Cinco meses atrás...
Respiro fundo pela décima tentando manter a postura e arrumo o meu óculos de sol no rosto, olho para o lado vendo a minha mãe já segurando em uma das laterais do caixão, olho para trás e vejo o tio Terror e o tio Grego da Rocinha, logo atrás dele o G3 e o meu padrinho, confirmo com a cabeça e seguramos na alça do caixão e o levantamos.
Seguimos em passos lentos até aonde vai ser a cova, os moradores, aliados, amigos e família indo logo atrás da gente cantando um louvor, eu sigo olhando reto e me forçando a não derramar nenhuma lágrima sequer, afinal, eu tenho que ser forte, apesar dessa dor que não sai do meu peito.
Assim que chegamos aonde ele vai ser enterrado colocamos o caixão em cima da corda e ele ficou suspenso apenas pelas cordas, ficamos em volta do caixão e eu abaixo a cabeça pensando em tudo o que está acontecendo.G3: chefe, quer falar alguma coisa?- pergunta me olhando e eu confirmo com a cabeça
Eu: a dor do luto é uma dor escruciante, que nós mata aos poucos, a surpresa do luto correndo em nossas veias, as memórias que passam nas nossas cabeças, o sorriso, a risada, os abraços, as brincadeiras- falo e respiro fundo- hoje nos despedimos de um homem alegre, brincalhão que sempre zelava pelo melhor das pessoas, um dos poucos homens corajosos que aguentou os meus surtos nesses últimos três meses, que segurou a minha mão e me afirmou que tudo daria certo- falo e o Bryan segura a minha mão apertando a mesma- eu não estava pronta para me despedir, achei que tínhamos mais tempo juntos, a minha vida não vai ser mais a mesma sem ele, a minha casa vai ficar vazia sem ele para bagunçar tudo, as nossas vidas vão ficar vazias sem esse homem maluco que alegrava diariamente as nossas vidas- falo e respiro bem fundo- sempre que eu via ele, ele cantava um mesmo ponto, hoje perdemos uma relíquia de nossas vidas, um homem com a força de um urso e um grande amigo e companheiro, essa é para você- falo e respiro fundo apertando bem a mão do meu irmão- adeus camarada adeus, adeus que eu já vou me embora, foi no balanço do mar que eu vim, é no balanço do mar que eu vou embora, quem parte leva a saudade, quem fica soluça e chora, adeus camarada adeus, adeus que eu já vou embora, foi no balanço do mar que eu vim, é no balanço do mar que eu vou embora, quem parte leva a saudade, quem fica soluça e chora- canto com a voz já embargando
Todos: adeus camarada adeus, adeus que eu já vou me embora, foi no balanço do mar que eu vim, é no balanço do mar que eu vou embora, quem parte leva a saudade, quem fica soluça e chora, adeus camarada adeus, adeus que eu já vou embora, foi no balanço do mar que eu vim, é no balanço do mar que eu vou embora, quem parte leva a saudade, quem fica soluça e chora- cantamos em coro e eu me seguro tentando continuar firme.Fecho os olhos e as lembranças vem na minha cabeça como flashs e eu desabo em chorar sentindo o abraço do meu irmão que é a única coisa que me deixa em pé nesse exato momento, observo o caixão descendo aos poucos enquanto me afogo nas minhas próprias lágrimas, quando o caixão chega ao fundo da cova aplaudimos ele.
[...]
Três meses depois...
Cobra: seu pai ficaria orgulhoso de ver que tu tá tomando conta de tudo aqui- fala e eu confirmo com a cabeça olhando para o chão
Eu: eu sei padrinho, eu sei- falo desanimada e pego as minhas coisas e a chave da moto- eu vou lá no Canta Galo ver como o G3 tá indo viu?!- falo e ele confirma com a cabeça.Monto na moto e saio do morro acelerada, vou rumo ao Canta Galo feito um raio, parece até que encarnei o The Flash, Urso estivesse aqui ele ia rachar de rir da minhas cara, disso eu tenho certeza, enfim.
G3: quem é vivo aparece sempre- fala assim que eu paro a moto na frente da principal
Eu: hahaha, engraçadão- falo descendo da moto e tiro o capacete arrumando o meu cabelo- como tá as coisas aqui?- pergunto e o sorriso dele chega some junto com o meu
G3: na mesma né?! Isso aqui não é a mesma coisa sem o Urso não, sei nem como ele conseguia tocar tudo- fala e eu confirmo com a cabeça
Eu: sei bem como é- falo e ele confirma com a cabeça
G3: bora tomar uma- fala e eu deixo o capacete em cima da moto subindo o morro a pé mesmo.Entramos no bar e sentamos em uma mesa pedindo um litro de Brahma com uma porção de amendoim, tudo de bom na minha opinião!
Começamos a conversar sobre assuntos aleatórios e a rir como a muito tempo não rimos, tá foda viu?! Sei lá, desde aquele dia tudo mudou sabe?! Eu não sou mais a mesma, a minha família, o G3, sei lá sabe?! Tudo mudou como nunca.G3: T2 tivesse aqui tava bem mais animado- fala meio desanimado
Eu: eu bem sei, puta que pariu viu?!- falo e ele confirma com a cabeçaTá foda irmão, tá foda! Logo puxamos outro assunto para distrair a cabeça e funcionou por um tempo, logo os dois estavam bêbados cantando músicas aleatórias e lembrando os velhos tempos, velhor tempos de quatro meses atrás quando nos reunimos todos aqui, nessa mesma mesa, bêbados e cantando felizes da vida.
Eu: eu menti para ela Zé, disse que não gostava dela Zé, e que ela podia ir, que não ia doer, falei que não íamos dar certo e seria melhor para ela assim, eu a fiz chorar seu Zé, pensei que ela não ia embora Zé, e quando ela me virou as costas eu só sabia chorar, oh Zé, oh Zé, nunca vi malandro chorar por uma mulher- canto e logo os dois estávamos com lágrimas nos olhos
G3: Felipe faz uma falta do caralho viu?!- fala e eu confirmo com a cabeça
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Valor A Fiel III
Teen FictionComo fica a vida depois de uma mudança radical? Depois de perder alguém muito mais que importante para você? Será que a dor do luto pode mudar uma pessoa radicalmente? E se aparecer um novo amor? Ou antigo amor voltar? E se... Luana Ribeiro...