24 - Mente Oscilante

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Aquela descoberta diluiu minha mente em tantos pensamentos, eu não sabia o que opinar sobre o caixão vazio, eu tinha esperanças de encontrá-lo vivo, mas e se eu demorasse demais e não conseguisse chegar a tempo? Samuel era minha vida e eu jamais poderia deixá-lo de lado naquele momento, eu tentaria entender que a jornada dele acabou, mesmo que doesse em mim, eu teria de deixar meu egoísmo perder. Esther ficou ao meu lado o tempo todo no caminho de volta, estávamos sujos de terra até em nossos rostos, como se tivéssemos caído de um penhasco e rolado em um barranco de lama, mas eu não conseguia me incomodar com minha sujeira, apenas pensava no caixão vazio e em como fui enganada todo esse tempo. Era de se esperar que um velório que a família não está presente e nem lhe deixa ver o corpo antes de enterrar, fosse algo forçado e planejado. O xerife era uma farsa.

O sol ainda iria demorar para aparecer, mas eu teria apenas três horas de sono, isso se eu conseguisse fechar meus olhos e descansar. Garrett dirigia rápido, mas seus olhos estavam pesados, era como se ele não conseguisse focar tanto na estrada com o cansaço tomando conta, já Esther, dormia em meu colo, abraçando minha cintura enquanto meus dedos se mexiam automaticamente em seu cabelo, fazendo um cafuné. Olhei para cima, vendo a estrada movendo rápido, aquilo tinha me destruído e eu não sabia se iria conseguir voltar a ser o que era antes, como se fosse fácil, percebi que Garrett me olhava pelo espelho, o vidro parecia embaçado em minha visão sonolenta, mas seus olhos fitavam minha mãe na cabeça de Esther, como se ele estivesse se sentindo atacado com o que via.

Meu corpo teve um espasmo doloroso quando abri meus olhos e percebi que havia dormido, Esther sacudia meus ombros, seu sorriso era tão meigo quando estava com sono, pisquei devagar olhando ao redor, estávamos em frente a casa da garota e a garagem estava fechada, o pai dela tinha chegado, então teríamos de ser rápidos, mas com aquele cansaço, não seria tão fácil. Esther me puxou pelos ombros, para um abraço lateral, mas quando sua cabeça encostou em minha nuca, ouvi suas palavras soar fracas e baixas, apenas para que eu escutasse.

- Fica bem, me mande mensagem para qualquer coisa. - Senti seus lábios estalar um beijo demorado em minha mandíbula, o arrepio que percorreu aquela região me manteve energizada por alguns segundos, ao se afastar, olhei em seus olhos verdes e pude perceber que com ela, eu poderia me manter com esperança e tranquila sobre meus próximos passos. - Temos que conversar depois sobre... Aquilo. - A garota avisou, com um tom de voz baixo, mas suave, ela não se incomodava mais com Garrett, mesmo quando ele estava nos encarando naquele momento, segurei em sua mão, alisando sua pele suja, enquanto a garota saía do carro, senti nossos dedos se afastando, até a porta se fechar e nos separar.

Garrett arqueou suas costas antes de acelerar o carro e dar partida, meus olhos continuaram sobre Esther enquanto saíamos daquela rua, só quando ela entrou em sua casa foi que voltei meu olhar para estrada, ele iria me deixar em minha casa antes de ir para dele, já que teríamos de tomar um banho antes da escola. Percebi que ele me olhava pelo retrovisor, como se estivesse analisando minha expressão, o silêncio no carro me incomodava, mas não tentei forçar uma conversa com ele, não quando minha mente estava dando voltas e voltas na mesma memória do caixão vazio, eu só não podia dizer o mesmo sobre ele.

- É impressão minha ou vocês duas... - Garrett começou a falar, me tirando de meu devaneio, o olhei de lado, vendo a mancha de terra em sua bochecha, era como se ele tivesse esfregado o rosto após sujar os dedos, eu não podia julgá-lo, eu também não estava nada bem.

- É impressão. - Virei meu olhar para a janela ao meu lado, vendo as árvores correndo para trás, a noite estava se transformando em uma madrugada quase de manhã, se ele demorasse para me levar para casa, eu não teria nem como me deitar.

- Você não se sente mal em estar criando algo com essa garota, quando no fundo você ama Samuel? Ele pode estar em perigo, e não imagino-o tendo algo com alguém que não seja você, pode ser que ele ainda te veja como namorada e você está o traindo. - Deixei que ele falasse até o final, mesmo que na minha mente, tudo não se passava de estupidez, porém em minha consciência, eu sentia o pesar nas palavras dele, eu sabia que estava errando em estar deixando minha amiga pensar que poderia ter algo comigo, e errando com Garrett em deixar que ele pensasse daquela forma, que eu estava me envolvendo com minha única amiga. Eu tinha mais esse problema, além de Samuel e Warren.

Poderes De Outra Dimensão - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora