Capítulo 29

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Skye girou sua lança, recém ganhada, contra sua mão, pesando seus impulsos, com Gwen observando fascinada o deslumbramento dele.

Eles estavam numa clareira ao sul do chalé, provavelmente sua vó deveria estar preparando o jantar, o sol mal se pusera, mas se ambos inspirassem fundo o suficiente, captariam o cheiro dos temperos e iguarias de Gillyn.

— Ela é fácil de manejar. — Skye exclamou, sorrindo satisfeito com o presente. — E afiada o suficiente para cortes profundos.

Num movimento atroz, ele desferiu um golpe contra o caule de uma árvore, arrancando uma parte do mesmo.

Gwen sorriu, sentada sobre uma rocha a alguns metros.

— Cuidado, Skye.

— Eu não terei quando usar essa belezinha aqui contra ameaças. — ele ciciou, balançando as sobrancelhas. — Ou contra machos idiotas.

— Humpf! — estalou a língua Gwen. — Com certeza não terá. E nem deve. Principalmente se for de um certo guarda, filho de um certo ancião.

Skye se aprumou, desconfiado.

— Não sei do que está falando.

— Claro. — ela riu. — Mas eu acredito que tenha um nome suas escapadas noturnas no ápice da lua?

— Gwen Briffyn, você esteve me espionando?

— Claro que não. Dormimos juntos e você não é tão cauteloso quanto imagina que é, Skye.

Skye apertou a lança, com os nós dos dedos brancos.

— O que quer dizer? Você acha que alguém... — ele piscou aturdido. — Você acha que Gillyn suspeita ou sabe de algo?

Gwen riu para acalmar-lo um pouco.

— Não! Deuses, não.

— Então o quê?

— Eu o vi algumas vezes se esgueirando ao anoitecer e voltava sempre com um cheiro diferente. — Skye congelou boquiaberto, com o sorrisinho de Gwen aumentando. — Um cheiro de um macho.

Nunca vira Skye tão vermelho como estivera naquele momento, ele desatou a correr atrás dela, com Gwen saltando e rindo, se escondendo atrás das árvores, com Skye em seu encalço.

Ele tinha contado sobre ele há muito tempo. Gwen sempre soubera. E sempre o amaria de qualquer jeito. Skye era seu coração fora do peito e não havia nada que pudesse mudar isso.

Mas ver o Lorioran sem jeito não tinha preço.

— Você gosta dele? — ela perguntou, quando Skye parou a sua frente, surpreso pela pergunta.

— Eu... — inspirou devagar. — Eu não sei.

Gwen sabia muito bem quem era o macho. O filho de um dos anciões. Um dos idiotas das tropas. Temia que o imbecil o machucasse no fim, por mais forte que Skye fosse, o coração era a maior fraqueza de alguém.

— Você acha que ele gosta de você?

— Eu não sei. — repetiu, e foi sincero.

Ela suspirou, indo até ele, agarrando sua mão livre e levando uma mão para o lindo rosto, abençoado pelos deuses.

— Não aceite menos do que alguém que demonstre o quanto gosta de você, e o quanto quer estar com você. Se ele não o fizer, não vale a pena Skye. — decretou, com ele assentindo devagar. — E se ele, ou algum cretino um dia o machucar, eu mesma os caçarei e vestirei suas peles.

Mesmo com o riso, os olhos de Skye brilharam como uma estrela cadente, e a lembrança daquela brilho cintilante iluminou os sonhos de Gwen.

Um barulho de pouso a fez despertar, com suas orelhas pontiagudas balançando ao captar o movimento no outro cômodo. Percebeu o peito de Skye subir e descer e de repente parar ao seu lado. Ele também despetara.

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