𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐗𝐋𝐈

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O ar seco e frio de Nova York invadiu minhas narinas assim que deixei o aeroporto, e o céu nublado criava uma atmosfera abafada na cidade, anunciando uma chuva que cairia em breve. Graças ao fuso horário, ainda eram três da tarde quando pousei, e agora entrava em um taxi em frente ao aeroporto.

Em sã consciência, eu deveria ir direto para casa tomar um banho e só então ligar para Tomlinson e ver onde deveria o encontrar, mas tinha pressa. Dei o endereço do seu apartamento de luxo ao motorista, que arrancou o carro de forma brusca e seguiu pelas ruas enquanto os primeiros pingos de chuva começavam a cair do céu e atingiam os vidros fechados das janelas e do para-brisas.

Sem pretensão nenhuma, retirei o celular do bolso e chequei a caixa de mensagens de texto, mas não havia nada a não ser uma oferta de promoção da operadora telefônica, então voltei a bloquear a tela e guardar o aparelho.

Nenhuma mensagem dele. Tudo bem, isso também seria explicado em minutos.

O transito naquela hora da tarde era menos que pior do que em outros momentos do dia, e não demorou muito para que o homem encostasse o táxi próximo a calçada em frente a fechada do prédio de Louis. Disse ao taxista que esperasse até que eu voltasse para pegar a bagagem, e mesmo após o contragosto nítido em sua expressão, eu desci do carro, dando passos rápidos e usando o braço dobrado sobre a cabeça para impedir que a chuva atingisse meu rosto, até alcançar o interfone.

Toquei uma vez e esperei pela resposta.

Fora em vão, e agora a chuva parecia aumentar.

Apertei mais uma vez, me demorando um pouco mais e aguardei.

Nada. Ele não atendeu.

Suspirei impaciente e olhei pela calçada, quase vazia, com apenas algumas pessoas correndo com pastas sobre as cabeças ou protegidas por guarda-chuvas.

Entrei no saguão do prédio e me dirigi em direção ao balcão do recepcionista que parecia ter um rosto envelhecido e cansado, escondido atrás de um jornal de dois dias atrás. Assim que me aproximei, a passos firmes, ele pareceu notar e abaixou o papel, levantando os olhos fundos até mim, cheios de tédio.

- Preciso ir até o apartamento de Louis William Tomlinson – Falei num tom seco, um pouco apressado.

- Ele não está, sinto muito – O homem respondeu numa voz cansada e apática, já desviando os olhos para o jornal novamente.

- Como assim? Ele não esteve aqui nas últimas horas? – Perguntei impaciente, ficando um pouco irritado com o fato daquilo não estar sendo como eu imaginava que seria.

- Não, faz dias que ele saiu de carro para viajar – O homem continuou, no mesmo tom de antes, mas agora os olhos eram fixos nas notícias velhas impressas naquele pedaço cinzento de papel.

- Ele deixou algum recado? – Insisti – Para alguém especifico?

- Nenhum recado, senhor – O homem se limitou a responder com pouco caso.

Bufei, batendo o punho fechado sobre o balcão e dando as costas para a cara irritante daquele homem - que não havia dito o que eu esperava que ele dissesse - indo em direção a saída.

Não me importei em tentar evitar a que chuva, agora ainda mais forte, caísse sobre mim enquanto dava passos pesados para dentro do taxi e o passava o novo endereço para qual deveria seguir. Meu apartamento.

Passei a mão sobre o cabelo molhado, o tirando da testa e jogando para trás, enquanto as luzes das calçadas eram acessas mais cedo por conta da tempestade que formara uma camada escura de nuvens sobre o céu.

Louis não estava em Nova York como eu pensei. Ele não tinha voltado e muito menos estava à minha espera aqui. Ele não me disse onde estava. Ele não me disse nada.

Merda!

Filho da puta!

Era o que ele era, um grande, enorme, filho da puta, babaca, cuzão do caralho.

Porra!

Minha mente gritava tantos palavrões e ofensas a Louis Tomlinson naquele momento que eu sequer conseguia raciocinar outras hipóteses, ou acontecimentos, apesar de ter total ciência que haveria outra explicação plausível para isso.

Pensei no mais óbvio que era de se fazer naquele momento: ligar pra Horan. Ele descobriria o paradeiro de Louis em minutos e me retornaria com a resposta.

Mas que se foda, não iria suportar as piadas de mal gosto dele naquele momento, muito menos iria correndo até Louis implorando para que ele me deixasse fazer parte de – seja lá qual for o plano – junto a ele.

Não. Eu iria para casa.

**

Assim que pisei dentro do meu apartamento, que estava exatamente como eu havia deixado há dias atrás, quando fui para Los Angeles com Tomlinson, deixei as malas em um canto próximas ao sofá e fui direto para um banho.

Eu não me sentia sujo fisicamente, mas eu sentia que precisava fazer qualquer coisa que conseguisse abaixar pelo menos um pouco minha irritação.

O banho quente quase ajudou, mas ainda assim, eu não me contentava com o que tinha. As informações daquele bilhete não eram suficientes e eu não fazia ideia de onde Louis estava naquele momento.

Me sentei no sofá da sala depois do banho, usando apenas calças, sem camisa, mas aquecido graças ao aquecedor instalado no apartamento. Apoiei os braços sobre minhas coxas abertas, com o corpo inclinado para frente e ali estava eu. Me perguntando onde será que o filho da puta estava.

Exatamente como eu estava há tempos atrás, quando o plano ainda era encontra-lo, e mata-lo.

O quão irônico poderia ser eu agora estar me fazendo a mesma pergunta porque queria encontra-lo, para mantê-lo vivo?

Não me dei conta exatamente quando isso aconteceu, mas havia uma garrafa de whisky em minhas mãos agora, e eu virava o gargalo na boca para tomar goles longos.

Normalmente eu tentaria escapar dos pensamentos que me levavam até ele, e me faziam querer entender o porquê de agir de tal forma quando se tratava dele. Mas que escolha eu tinha agora? Era como se tivesse pegado uma estrada escura e não conseguisse ver o caminho de volta, podendo apenas seguir em frente, e no final dela, encontraria o caminho certo.

Como eu já tinha concluído, ele era meu novo vicio. Tanto quanto o álcool, meu corpo precisava de Tomlinson para se manter funcionando. Era literalmente como se eu respirasse não o oxigênio, mas sim o seu cheiro especifico, como se não fosse preciso agua e comida para sobreviver, mas sim ter o som da sua voz ecoando em meus ouvidos. Meu corpo era 70 por cento constituído por extrema e intensa necessidade a ele.

Porra.

Tudo isso era uma droga, sentir isso era uma droga. Pensar na nossa conversa no avião e depois no momento que tivemos na jacuzi, causava uma sensação estranha na boca do estômago, mas eu não podia controlar. E era uma droga.

Isso estava fora do meu controle há muito tempo, muito antes que eu percebesse para conseguir escapar.

Eu não sabia exatamente o que isso tudo significava, nem porque diabos eu estava pensando esse tipo de coisa. Mas a cada segundo que eu passava sem saber onde ele estava e, principalmente, não estando com ele, parecia estar mais sufocado.

Era como ficar um dia inteiro sem beber, e ainda nem tinham se passado vinte e quatro horas desde a última vez que o vi e falei com ele.

Talvez eu devesse apenas tentar ligar ou enviar uma mensagem.

Avisando que estava em Nova York, só por isso.

Não. Foda-se.

Não daria esse gostinho de ir correndo atrás dele logo de primeira, já existindo a chance de o recepcionista irritante dizer que estive lá em seu prédio.

Ao invés disso, decidi continuar ali no sofá e beber o resto daquela garrafa que estava pela metade, ou um pouco a mais que isso, não tinha certeza.

Mas também, que diferença faria?

***

𝐓𝐚𝐬𝐭𝐞𝐝 𝐋𝐢𝐤𝐞 𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝 | 𝐥.𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora