Capítulo 21

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Liryan se apressou pelo corredor aberto, passando pelos pupilos que caminhavam por ele. Alguns o cumprimentaram, com ele podendo ouvir comentários e sorrisinhos femininos sussurrando; "É o falcão". Ele os ignorou, seguindo adiante.

Se estivesse correto, e ele sempre estava, ao menos na maioria das vezes. O general Tyrion estaria no pavilhão de treinamento com os pupilos mais jovens.

Desde que Liryan era uma criança e entrara para a seleção de pupilos da guarda, único filho de um nobre da corte, sabia que seu tutor e comandante, o general Tyrion Hakon vivia mais naquele ambiente do castelo do que em sua própria residência na cidade de cima, alguns quilômetros do castelo.

O velho comandante das tropas, era rígido e feroz como um animal primitivo, embora o homem fosse um dos machos mais justos e fortes que conhecia.

Liryan não diminuiu o passo pelo castelo, quando algo lhe atraiu a atenção, quase como se ele pressentisse antes de ver, do outro lado do pátio aberto, entre os monumentos que trilhavam um caminho para o templo.

Os cabelos loiros marfim caiam por suas costas, ainda mais amarelos, destacados pela túnica dourada que usava, destacando todas as curvas femininas e graciosas.

Como o sol surgindo por entre nuvens nubladas.

Se viu sorrindo de forma instantânea, como se nem percebesse que o fizera, um espasmo muscular talvez.

No entanto, não poderia atribuir seu próximo ato a um mero espasmo muscular quando desviou de seu caminho, indo na direção da linda fêmea.

Ela estava de costas, fitando o mural na entrada do templo, sozinha, enquanto os pupilos e alguns sacerdotes passavam, a observando curiosos.

Parecia analisar os hieróglifos e runas nas paredes.

Liryan parou, inspirando fundo, quase que se preparando ao perceber que ela ainda não havia notado sua presença antes de ele se aproximar.

— A língua antiga. — murmurou ao se posicionar ao lado dela, notando que não a surpreendeu com sua presença, talvez não tenha sido tão minucioso em sua chegada quanto presumira.

— Imaginei. — respondeu apenas, sem nenhum traço de humor, os olhos topázios rolando pelas figuras negras e fissuradas na parede.

— Nossos ancestrais esculpiram vários por toda a capital. Os sacerdotes dizem que contém nossa história. — Não soube dizer o porquê, mas se viu falando, com uma necessidade de dialogar com ela.

Na verdade, ele tinha passado horas desejando isso depois da lição de mais cedo, agora que estava diante dela, não sabia o que fazer. Então colocaria qualquer coisa para fora como desculpa.

Se sentiu um tolo. Talvez fosse.

E quase perdeu o ar, quando ela se virou para ele, aqueles olhos dourados o fitando como se o atravessasem. Como se fossem o reflexo do sol, o queimando com sua gloriosidade.

Deuses. Ele jurava por sua vida como ela era a criatura mais linda que já conhecera. Aquela beleza celestial e selvagem de fazer qualquer um perder a noção do tempo.

— Você consegue ler?

Liryan piscou atônito, ouvindo.

— O quê?

— Os hieróglifos arcaicos. Você consegue lê?

Negou em um aceno rápido até demais.

— Não. — o tom soou rouco, com ele pigarreando sem jeito para limpar a voz rouca. — Na verdade ninguém consegue. Nem mesmo o alto sarcedote.

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