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Sinto-me como se a vida estivesse passando, mas eu não consigo me mover

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Sinto-me como se a vida estivesse passando, mas eu não consigo me mover...

Os dias passam-se de forma lenta e dolorosa. Cecília está em coma exatamente há um mês e meio. A única coisa que nos move é a esperança. A esperança de que ela possa acordar e viver ao nosso lado.

Todos estão sofrendo com a situação, até mesmo o seu suposto pai, Benjamin, que voltou sabe-se lá de onde para tentar visitá-la, o que não foi permitido. Pela primeira vez, todos concordaram com a decisão de Marcus.

Marcus também está sofrendo; ele carrega uma culpa maior do que consegue suportar, e vê-la nesse estado só salienta, em sua cabeça, como foi incapaz de salvar sua própria filha. Sim, Marcus Delaney é o pai biológico de Cecília. Ele não entrou em detalhes sobre como descobriu e muitos detalhes da história completa, apenas trouxe essa informação quando discutimos a situação de Benjamin.

Mas a dor em sua voz mostrou toda a culpa e arrependimento que ele carrega. Não posso dizer que Marcus seja um bom homem; afinal, o conceito varia de cada pessoa. A única pessoa que pode julgar sua conduta é a sua própria filha. É apenas ela que importa nessa história.

Nessa reunião que tivemos, eu percebi como Cecília faz falta para todos de uma forma inimaginável, até mesmo para os agentes dela, que não sabem sua atual situação. Enzo está cuidando da máfia Unknown; suas decisões são coerentes e seguem a mesma linha de raciocínio de Cecília. Ela criou um líder e sabe disso.

Henrique está lidando com a situação do jeito dele. Estou evitando deixá-lo sozinho nesse momento. É um momento complicado e incerto; deixar um amigo sozinho para lidar com algo tão grande não faz parte do meu feitio. Por mais que seja difícil, Henrique está seguindo com seus afazeres, cuidando da máfia e auxiliando Enzo no que ele precisasse.

A vida está seguindo para todos, mas é como se não tivesse. Eu sei, é difícil de entender e sentir, é ainda pior.

— Oi, Mich. — Ouço a voz de Clara, adentrando ao quarto. Sorrio levemente para a ruiva.

Minha irmã deita-se ao meu lado e me abraça. Abraço-a de volta e ficamos em silêncio por alguns minutos.

Clara passa a maior parte do seu dia no hospital, ao lado de Cecília. Hoje, Derek dormiria lá. Quando a notícia do coma de Cecília veio, através do médico responsável, eu vi, pela primeira vez, Derek esboçando uma relação. Ele chorou, assim como todos presentes na sala naquele momento.

— Está pensando muito, não acha? — questiona a ruiva.

— Não sei. — Respondo com sinceridade.

— O que você está sentindo agora, Mich?

— Medo.

— Eu sonhei com ela na noite passada. — Revela. — Ela estava bem, mas incompleta. Seu sorriso estava como o de uma pessoa descansada. Cecília passou a mão no meu rosto e sorriu para mim docemente. Quando acordei, não senti a sensação de que foi uma despedida.

Sorrio com seu relato.

— Também sinto que não é, ao mesmo tempo que não posso ignorar o que está acontecendo agora. Eu tenho medo, Clara. Demorei anos para encontrar uma pessoa que eu quisesse compartilhar todos os meus dias, e eu nem pude falar o que sentia para ela. Aconteceu tudo muito rápido; não consegui aproveitar seus beijos, chamá-la para sair, assistir a um filme ou simplesmente ficar abraçado a ela o dia todo. O amor antes para mim era um sentimento embaçado, possuía um significado, mas não um sentimento de fato. É injusto conosco dois, o destino ter tirado todos esses momentos.

Só percebo que estava chorando quando a lágrima escorre até minha boca. Minha irmã me olha com compaixão.

— Não guarde esse sentimento, Mich. Fale para ela. Você guardou tudo por todo esse tempo; tem muita coisa para falar para ela. E não importa se, quando ela acordar, não lembrar do que você falou, porque você poderá falar novamente, quantas vezes quiser.

— Obrigado. — Enxugo as lágrimas e abraço minha irmã. Não sei o que seria de mim sem seu apoio nesse momento.

— Derek vai dormir lá hoje; amanhã eu iria, mas se você quiser, aviso que você dormirá lá, o que acha?

— Gosto da ideia. Vou pensar em como contar para ela tudo o que estou sentindo.

Clara sorri para mim e beija minha testa. Se despede de mim e me deixa sozinho no quarto.

Deito na cama e encaro o teto branco, enquanto me perco em pensamentos novamente.

[...]

— Concordo com a Clara, Mich. Abra-se para ela, quantas vezes for necessário. Na vida que levamos, o amor pode parecer turvo, ou até mesmo inexistente, mas temos exemplos de amor para nos inspirar. Um amor puro e verdadeiro, onde acima de tudo, existe respeito e conhecimento. — Nicole sorri com os olhos, enquanto me aconselha. Vê-la falar assim me deixa feliz.

— Você sabe exatamente o que eu estou sentindo, mas, diferente de mim, você não vai perder o tempo que eu perdi, e fico extremamente feliz por você, Nic. — Ela sorri e me abraça.

— Não podemos nos privar de algo que nos faz bem, por supor um futuro que não fazemos ideia de como será. Precisamos ser felizes e buscar a felicidade, mesmo que tenha milhares de pessoas querendo nos ver mortos. — Solto uma gargalhada, sendo acompanhado por minha melhor amiga.

— Me conte, Nic. Como está você e a Dakota? — Nicole joga a cabeça no sofá e sorri.

— Estamos namorando. — Seu sorriso aumenta. Sorrio para ela.

— Você não faz ideia de como estou feliz por vocês. Meus parabéns. — Me levanto da cadeira e vou em sua direção, a abraçando.

— Eu faço ideia sim, porque fico igualmente feliz por você.

Muitas vezes achamos que o destino escolhe o que acontecerá em nossas vidas e que não temos controle sobre ele, mas ao passar o dia conversando com Clara e Nicole, percebi que é exatamente o contrário.

O destino embaralha as cartas, mas somos nós que as jogamos.

CECÍLIA WALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora