Capítulo 3

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O grande homem, lançou um olhar furioso para o jovem ao seu lado, cuja expressão indiferente apenas aumentou sua irritação. Enquanto o jovem, de cabelos loiros bagunçados e olhos azuis celestes hipnotizantes, continuava a ignorar a presença do grandalhão, ingerindo o gin azul e amargante, descendo por sua garganta como uma promessa de alívio.

Atrás do balcão da movimentada taberna, o dono do estabelecimento, um homem experiente e perspicaz, observou atentamente o jovem. Seu olhar carregava uma mistura de curiosidade e apreensão, como se fosse capaz de farejar encrenca mesmo naquela figura aparentemente inofensiva e submissa.

Talvez essa impressão fosse permanecer com ele por eras, como uma marca de nascença. Todos que o viam por fora, idealizavam o gentil e delicado garoto de cachos dourados como um querubim.

O engraçado era que Skye sempre se vira como uma serpente, que encanta a todos que a vêem com sua beleza exótica, mas que ao mero descuido poderia o devorar sem hesitar.

Naquele momento, ele sabia, que todos a sua volta deveriam ter mais cuidado do que nunca com o que ele era.

— Admito ser uma história e tanto. — o homem instigou, fitando Skye com um sorriso agradável.

O grandalhão ao lado gracejou em sarcasmo.

— Uma dádiva me seria dada, se fosse apenas uma história, meu senhor. — sorriu para o homem, que ainda desconfiado, franziu as grossas sobrancelhas castanhas para ele.

— E isso tudo aconteceu mesmo? — a voz indiferente, com um certo sotaque nortenho rouco questionou.

Skye apenas piscou, sentindo um leve zunido nos ouvidos.

— Claro.

— Você está nos dizendo que criaturas do fosso estão o perseguindo? — O dono do bar indagou irônico, o fitando como se esperasse que ele dissesse que era um contador de histórias ambulante.

O jovem Lorioran riu em meio a um soluço bêbado. Tinha perdido a conta de quantas doses de gin azul tinha ingerido. Não fora o suficiente.

Nenhuma grande quantidade seria.

Quando fechava seus olhos, por trás das pálpebras, o cenário de horror que tinha vivido o assombrava. Era como apagar a chama de uma tocha e permitir que uma cruel e vil escuridão se acomodasse.

Naquela manhã quando o grupo se dissipou do acampamento para o povoado de Ilura, Raven tinha os entregado algumas moedas de Elora que tinha restado do seu saco, para que cada um se abastecesse com o que achassem necessário para a viagem para Elrond.

Skye estava se abastecendo de álcool.

O mais amargante e anestésico possível.

— Você não acreditaria quantas daquelas bestas existem. — Ele balbuciou, meio zonzo para o homem.

— Mesmo?

— Uma horda delas. Ensandecidas!

— E elas estão na sua aldeia? — o dono da taberna cerrou o olhar, inspirando fundo como se desejasse identificar a espécie de Skye por seu aroma. — Que lugar seria esse?

O Lorioran se lembrava da discussão dos Fëanor sobre manterem cautela e sigilo sobre suas verdadeiras identidades, ele não era burro ao ponto de sair anunciando para um povo desconhecido; "Olá, sou um Lorioran do místico povo de Wenkael".

Ou do que restara de seu povo.

— De muito longe. — respondera apenas.

— O quão longe criança?

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