Estar ao lado de Esther me deixava tranquila, eu sentia como se eu estivesse finalmente em paz, enquanto fazíamos a lição de casa, tomávamos um suco natural que ela havia feito enquanto eu organizava um espaço para nós duas se sentar ao lado do grande urso. O pai de Esther, não ligava se ela gostava de mulher, mas não gostava que ela trazia alguma para sua casa, por isso ela me mandou subir sem fazer barulho, o suco que ela fez, teve de trazer em uma garrafa para seu pai não desconfiar. O silêncio em seu quarto era um tanto quanto constrangedor, mas eu entendia a estratégia de Esther, se colocarmos uma música para podermos conversar sem precisar diminuir o tom, seu pai poderia entrar em seu quarto a qualquer momento e não iríamos ouvir seus passos como um aviso de sua aproximação.
As horas estavam passando rápido, era como se o dia não gostasse de nos vermos unidas, quase como se estivesse me expulsando de sua casa logo, Esther ofereceu para que eu pudesse dormir em sua casa e ir para o colégio de manhã no dia seguinte, juntas, neguei de primeira, meu pai não iria gostar, e eu não queria causar preocupação nele, depois de tudo o que ele passou, eu iria entender se ele surtasse de paranoias. Esther não ficou chateada, pois entendia o meu lado, na verdade até sorriu, dizendo estar feliz por mim, ter encontrado meu pai e ser tão unida com ele, como nunca fui antes. O que a perda gera nas pessoas, é um milagre de uma mudança agressiva.
Quando cheguei em casa, meu pai me recebeu com uma torta de frango que ele havia feito para o jantar, fiquei tão feliz que devorei quase metade da vasilha, nos sentamos juntos no sofá e colocamos uma série animada para assistir, tentei seguir a indicação de Esther e como era algo bem sentimental e uma aventura gostosa de assistir, até meu pai se interessou. Eu sabia por que ela havia me recomendado aquela série, era justamente a mesma do pôster em seu quarto, pude notar por conta dos personagens que apareceram, a mocinha de cabelo azul era tão séria e recatada, já a de cabelo rosa, uma garota rebelde com uma marra de líder de um grupo unido.
Peguei no sono no terceiro episódio, meu pai pausou a reprodução da série e me pegou no colo, me levando até o meu quarto para descansar, meu corpo estava dormindo, mas minha consciência ainda estava acordada, pude perceber as luzes se apagando conforme ele passava pelos cômodos comigo em seus braços. Minha cabeça se acomodou em seu ombro enquanto ele subia as escadas, pude sentir os movimentos sutis de suas pernas se erguendo para o próximo degrau. A porta do meu quarto fez um barulho de uma engenhoca velha, bocejei devagar quando senti meu corpo ser apoiado no colchão, os dedos de meu pai, puxaram o cobertor para cima de meu corpo, e depois passou sobre meu rosto, acariciando minha pele e empurrando uma mecha de meu cabelo para trás da orelha. Um estalar de um beijo em minha testa me deu um despertar leve da consciência, mas eu estava tão sonolenta que nem mesmo consegui abrir meus olhos.
Quando a manhã chegou, fui pega de surpresa por estar em meu quarto, a sensação não durou muito tempo, pois uma lembrança da noite passada alcançou minha mente, me espreguicei e segui ao banheiro para fazer minhas higienes. Me arrumei com uma roupa mais quente, a manhã sempre era tão fria que me incomodava os ossos, penteei o cabelo em um coque alto, deixei os fios cair como cascatas para trás, fiz um baby hair e passei um delineado para me dar um olhar mais desperto. Peguei minha mochila e desci as escadas, pude ouvir meu pai ao telefone, mas não prestei muita atenção na conversa, apenas peguei um prato e me servi com ovos e bacon para comer com pão picotado, me aproximei de meu pai para me sentar ao seu lado.
Não falamos muita coisa, mas descobri que meu pai havia conseguido mais um serviço, dessa vez seria fora da cidade, o que me disponibilizaria alguns dias sozinha em nossa casa, antes de seguir até o local do trabalho, meu pai me deu uma carona até a escola, agradeci com um abraço e um beijo na bochecha, desci do carro e fizemos nossa despedida de sempre. Suspirei fundo seguindo para o meu segundo dia de aula naquele colégio, lidar com Nathaly novamente me causava um desânimo tão grande, mas aí eu me lembrava do que Esther havia me dito, de que ela tinha inveja de mim, por ser uma pessoa que salvou o mundo de um serial killer, eu poderia ter passado por muitos sofrimentos e dores que quase me levou a morte, mas na visão deles, eu era uma pessoa forte, corajosa e muito esperta, por isso seu mau humor quando estava comigo, eu era mais famosa e querida na escola do que ela tentou o ano todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Poderes De Outra Dimensão - 2ª Temporada
Ciencia FicciónSegundo livro da obra Poderes De Outra Dimensão. 2ª Temporada. A Ilusão De Uma Mente Roubada. Olívia quase morrera na tempestade, mas Sam fora seu anjo da guarda, a salvou antes de sua última batida do coração. Ele a prometeu que ela teria uma vida...