Poderes De Outra Dimensão - 2ª Temporada

22 - Madrugada Perigosa

Não falei nada, não quando Esther fez tudo por mim, fiquei encarando Garrett, meu corpo travado, gelando minha espinha e me causando náuseas. Esther apontava o dedo na cara do garoto, apontando argumentos válidos, quase usando palavras de baixo calão, eu estava vendo a irritação da garota quase virando agressão física, por conta da audácia que ele teve de vir até sua casa e dizer para desenterrar o caixão, algo ilegal. Nem mesmo pisquei meus olhos, não quando minha mente me levava para o momento futuro, me vendo levantar o caixão ao lado de Garrett e ver o corpo de Samuel começando a se transformar em ossos. 

Meu coração batia tão devagar que era como se eu estivesse calma, mas na verdade estava em um estado de pânico, no qual eu mal podia respirar ou me mexer sem sentir dor, meu peito doía, meus joelhos doíam, eu iria desmoronar a qualquer momento e se eu não saísse dali, iria permitir que eles me vissem em um momento vulnerável de minha parte. Ergui o olhar devagar para o rosto de Garrett, que encarava Esther enquanto ela lhe dizia todas as desvantagens de sua visita e de seu plano impulsivo, o rosto dele estava envolto de uma raiva na qual ele sabia controlar, afinal ele queria ajudar sabendo que não era a melhor opção no momento, não tinha razão.

Foi aí que eu vi algo diferente que a meses eu não via mais, dessa vez senti medo de verdade, quase senti o grito rasgar minha garganta, quando esbravejei um "não" e puxei o garoto para dentro da casa de Esther e fechava a porta com força. Me encostei na porta e fechei os olhos com força, sentindo meu estômago revirar, a sensação de que tudo fosse voltar a acontecer novamente me era apavorante. De repente me lembrei de quando Jason, Lucke e eu nos trancamos em casa, enquanto Neity estava do lado de fora, nos ameaçando com sua voz melodiosa. Eu sabia que os dois estavam me encarando e esperando que eu explicasse o que tinha acontecido para que eu tomasse uma atitude tão agressiva daquele jeito. 

- Garrett, se fizermos isso. Você vai nos deixar em paz? - Independente do que descobrirmos, eu não queria manter aquela amizade, não quando o perigo ainda existia em minha vida. Minha voz soava baixa, depois do pavor que me consumiu, do lado de fora, havia dois pontos de luz, que trazia consigo um tipo de linha que balançava no ar como se estivesse voando, mas não eram linhas quaisquer, era o anzol, não apenas um, mas dois. Eu me lembrava de quando Ruby - que Deus a tenha -  havia me dito que muitas cobaias estavam sendo assassinadas e que poderia ser Warren com seu poder mortal, então de repente quando eu estava vulnerável, sem acesso aos meus poderes, eu vejo o maior sinal de sua existência?

Antes era um anzol tão agressivo que parecia espancar a alma como um açoite, mas agora eram dois, o que me perturbava, o que ele era capaz de fazer naquele momento, quando eu estava fraca e quando nada nem ninguém da minha antiga vida cheia de poderes sobrou, ele poderia me matar a qualquer momento, como uma vingança, ou apenas por ser alguém ruim. O pior, era ter visto, que aqueles dois pontos de luz dos anzóis, rondavam a cabeça de Garrett, como se fosse o fisgá-lo e o matá-lo ali mesmo, abri meus olhos e o encarei, a confusão em seu rosto era evidente, o que me manteve tranquila por pouco tempo, de que na verdade, ele não tinha sido fisgado. Talvez Warren quisesse apenas me assombrar ao tentar ameaçar de morte alguém que eu conhecia, o olhei com cautela, esperando que ele pudesse me responder com palavras verdadeiras e sinceras. 

- Se nós fizermos isso, eu terei uma intimidade com vocês e eu duvido muito que poderei prometer que ficarei longe. - Garrett avisou, mas suas palavras soaram amedrontadas por conta de minha reação, ele olhava ao redor, esperando que aparecesse algum serial killer para comprovar o medo que representei naquele momento. Olhei de lado para Esther, que estava com seus ombros recaídos, como se estivesse decepcionada de vê-lo em sua casa ou de tê-lo interrompido nosso momento único, no qual ela tanto esperou e que eu tanto reprimi. - E então? Vamos fazer isso ou não? - Garrett perguntou olhando entre eu e Esther, mas mantive meu olhar sobre a garota, que franziu o cenho, como se o que estivéssemos prestes a fazer fosse mudar totalmente o que aconteceria em nosso futuro, poderíamos até mesmo ser presos.