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⚠️Este capítulo contem gatilhos referente a violação corporal e agressão.

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O pior sentimento, para mim, é a incapacidade. Saber que as pessoas podem sofrer por minha culpa, me machuca de maneira inimaginável.

Eu havia aceitado o acordo com o meu pai, vetando a minha capacidade de ser feliz totalmente. Entretanto, mesmo assinando aquele maldito papel, eu sinto que ele não será comprido pela outra parte.

Para que eu pudesse assinar, pedi para adicionassem uma cláusula especial:

Clara e Cecília não poderiam sofrer absolutamente nada.

Meu único objetivo agora é manter as duas salvas, para que não precisem lidar com as minhas merdas.

Victória é uma mulher repugnante, suas ações são claramente de uma pessoa que não se importa com nada, nem ninguém. Ela sempre busca testar a minha paciência, o objetivo dela é me levar ao limite e, quando não consegue, entra em colapso.

Fiz questão de por na cláusula que não haverá toques íntimos, meu corpo pertence a uma mulher que nem ao menos sabe que ele é todo dela.

— Chegamos.— Aviso a Victória, que estava sentada no banco traseiro do meu carro. Ela não olha em meu rosto, apenas sai do carro, batendo a porta com força.

Suspiro cansado.

Volto a dirigir, seguindo para minha casa. O nome de Gray aparece na tela e atendo a chamada.

Já está arrependido?— Pergunta de maneira debochar. Não precisei contar a Nicole, para que a mesma descobrisse de toda o acordo sozinha.

Sempre estive.— Digo cansado.

O que você está esperando?

Como assim?— Pergunto confuso.

Você realmente não pensa em explicar para ela?— Nicole está começando a ficar brava.

Como vou explicar para ela, que para mantê-la a salvo, junto com a minha irmã, eu precisei assinar um acordo que me manda ficar longe dela?— Pergunto  e ouço um suspiro cansado do outro lado da linha.

Se você quer ser egoísta você mesmo, tudo bem, afinal, a vida é sua. Agora, querer ser egoísta com ela, eu não concordo. Você passou noites com ela, mostrando que gosta dela e, do dia pra noite, anuncia um noivado e convida ela para ser madrinha? Sério que você não acha que ela precisa de satisfação?— O questionamento de Nicole me deixou pensativo.

Eu sei que ela está certa, assim como sei que Victória não é idiota e no meu carro, possui uma escuta.

Você sabe que não mudo de opinião, mesmo você escancarado as coisas na minha cara.— Minto descaradamente, para que ela possa entender.— O que eu e a Cecília tínhamos, acabou, Nicole.

Desligo a chamada e continuo indo em direção a minha casa. Não duvido que a minha localização esteja, também, comprometida, por isso, vou precisar da ajuda do meu quase cunhado.

O portão da garagem se abre e agradeço aos céus por Enzo ainda estar aqui. Estaciono o carro e sigo em direção a porta de casa.

A sala está vazia, mostrando que ambos não está aqui. Olho para o sofá e observo a chave do carro de Enzo, que estava ali. Caminho pelo corredor e começo a ouvir sons, que eu conheço muito bem.

Dou risada e sigo pra sala novamente. Pego um papel e caneta, para que eu possa escrever uma carta, avisando do motivo do meu suposto roubo de veículo.

Saio de casa apressadamente. O carro de Enzo é todo fumê e não me surpreenderia se virasse o Optimus Prime, com tanta tecnologia e botões nele.

Em alguns minutos, estou parado em frente ao apartamento de Cecília. Tento convencer o porteiro a me deixar entrar sem avisá-la, mas ele não deu o  braço a torcer.

Mas, para minha surpresa, Cecília havia aprovado a minha entrada. Agradeço o porteiro e sigo para o elevador que, em pouco tempo, me deixa no andar da morena.

Bato na porta de sua casa e ela é aberta por uma Cecília com os cabelos presos e um conjunto moletom, bem maior que o seu corpo, arrisco a dizer que essa roupa é de seu irmão, Henrique.

— O que você quer aqui?— Pergunta. Ela não mostra estar na defensiva.

— Conversar com você. Eu preciso te explicar algumas coisas.— Revelo.

A mulher de olhos azuis— quase brancos— em minha frente, me dá passagem.

Adentro em seu apartamento e caminho em direção a sala, sento-me no sofá e espero ela fazer o mesmo. Cecília se senta ao meu lado, preparada para me ouvir.

— Desde muito novo, eu recebi responsabilidades que não eram minhas. Precisei lidar com muita coisa, ainda com pouca idade, com um único objetivo: manter a minha irmã segura. Após a morte da mãe de Clara, meu instinto protetor se aflorou ainda mais, porquê além dela ter pedido a mãe, nosso pai se mostrou ser ainda mais repugnante. Roberto sempre teve um objetivo em sua vida: o Poder. Quando ele montou a gangue, tudo piorou, a vida de Clara estava um verdadeiro inferno...

— Eu quero que você me conte o que você passou, Michael.— Pede. Falar dos meus traumas não é fácil para mim, mas com ela, parece que todo o peso que carrego em minhas costas se esvaem e eu posso ser eu mesmo.

— Quando ele montou a gangue, me fazia presenciar e vivenciar os piores cenários que uma pessoa pode imaginar. Eu perdi a minha virgindade a força e com pessoas me observando. Precisei assistir mulheres sendo torturadas, porquê não podiam pagar suas dívida e, eu não poderia fazer nada para impedir. Saber que tudo aquilo estava acontecendo na minha frente e não conseguir  fazer nada, era pior do que ser agredido todas as noites, como ele sempre fazia. Quando eu finalmente tive a oportunidade de tirar, nem que fosse uma parte do poder que ele tinha, eu fiz. Eu mudei a gangue para proteger aqueles que precisavam, sem ao menos pensar o que isso me custaria no futuro.— Posso sentir as lágrimas saindo dos meus olhos. As mãos macias de Cecília tocam as minhas.

— Ele ficaria fora de circulação e deixaria a gangue e Clara em paz, se eu seguisse suas exigências. Mas, mesmo depois de anos fazendo o que ele queria, não foi o bastante. Depois que um grande mafioso chegou, ele mudou, estava com medo de algo acontecer com ele. O acordo foi desfeito e, para que Roberto continuasse ganhando e fazendo da minha vida um inferno, ele apareceu com um novo, onde eu deveria me casar com uma mulher, para que pudéssemos estreitar nosso laços com outra máfia, a Russa.— Cecília segura minha mão mais forte e se aproxima de mim.— Ele disse que, se eu não me casasse, iria matar, não só Clara, como você também. Não tive como não aceitar, Cecília.— As lágrimas saem ainda mais de meus olhos.

— Eu te amo, Cecília. Não me importo que eu me afaste de você para sempre, se isso lhe deixar segura e bem. Não sei como isso aconteceu, talvez tenha sido cultivado ao longo dos anos, quando eu ouvia seu irmão falar sempre de você, e com muitos detalhes, ou quando eu te vi pela primeira vez. A única certeza que eu tenho, é que não medirei esforços para lhe manter segura, independente do que aconteça comigo. — Sinto um peso saindo das minhas costas, os olhos de Cecília estão marejados. Rapidamente sinto seu corpo próximo ao meu, e estamos juntos, em um abraço.

— Eu vou proteger nós dois, e isso, é uma promessa.— Ela sussurra em meu ouvido.

O corpo de Cecília se afasta do meu. Seus olhos estão vermelhos, ela caminha de forma rápida para o quarto e volta pouco tempo depois com uma bolsa grande nas mãos. Cecília não espera o meu questionamento e sai pela porta de sua casa.

— Merda... O que ela vai fazer?— Meu coração acelera e sigo rapidamente em direção a saida também, entretanto, lento de mais para alcança-la. Volto para seu apartamento, na esperança dela volta o mais rápido possível.

CECÍLIA WALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora