28 - Um Sonho Ruim

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Sentada no alto da escada, com o roupão de banho cobrindo meu corpo, apenas meus joelhos e mãos ralados, meu rosto sujo de terra e lágrimas, fiquei quieta, tentando não escutar a voz de Warren. O maior problema não era nem mesmo reconhecer a voz, já que em minha mente, a voz sussurrada parecia a minha própria, mais grave e rude, como se eu estivesse com ódio encarnado. Balançando meu corpo pra frente e para trás, levemente como se meu coração estivesse batendo com força, me obrigando a movimentar meus ombros, batucando o tecido grosso do roupão de banho, tentei entrar em devaneio para que minha mente não me torturasse em espera de Garrett.

Por um momento, o cheiro do sangue me fez querer vomitar, mas mantive a postura, fingindo que era apenas ilusão de minha mente, eu não queria chorar, não queria pensar na dor. Perder mais uma pessoa deveria ser apenas uma ilusão, tinha de ser, Warren usava minha mente como brincadeira, ele nunca fazia algo verdadeiro contra mim. Até que meu corpo se levantou assustado, quando a porta da frente se abriu e revelou uma silhueta masculina, meu sangue gelou ao ver Garrett passando pela entrada e vindo em minha direção, pulando os degraus de dois em dois, como se estivesse desesperado, pensei que meus joelhos iriam falhar comigo e eu fosse cair a qualquer momento, mas me segurei no corrimão e esperei que ele se aproximasse para me acolher.

- Garrett! - Apenas quando ele esteve a altura de meu corpo, pude me lançar contra seus braços, encolhendo meus ombros e afundando minha cabeça em seu peitoral, senti meu corpo entorpecido, duro como se tivesse de fato paralisado, isso até sentir as mãos dele alisar minhas costas, um movimento repetitivo que esquentou meu corpo, respirei fundo e deixei a tensão em meus ombros suavizar, podendo ter a sensação de que estivesse segura ali nos braços dele.

- Onde ele está? - Garrett perguntou, tentando soar frio com suas palavras, para que eu não sentisse a emoção em seu tom de voz e começasse a chorar, ainda assim minha garganta ficou pesada, embargada demais para conseguir dizer quaisquer palavra, então apenas apontei para o banheiro, minhas mãos tremiam, eu podia sentir minha pele arder ao esticar, eu estava realmente sobre topor. — Fique aqui, você não precisa ver isso de novo.

Apenas assenti em um único movimento de cabeça, Garrett se afastou devagar, mas segurou em minha mão por alguns segundos, lacei meus dedos aos dele, por tempo suficiente para que quando ele estivesse distante demais, eu pudesse sentir o frio que consumiu minha pele, culpa de sua ausência. No momento em que ele se afastou completamente, encostei meu corpo na parede e abracei meu próprio corpo, eu sentia minhas mãos arderem pelo arranhão, já não bastava brincar com minha mente, ele queria que meu corpo também ficasse ferido.

Por um momento pensei que ele estivesse me avisando do que estava acontecendo com meu pai, usando Samuel para pedir que eu fosse para casa o quanto antes, para chegar a tempo de ajudar meu pai, Warren seria atencioso dessa forma? Ele estaria me protegendo de meus sentimentos e dos perigos ao meu redor? Por isso eu não conseguia me expressar com a dor que eu tinha no peito, por isso que eu me afastava das pessoas, para não gerar dor futuramente.

Fiquei tão pensativa com essa possibilidade que quando Garrett parou em minha frente e tocou em meus braços com meus dedos, levei um choque de realidade, pulando meu corpo pela surpresa. O olhei com olhos esbugalhados, mas ele parecia mais assustado que eu, a visão era tão terrível assim? O que eu iria fazer? O xerife iria me julgar como suspeita, como a próxima serial killer, já que todos ao meu redor morriam, seria melhor que Garrett desaparecesse da minha vida, ou ele morreria também.

O garoto ergueu seus dedos de meus braços e os apoiou em meu rosto, alisando minhas bochechas frias, o toque era como pelo de um animal saudável, macio e leve. Fechei meus olhos por alguns segundos, me permitindo sentir aquela emoção, já que Warren logo iria me inibir de ter qualquer sentimento bom, como se eu estivesse sem humanidade de fato. Ao abrir meus olhos, Garrett me olhava como se quisesse desvendar minha mente, curioso e preocupado.

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora