Capítulo 2

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O piar de uma coruja reverberou através do ar, ecoando em suaves ondas que se estendiam por todo o ambiente, como uma sutil dança de poeira ao vento. O som, melancólico e enigmático, envolveu-se nas copas das árvores, serpenteando pelos galhos. Ele parecia buscar os cantos mais distantes do local, como se fosse um chamado misterioso, atraindo atenção para os cantos mais distantes do bosque.

Enquanto a sinfonia noturna da coruja ecoava, a lua brilhava imponente no céu estrelado, sua luz prateada banhando a clareira onde o grupo se reunia. Com um olhar vigilante e penetrante, a lua parecia ser a guardiã silenciosa deles, lançando sua luminosidade suave sobre as figuras que se acomodavam em meio às sombras do bosque.

A garota tinha permanecido alto consciente de todos, tinha notado quando o garoto de cabelos dourados, que estivera em seu posto de vigia, acabou cedendo ao cansaço e ao sono, sem esperar por mais um som vindo da coruja em algum lugar, ela se ergueu tão silenciosa quanto o pousar de uma pena no chão.

O grupo permaceu silencioso. O justo oposto dela, que continuava a manter a singela calmaria que forçava para fora, quando internamente ardia em uma onda que ameaçava a cada segundo vazar por ela.

Gwen não hesitou quando caminhou por entre o acampamento, desviando de pés e braços estendidos sobre a grama. Apenas um bufo sonolento atraiu sua atenção, quando Thorion bocejou alto, se revirando.

Dando um último olhar para os seis acomodados no centro. Visivelmente exaustos e abatidos da longa jornada que tiveram.

A coruja mais uma vez piou, fazendo com que a garota levasse seu olhar em sua direção, a esquerda, empilhada no topo de uma árvore, a alguns bons metros de onde Gwen estava.

O pássaro marrom escuro pareceu arregalar os grande olhos ainda mais, quando eles se chocaram com os de Gwen, para em instantes o bater de asas chiar no recinto quando a coruja assustada alçou voo para longe.

Gwen quase rira, de si mesma, é claro. Tinha chegado num estado em que assustava um mero animal apenas com um olhar. Não podia culpar a pobre coruja. Esses olhos. Os seus olhos. Eram assutadores.

Se afastando do grupo, ela caminhou vagamente por entre as árvores, se unindo as sombras da noite, acobertada por elas. Cada árvore alta e frondosa parecia acolhê-la em seu abraço sombrio, ocultando-a dos olhares curiosos das espécies nas sombras.

Inspirando fundo, ela fechou e abriu os punhos, em cada lado, repetindo isso durante o caminho, continuando a se afastar para a penumbra da floresta. Sem medo algum em seu coração. Porque não conseguia mais definir esse sentimento. Não quando uma parte sua, possuía um temor maior do que tudo.

De si mesma. Do que havia se tornado.

Era como se ela estivesse se tornando uma versão desconhecida de si mesma, perdendo-se em um território emocional nebuloso. Um temor latente, oculto nas sombras mais profundas de sua alma, a assombrava constantemente. Ela não conseguia compreender completamente esse sentimento, mas sabia que ele a dominava, eclipsando tudo o mais.

Há uns bons quilômetros do acampamento, ela levou o olhar por sobre o ombro, enxergando a escuridão da floresta de volta. Nenhum sinal de que estava sendo seguida. Apenas a vaga sensação de que havia algo nas sombras, a assistindo, a chamando. Como se não tivesse despertado totalmente do sonho, ou pesadelo, em que estivera.

A frente, estendendo-se diante dela como um abismo obscuro, havia um imenso rio negro. Parecia um portal para o desconhecido, uma vastidão sombria que desafiava qualquer tentativa de compreensão. A superfície dele era tão calma e lisa que refletia perfeitamente o manto de estrelas acima, criando uma ilusão de um céu invertido mergulhado na escuridão líquida.

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