Luz na escuridão

2.7K 391 46
                                    

No pesadelo, Enid ainda está sangrando na floresta, as duas estão sozinhas e ela se sente impotente ao ver que não pode fazer nada. Ela tenta levantar a loba e carrega-la, mas não aguenta seu peso e a forma como ela tenta causa dor a Enid. Wednesday grita enfurecida e frustrada enquanto Enid estende o braço com dificuldade para segurar sua mão.

-Só fica comigo...

A loba fala tentando manter os olhos abertos para ver o rosto de Wednesday na escuridão.

-Você não tem o direito de morrer, Sinclair!

Wednesday diz baixo, mas sua voz é firme. Enid sorri pra ela, ela não parece triste com a situação, pelo contrário, parece tranquila, fascinada com algo nos olhos de Wednesday.

-Escuridão... Você é feita de escuridão...

Enid fala ainda sorrindo, com a voz cada vez mais baixa. Sua respiração diminui conforme se passam os segundos, até que ela expira pela pela última vez o ar em seus pulmões. Seus olhos azuis se apagam e se fecham. Wednesday tem lágrimas queimando seus olhos, ela aperta a mão inerte da loba como se pudesse transmitir sua vida a ela por meio daquele toque. Ela não consegue falar, sua garganta parece ter se fechado, seus pulmões lutam para respirar, mas parecem inúteis. Ela quer gritar mas sua voz está presa em algum lugar de sua garganta, então ela amaldiçoa a si mesma por ter levado Enid até ali. Ela amaldiçoa o assassino a quem ela promete uma vingança cruel e violenta, ela amaldiçoa a morte.

A garota acorda assustada e ofegante ao sentir um toque balançando violentamente seu braço esquerdo.

-Thing!

A mão gesticula desesperada para ela.

-Foi apenas um pesadelo, infelizmente não um dos bons.

Ela fala, mais tranquila ao perceber que era apenas um pesadelo, sua respiração se normalizando aos poucos.

-Por quanto tempo eu dormi?

Thing aponta o relógio. Ela só conseguiu dormir por duas horas, mas não estava satisfeita com isso. Não com o fato de ter dormido pouco, mas com o fato de ter dormido. Ela precisava voltar ao hospital, deveria apenas ter tomado banho e voltado, o fato de ter caído no sono a irrita. Ela então se levanta com pressa e procura algo pra vestir. Após vestida, ela refaz suas tranças e sai do dormitório para procurar alguém que possa ajuda-la com o aplicativo de carros.

Andando pelos corredores ela encontra Ajax, que parece também estar de saída.

-Ei, gorgona. Preciso da sua... Ajuda.

Ajax pára e olha pra trás.

-Ah, oi Wednesday. Eu tô de saída, pode ser depois? Vou pro hospital ver a Enid.

-Pois é uma desgostosa coincidência, já que gostaria da sua ajuda exatamente para chamar um veículo por aquele programa no celular, afim de que eu possa voltar ao hospital.

Ajax fica confuso com as palavras difíceis que Wednesday normalmente costuma usar, mas entende que ela quer um Uber.

-Você pode ir comigo, eu já chamei um Uber pra mim.

Wednesday assente séria. Os dois seguem para fora do prédio de Nevermore e esperam rente a estrada. Quando o carro chega, Ajax abre a porta para que Wednesday entre e entra logo atrás.

A viagem é silenciosa como tudo sempre é com Wednesday. Ela não quer falar e Ajax parece também não querer. Ele tem olheiras e sua expressão é preocupada e tensa. Wednesday imagina que após perder a mãe recentemente, perder Enid teria sido um baque e tanto para o garoto.

O corvo e o Girassol (wenclair) - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora