Capítulo 30

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O dia tinha sido uma merda. Mas desde quando tinha tido um bom dia nas últimas semanas?

Westyn se perguntava, se sequer tivera um dia perfeito em sua vida inteira. Talvez os momentos que passara com seus irmãos fosse uma dádiva. Ou as poucas lembranças que tinha do pai.

As mermorias de sua infância eram quase raras, por isso eram tão preciosas a ele. Havia os momentos antes e depois de perder seus pais. E no meio deles, como um catalisador, o vazio que sua vida se tornara por um certo período, rodeado apenas de servos, nobres bajuladores. Sem uma real família. Sem amigos.

Um príncipe em uma corte que não se importava com ele, com pessoas que não o enxergavam de fato, nada além de um garoto que fora filho de um grande principe guerreiro, e uma fêmea que era admirada por todos por suas habilidades e generosidade.

Os momentos que recordava da fêmea que o tinha gerado. Sua mãe. Eram únicos  e calorosos, que as vezes quando se sentia triste, acessava eles com um certo reconforto. Como um remédio para a mais inexplicável das dores, a da saudade.

Conseguia lembrar do sorriso gentil, das histórias e contos antigos sobre Eldar, que lhe contava antes de o colocar para dormir. De como ela, filha de um nobre do conselho real, se apaixonara por seu pai, que era um nobre macho da realeza respeitado no reino, em um dos grandes bailes reais.

De como ela contava que seu pai nunca tinha conhecido alguém como ela, pelas próprias palavras dele, ela dizia. Ou de como as vezes dançavam ao luar juntos. Voando até o alvorecer.

Seus pais. Eles tinham o amado, e Westyn a eles. Pensar neles trazia uma sensação quase entorpecente e relaxante.

Westyn se lembrava de sempre pedir um irmão. Que a vida naquele castelo era solitária demais. Nunca se dera bem com o mimado e irritante príncipe Drake, que sempre o tratara com indiferença.

Seus pais nunca lhe deram um irmão. Talvez se tivessem vivido um pouco mais. Todavia, os deuses o deram.

Tinha perdido seu pai em batalha, na grande guerra, sua mãe se fora logo após, fraca demais pela dor do luto, sucumbira a uma doença. Westyn sabia que se não fosse por Liryan e Thorion, não teria durado muito tempo também. Como se seu tempo de vida estivesse contado, já se esvaindo, e naquela época, Westyn esperava pela contagem final.

Havia um sentido na vida de cada um. No exato momento de seu nascimento, um propósito é traçado em uma linha linear. Durante toda sua infância, Westyn não sabia qual era o seu. E quando perdera seus pais, tinha perdido as esperanças em descobrir seu lugar naquele mundo.

Nunca tinha se visto como parte da realeza, ou mesmo, herdando o trono num futuro longilíneo.

Se a guarda real, e seus irmãos, não tivessem lhe dado um grande objetivo em sua vida. Um propósito real e uma verdadeira vontade de viver. Sabia que não teria mais sentido para estar nesse mundo.

Para de fato viver.

Há muito tempo, seu pai tinha lhe dito, que um dia encontraria companheiros e entenderia o quão real valeria a pena lutar pela vida, principalmente pela dos outros.

E por mais que sua vida estivesse sendo um saco nos últimos tempos. Sempre se lembrava que tinha um motivo para viver.

Se viu lembrando disso quando pensou em Gwen e Skye, a forma como eles despertaram o poder naquele pavilhão, dispostos a proteger um ao outro contra o general.

Tinham perdido tudo. Mas ainda assim, tinham um ao outro.

Westyn sabia que cada vez mais se via apegado a aqueles dois. O que era um erro colossal. Mas inevitável.

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