Poesia

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Wednesday se concentra em algumas anotações que fez no pequeno diário recém adquirido pousado em sua escrivaninha. A fuga de Xavier a deixava inquieta, ela sabia que o garoto tinha dinheiro o suficiente para sumir por tempo o bastante, mas ela não sabia até onde sua determinação em se vingar poderia chegar. O garoto parecia fora de si na cabana, e a revelação de que ele era um monstro tão perigoso quanto Tyler remexia suas entranhas de forma extremamente desconfortável. Ao contrário dele, ela e Enid estariam exatamente no mesmo lugar por um bom tempo, fáceis de encontrar, vulneráveis. A única vez que a vidente havia experimentado a sensação de perder algo importante foi com Nero, ela se importava com o escorpião, mas o sentimento que tinha por Enid não chegava nem perto do que ela dedicava a seu pet. A incomodava também o fato de suas visões estarem estranhamente estáveis, ela nunca havia imaginado que pediria por vislumbres do futuro com tanto afinco, ela queria saber, queria se preparar. Sabia que em algum momento seria obrigada a lidar com o monstro.

Enid, que está do outro lado do quarto, deitada em sua cama tamborilando os dedos em seu notebook, se levanta e calmamente caminha até a morena. Ela apoia as mãos no encosto da cadeira de Wednesday e beija o topo de sua cabeça.

-O que tá tomando tanto da sua atenção, Wed?

Ao contrário do que faria antes, Wednesday não fecha o diário nem o esconde, ela havia decidido que não esconderia mais nada da loba, e que tentar protegê-la dessa forma acabava por deixá-la ainda mais vulnerável. Enid era uma lobsomem formidável, forte, ágil, determinada.

-Me preocupo com o destino de Xavier. É uma ponta solta que, acredito, ainda nos trará problemas futuros.

Enid bufa baixinho e puxa Wednesday pela mão até que a morena se levante e fique de frente para ela.

-Eu sei que tá preocupada, e que gosta de antecipar as coisas, mas eu quero sua atenção pra mim por um tempinho.

A loba toca o rosto da outra e sela seus lábios devagar. Wednesday suspira, ela sabe que nunca irá se acostumar com a verdadeira explosão de sensações que cada toque de Enid causa em seu corpo. Ela também sabe que nunca deixará de querer ainda mais todas as vezes, por isso encaixa a mão na nuca da loba e a puxa para beijá-la. Suas línguas se tocam e Wednesday sente seu coração retumbar em sua caixa torácica. Ela passa a mão pela cintura de Enid e a puxa para mais perto, a loba não protesta, ao invés disso abraça o pescoço de Wednesday e o beijo se torna mais urgente. Thing, que está na cabeceira da cama da vidente corre até elas e puxa a barra da calça de Wednesday. Demora um pouco mas as duas interrompem o beijo.

-Thing, eu juro que arrancarei suas unhas com um alicate se isto não for importante.

A vidente fala sem abrir os olhos. A mão cutuca seu pé e Wednesday se vira para olha-la. Thing gesticula e a morena suspira impaciente.

-Ele tem razão, temos aquele piquenique estúpido, e concordo que iremos nos atrasar se continuarmos.

Wednesday diz para Enid.

-Nesse momento sou obrigada a concordar com você que aquele piquenique parece estúpido.

A loba diz isso rindo.

-Bom, devemos ir então, já que suas amigas claramente estão empenhadas em interromper nossos momentos íntimos.

O rosto de Enid esquenta ao ouvir as palavras e ela tem certeza de que suas bochechas estão cortadas. Ela sela novamente os lábios de Wednesday e se afasta.

-Isso definitivamente é um tipo de tortura.

Enid sorri ao perceber o quanto Wednesday queria seu corpo. O sentimento era recíproco.

Wednesday e Enid caminham de mãos dadas pelos corredores de Nevermore em direção ao jardim dos fundos. Ao alcançarem o local vêem a distância uma toalha quadriculada em preto e cinza estendida deibaixo de uma das árvores mais altas de Nevermore, o casal estranha a ausência das amigas, já que não estavam atrasadas. Ao se aproximarem, as duas se deparam com comidas variadas e um bilhete em letras cursivas.

"Pensamos em dar a vocês um pouco de privacidade e algo para comemorar. Soubemos essa manhã que Xavier foi preso no México, em uma das casas de luxo de sua família onde estava se escondendo. Além disso, vocês merecem um tempo a sós sem estarem transando como coelhos.

Com nem tanto amor assim, Yoko, Divina, Bianca, Eugene e Ajax"

Após ler o bilhete, Wednesday o passa apra Enid, que lê rapidamente e sorri logo após.

-Ele foi preso!

A expressão de Wednesday não demonstra alívio, o que deixa a loba confusa.

-O que foi Wed?

-Xavier é rico demais para ser mantido em cárcere por muito tempo, mi amore.

A expressão de Enid despenca um pouco, mas ela não se dá por vencida.

-Você tem razão, mas por agora nós vamos comemorar essa pequena vitória, minha tempestade.

A loba se senta e Wednesday a acompanha. O dia está chegando ao fim e o local em que estão foi estrategicamente pensado para que pudessem ver o pôr do sol. Com calma, a grande bola de gases e fogo corta o céu para dar espaço a sua contra parte acinzentada. Enid e Wednesday olham atentamente aquele pequeno show da natureza acontecer.

-Sabe -Enid diz se virando para Wednesday- Acho que nós somos como essa pequena mistura que acontece logo antes da noite chegar. Nós somos como o crepúsculo, luz e escuridão perfeitamente mesclados.

Wednesday encara a loba nos olhos.

-Seus olhos azuis sempre me fizeram recordar o céu de um dia iluminado. É um desprazer um tanto quanto... Peculiar.

-E seus olhos pretos são como uma noite escura. E lobos são reféns da noite, eternos lacaios da lua.

A vidente toca o rosto da loba com delicadeza.

-Isso é poético, cara mia.

Enid então aproxima o rosto dela.

-Nós somos como poesia.

-Uma mórbida e primorosa poesia.

Wednesday cobre a distância entre seus lábios em um beijo terno. Mais tarde Enid perceberia que não tinha mais medo do escuro.



Estamos chegando ao fim galerinha ♥️

O corvo e o Girassol (wenclair) - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora