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Luana Ribeiro Vasconcelos

Algumas horas depois de ir embora do hospital:

    Sinto a brisa fresca soprando o meu rosto, respiro fundo me deixando sentir a paz que o barulho das ondas me trás, fecho os olhos e me permito relaxar, a tensão se esvai dos meu ombros, enfim, paz... Era apenas que eu precisava, pelo menos para pensar por enquanto.

    Eu ainda não consegui assimilar tudo o que aconteceu, o AK morreu, o meu pai perdeu parte da memória, o Urso acordou, o T2 também acordou, eu como segunda no comando do comando, estou ocupando o lugar do meu pai no comando do morro, tudo isso em menos de vinte e quatro horas, tá tudo acontecendo tão rápido, de uma hora para outra... Eu estou assustada, e confusa!

    Eu e o Urso estamos separados, eu nem sei se ele quer me ver, nem sei como ele está em relação a mim, mas só de saber que ele acordou já é um grande alívio para mim, até porquê ele só está assim por minha causa, eu sei lá, toda essa ,oba vai acabar me deixando maluca, doida, biruta da cabeça.

Eu: aí meu Deus- falo esfregando o meu rosto- vai Luana, coloca essa cabeça no lugar mulher, se concerta- falo dando uns murros na cabeça para ver se entra juízo na mesma.

    Abro os olhos e observo bem o mar, me levanto da areia e escondo o meu chinelo e a chave do meu carro em um quiosque, vou correndo rumo ao mar e me jogo nas águas, vou andando até a água bater um pouco abaixo dos meus peitos, as ondas batendo contra o meu corpo, me arrastando para um lado e para outro.

    Afundo sentindo a água salgada entrando no meu nariz e na minha boca, porém logo volto a superfície, vou até mais o fundo e sinto as ondas me empurrando para fora da água, como se estivesse me expulsando da mesma, quando estou cansando de lutar contra a água, volto para a areia e me jogo na areia, volto a observar o mar e vejo a imagem de uma mulher negra, vestida de branco no meio da água, uma espécie de óculos cobrindo os olhos.

Eu: Odoyá Iemanjá- falo e dou um sorriso leve, que em menos de segundos foi substituído pelo choro.

   Choro com direito a soluço e tudo, afundo o meu rosto nos meus joelhos, grito tudo o que estou sentindo, jogando toda essa confusão de sentimos que eu estou sentindo para fora, expulso tudo de dentro de mim, passo as mãos pelos meus cabelo os puxando.

     Eu estou ficando louca, só pode, essa é a única explicação para o que está acontecendo, eu estou ficando louca! O mais louca possível, eu preciso é me internar, com direito a camisa de força e tudo mais, é isso.

      Para ser sincera nem eu sei o que eu estava tentando fazer agora, eu só queria me livrar de tudo o que eu estou sentindo, só queria me livrar de tudo e qualquer coisa que eu possa sentir.

[...]

Felipe Junior

    Acordo assutado com o meu sonho, olho em volta e vejo que ainda estou no quarto de hospital, faz bem uma noite que eu não sonho, pelo menos não que eu lembre, os remédios que estou tomando são tão fortes que eu apago, é como se eu estivesse morto.

    Mas esse sonho, eu sei lá, não é normal, isso seu! Talvez seja algum aviso da espiritualidade, sei lá... Eu sonhei que estava em uma praia, estava no mar, me afogando, e quanto mais me afogava, mais eu ia para o fundo, eu estava tentando me matar.

      Eu senti um peso no peito, uma dor indescritível, um turbilhão de coisas na minha cabeça, como se fosse real, como se eu estivesse realmente lá, foi tudo tão real, tão vivido, não foi apenas mais um sonho, entende? Eu senti tudo, tudo mesmo... Do nada eu já não estava mais no mar e sim andando na areia, um pouco mais próximo do mar, uma mulher sentada na areia chorando horrores e um sentimento ruim me corroeu, como se fosse alguém que eu amo muito no lugar daquela mulher.

      Do lado dessa mesma mulher uma imagem de Iemanjá a abraçando, como se a consolasse e aconselhasse a mesma a jogar toda a sua dor para fora, deixar tudo se ir para longe.

Eu: que sonho foi esse meu pai- falo esfregando o meu rosto e logo me vem a Luana na cabeça- será que tá tudo bem com a minha baixinha meu pai?- pergunto e olho para cima.

      Respiro fundo e começo a cantar um ponto de proteção baixinho, com o rosto da Luana bem evidente na minha cabeça, o sono até foi embora dando espaço apenas para a preocupação, eu estou sozinho no quarto, a minha mãe nem está aqui para mim pedir para ele ver se está tudo bem com a Luana, e o meu celular está com ela.

      Passo as mão pelo meu cabelo e continuo cantando o meu ponto enquanto olho fixamente para o teto, aos poucos o sono vai me pegando e assim eu apago.

Sonho:

Amanda: papai, a tia- fala no meu colo e eu olho para onde ela está apontando, a Luana brincando com uma criança, não consigo ver direito, mas tenho certeza que é a Luana com uma criança no colo brincando
Eu: é a tia Luana princesa- falo tentando me aproximar dela, mas não consigo
Amanda: sou eu papai- fala me olhando sorrindo e eu olho para ela confuso
Eu: como assim meu amor? Você está bem aqui princesa- falo e ela nega com a cabeça
Amanda: não papai, sou eu, sou eu lá- fala apontando e eu olho para a Luana me vendo agora do lado dela com outra criança no colo
Eu: quem é aquele bebê filha?- pergunto e ela me olha sorrindo animada
Amanda: meu irmãozinho papai, eu não vou voltar sozinha- fala cruzando os braços na altura do peito com aquela carinha de "até parece né?!"- e lá também tem a tia Va papai- fala e eu olho bem para a Luana vendo sorrindo com a mão na barriga
Eu: tia Va? Valentina?- pergunto e ela confirma com a cabeça
Amanda: a nossa família vai ficar completa papai- fala batendo as mãozinhas feliz.

Sonho:

Valor A Fiel IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora