De volta a Nevermore

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Nevermore repousava sombria, com suas pequenas torres e arquitetura gótica, tudo por ali era um tanto quanto cinzento, mas em meio a toda essa atmosfera monocromática, um vitral em específico se destacava, seus pequenos vidros dispunham de alguma cor, mas apenas em um dos lados, um círculo dividido exatamente em sua metade, que representava bem a dualidade que residia naquele dormitório: uma pequena, mas perigosa nuvem tempestuosa de um lado, e uma manhã ensolarada de primavera, mas não menos perigosa, do lado oposto.

Wednesday, com suas roupas tipicamente pretas entra pela porta do dormitório com passos resolutos, suas malas, trazidas por Tropeço, jaziam nos pés da cama. Ela tenta disfarçar ao olhar para o lado oposto do quarto, em busca de Enid, mas vê que o disfarce não é necessário, já que a garota não está. Wednesday percebe, então, que é claro que ela não está, "Sua voz irritante já teria atingido meus ouvidos como navalhas se estivesse.". Apesar do pensamento ríspido, ela se sente um pouco desapontada por não ver Enid no quarto, e se pergunta o que pode ter acontecido. Wednesday leva a mão ao bolso para pegar o celular dado por Xavier, objeto que ela despreza, porém acabou por aceitar que pode ser útil. Ela pensa em procurar saber sobre Enid com o aparelho, mas se lembra que além de sua aptidão com aquela tecnologia ser quase nula, ela não tem o contato da amiga salvo, nem o de ninguém que poderia saber dela, já que Xavier também ainda não havia chegado em Nevermore, e era o único número que havia salvo em sua caixinha preta que emitia luz e informações, além é claro, do contato de seu perseguidor.

Wednesday então decide descer as escadas e procurar Eugene, que mesmo recém chegado, provavelmente já estaria em sua estufa com as abelhas, sabendo disso, ela caminha em direção aos jardins dos fundos.

Ao chegar, o jovem apicultor sorri pra ela, mas não espera um sorriso em retribuição, Eugene havia aprendido durante todo um semestre como era conviver com Wednesday, ele sabe que ela está feliz em vê-lo, mas também sabe que um sorriso seria uma exigência um tanto quanto alta para Wednesday.

-Oi Wed, então a primeira coisa que fez ao voltar para Nevermore foi visitar suas amigas abelhas, hein?

-Olá Eugene. -a garota responde com sua voz usualmente monótona- Me identifico com as abelhas, já que elas levam o tema "matar ou morrer" de um modo bastante literal.

Eugene sorri pra amiga, sabendo que essa é uma forma comumente utilizada por Wednesday pra se expressar, a morbidade faz parte de sua essência.

-Vejo que nada mudou durante as férias.

Wednesday assente com a cabeça, quase imperceptivelmente. Mas algo mudou, e aos poucos ela tem percebido isso. Wednesday, tão acostumada com a escuridão, tem se sentido cada vez mais incomodada com a falta de um certo... raio de sol. Ela afasta estes pensamentos olhando diretamente para Eugene.

-Fui agraciada com algo interessante durante minha viagem de volta pra casa, no fim do semestre passado. Aparentemente atraí a atenção de alguém provavelmente perturbado, que vinha me observando.

Eugene fica um pouco confuso.

-Um perseguidor? Stalker?

-Me parece que sim.

Wednesday responde friamente.

-Acho que vamos ter outra investigação este semestre então, não é?

Responde Eugene, que de repente demonstra estar um pouco mais eufórico.

-Eu não pretendo colocá-lo em perigo novamente com minhas invencionisses e teimosia.

O corvo e o Girassol (wenclair) - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora