CECÍLIA WALKER

28°

Já haviam se passado bons minutos de festa e nenhuma pessoa chamou a minha atenção. Se o líder dos Dark Skulls estiver mesmo aqui, está bem camuflado.

— Vou andar um pouco, pode ficar tranquila.— Nayla concordou, mas continuou me seguindo com o olhar, enquanto eu caminhava pelo salão.

Resolvo ir até o bar, como estou na visão de Nayla, sento-me em um dos bancos. Observo as bebidas atrás do balcão e sinalizo para o garçom que quero um uísque.

Meu corpo se arrepia, mas de forma ruim. Olho para lado e observo ele caminhar em minha direção, seu sorriso continua o mesmo, presunçoso e maligno. Seus cabelos estavam maiores e presos em um coque, o terno caro que estava usando mostra que continua ganhando  dinheiro.

E deve ser da pior forma possível...

— Cecília...— Meu nome saindo de sua boca me deu vontade de vomitar.

É impossível expressar com palavras o grau do meu ódio por este homem. Richard foi o cara que fudeu com a minha vida e foi em ambos os sentidos da expressão.

— Você continua linda.— Sua mão se estende, para acariciar meu rosto e eu a seguro com força, antes que termine seu movimento.

— Não encoste em mim.— Minha expressão continua a mesma. A minha vontade era de mata-lo, aqui e agora.

Infelizmente, tenho que continuar encarando esse homem, sem poder fazer absolutamente nada.

— Você gostava antes do meu carinho.— Seu sorriso presunçoso surge.

— Fique longe de mim.— Passo por ele de maneira rápida.

Não posso agir por impulso e preciso manter  as aparências e não estragar tudo. Faço a minha melhor expressão de abalada e começo a passar entre as pessoas.

Sinto meu braço ser segurado, me viro rapidamente para a pessoa e encaro os olhos azuis claro de um homem. Seus cabelos são uma mistura de branco com castanho.

— Está tudo bem?— Ele me olha de cima a baixo com uma expressão preocupada.

— Sim. Quem é você?— Ele solta meu braço e me viro completamente em sua direção.

— Bonito vestido. Você ficou linda nele.— Me elogia. Ele sorri olhando para o vestido e pareceu lembrar de algo.

— Obrigada. Licença.— Viro-me e continuo a caminhar em direção de Nayla que estava em alerta.

Me aproximo dela e toco seu ombro, para mantê-la tranquila.

— Você sabe quem é aquele homem que falou comigo?— Pergunto para ela que nega.

— Eu preciso saber quem é ele. Peça para Elizabeth verificar isso agora, por favor.— Nayla assente e se afasta de mim. Continuo na mesma posição observando o homem caminhar pelo salão e conversar com algumas pessoas.

Em alguns momentos, ele me encara. Seu rosto me recorda alguém, mas não me lembro quem, e isso me deixa angustiada.

Sinto meu coração começam a acelerar. Nayla volta e me informa que avisou Elizabeth sobre o homem. Sento-me e encaro um ponto fixo, minha mente roda e flash de acontecimentos passados tomam conta da minha mente.

Coloco minha mãos na cabeça, em busca que fazer com que aquelas lembranças dolorosas parassem de aparecer. Parece que estou vivendo aquele looping doloroso novamente.

— Merda... Para com isso, Cecília.— Sussurro para mim mesmo, em uma tentativa falha de me manter calma.

Sinto braços me rodeando, mas continuo de olhos fechados.

— Fica calma, nós vamos sair daqui.— Ouço uma voz conhecida. Abro meus olhos e encaro o rosto preocupado de Elizabeth.— Seus batimentos estão muito acelerados, vamos embora.

Não questiono, apenas sigo Liz para a saída. Elizabeth pede para que eu a espere trazer o carro. Fico no mesmo local que ela havia me orientado.

Meu corpo se arrepia, eu sei que ele está aqui. O cheiro forte dele adentra em minhas narinas.

— Você precisa cuidar da sua mente, Cecília. Sabe como é maluca, precisa se cuidar.— Sua voz me dá repulsa.

Eu não posso me deixar levar...

— Eu queria voltar no tempo e fazer dez vezes pior. Era para você ter sofrido mais.— Richard falo tudo sem chegar perto de mim. Eu nem o vejo.— Você merecia muito mais, Cecília. Eu deveria ter se ensinado mais, você continua a mesma coisa: fraca e indefesa. Até quando vai precisar das pessoas para te proteger?— Ele ri sem humor.

Sinto meu sangue fervendo em minha veia.

— Você não terá escolta o tempo todo e quando se descuidar, eu estarei lá. Você vai voltar pra mim, Cecília. Querendo ou não.

Ouço o som dos seus sapatos batendo no chão, se afastando. Respiro fundo e tento regular minha respiração, para que assim, meu coração possa desacelerar.

Depois de todos esses anos, eu lutei para sobreviver e não depender de ninguém, me tornei uma pessoa totalmente diferente de quem eu costumava ser.

Cheguei a um ponto que não me reconhecia, não queria admitir, mas por causa dele, eu mudei a mim mesma em tantos níveis, mesmo jurando que  não seria mais influenciada por ele.

De tudo o que fiz para chegar até aqui, só tenho um arrependimento:

Não ter matado Richard quando eu tive oportunidade...

Ele conseguiu me controlar naquela época, entrou na minha cabeça, assim como tentou fazer agora. Eu me sentia dependente dele, e tudo o que ele falava, era verdade pra mim. Se ele me dizia que eu não sabia fazer nada, eu não sabia fazer nada.

Richard arruinou a minha vida e não deixarei que ele faça isso novamente, nem que eu precise dizimar todos os integrantes da Dark Skulls que o ajude. Não vou permitir que ele torne a vida de outras garotas um inferno, como fez comigo.

O carro de Elizabeth para em minha frente. Liz me encara preocupada, minha expressão não deve ser das melhores no momento. Adentro ao carro e Liz dar partida de forma rápida.

— Cecília, o seu coração estava muito acelerado e por pouco você não teve uma arritmia cardíaca.— Me alerta. Suspiro cansada.

— Desculpe por ter lhe preocupado, Liz.— Isso não deveria ter acontecido.

— Não quero que se desculpe, quero que se cuide, Cecília.— Ela me encara rapidamente, voltando sua atenção a estrada. — O que aconteceu lá?

— Dei de cara com o meu passado.— Passo minhas mãos em meu rosto.— Eu nem sempre fui a Cecília que sou agora, Liz.

Nossa menina só sofre, meu Deus...

Nos próximos capítulos iremos conhecer um pouco mais sobre o passado de nossa protagonista.

Adianto que não é fácil e terá muitos gatilhos.