por mais que meu coração implore por ao menos ouvir a voz dele, a razão sabe que ele fez o certo pra todo mundo e não vai voltar atrás, a distância poderia salvar a nós dois, que sempre estávamos na mira, no alvo perigoso, e um dos dois poderiam acabar mortos, apenas por estarem juntos, mas me deixando sozinha, deixando ele mesmo só, por uma causa desconhecida, doía. Medo da solidão? Não tenho mais. Não quero que ele se machuque e talvez eu tenha um monstro aqui dentro, a voz dele me acalma, mas toda essa ansiedade e insegurança me mata aos poucos.

Virei meu corpo devagar, escutando repetidas vezes o som daquela voz grave arrepiar o lado esquerdo de meu corpo, conforme meus pés se moviam e eu podia ver a silhueta masculina alta atrás de mim, uma pancada batia com dor em meu peito. Era ele. Vestindo apenas preto social, o tecido colado no corpo musculoso, os ombros mais largos do que eu me lembrava. O cabelo longo e hidratado caindo sobre o rosto, os braços cruzados e gentilmente mostrando os músculos tonificados e brutos, a tatuagem da cobra rondando seu braço, mais uma vez criando vida própria.

Meus olhos arderam quando identifiquei aquele rosto, que parecia ter ficado censurado em minha mente, pelos dias que não o vi, minha respiração saiu falhada de meus lábios, conforme tentava falar alguma coisa. Era Samuel. Tão lindo, tão másculo, tão protetor, sensual e confiante. Ali na minha frente, depois de tanto tempo, desejando e esperando que ele surgisse como mágica na minha frente e me livrar da culpa e do medo constante de descobrir que ele foi assassinado ou que perdeu a vida ao salvar alguém.

- Sam... - Meu corpo teve um espasmo, um choque em minhas costas, que me fez dar dois passos para trás, meus passos quebrando mais folhas secas. Meus olhos não se desgrudavam aos de Samuel, que me olhava como um gato, o sorriso felino e misterioso disfarçado no olhar, analisando minha postura corporal, conforme eu tentava me recompor, de vê-lo na minha frente, depois de tanto procurá-lo. Então me veio um clarão em minha mente, do que ele havia dito antes que eu me virasse para olhá-lo. Imediatamente senti meu rosto esquentar, os olhos arder e a boca secar, uma sensação angustiante de que eu não poderia mais confiar em nada em ninguém. - Não pode ser você?!

Meus passos me fizeram caminhar para trás, minha garganta se fechou e pesou uma dor em minha cabeça, as peças começaram a se encaixar como linhas na agulha, dificilmente querendo se adaptar nas mentiras e mistérios que pouco pouco iam tomando forma e me dando um gosto de sangue na boca.

- Ah, não. Não pense dessa forma. Vim pra te dar um choque de realidade. — Sam caminhou até a mim, as mãos erguidas, gesticulando seu desespero em perceber que minha imaginação corria solta, seus dedos alcançaram meu rosto com uma facilidade que me fez duvidar até mesmo de minha capacidade de correr, algo que meu corpo poderia fazer, eu não era sedentária.

- Você vai me matar? — Perguntei em um sussurro, sentindo uma angústia dominar meu estômago, o arrepio tomou forma em cada lugar que os dedos dele apoiava em meu rosto, meus olhos ardiam ao olhar pra ele, perceber que Warren estava ficando cada vez melhor em formar alucinações em minha mente, me fazer ver o que ele queria, mas naquele instante, minha mente estava mais leve. Por que ele não me fazia enxergar a alucinação completa, ele realmente estava ali, mas agora ele apenas cobria sua real identidade com minha memória de Sam. Uma tortura. Maldito.

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora