Nos pertencemos

02- Passado bem presente

As crianças corriam e brincavam sem muita supervisão, a escola naquele horário de saída não tinham muitas crianças, algumas esperavam os pais outras até iam sozinhas para casa, a vizinhança tranquila dava toda segurança aos pequenos.

Kan hoje precisava esperar, por que sua mãe vinha todas as quintas o buscar e depois passavam no mercado de rua, ele gostava de ajudar a mãe, mas não gostava das quintas, não muito longe um grupo de garotos brinca com uma bola, Kan sabe o que vem a seguir, é sempre igual, os meninos logo se cansam da bola e vão mexer com ele.

Kan é quieto, é um menino que não revida, e acima de tudo é de uma família muito humilde e pobre e isso é um dos principais motivos para os meninos zombam dele, do tênis, dos cadernos, até do corte de cabelo.

Os adultos diriam que crianças são assim mesmo.
Os meninos na faixa entre 10 e 12 anos são mesmo levados, diziam os professores.

Kan não tem opinião sobre isso, na verdade não gosta de opinar sobre assuntos de outras pessoas, só sabe sobre si mesmo e como está cansado.

Dessa vez acha melhor esperar a mãe um pouco longe da escola perto de um pequeno beco. Senta na calçada, dali pode ver se a mãe vem vindo, mas hoje é quinta, não importa onde ele se esconda os meninos sempre o encontram, dessa vez são três, o líder tem 11 anos e esta na sua classe, os meninos começam a mexer com ele com palavras feias, enquanto só falam esta tudo certo, é irritante mais Kan aguenta, as coisas saem do controle quando um deles o empurra e ele cai deitado na calçada.

Será que não podem apenas deixá-lo em paz? Será que ele tem que ser mal?

A briga logo começa, são 3 contra um, Kan não liga, poderiam ser 5. Kan briga bem, o que nenhum dos meninos sabe é que seu pai é um ex boxeador falido. Kan sabe se defender.
Um dos meninos foge, logo em seguida outro, resta um, o líder. Kan segura o menino e joga ele no chão com força, senta nas costas dele, o menino de baixo está com o rosto grudado na calçada.

Kan abaixa a cabeça pra falar mais perto do garoto.
- Hoje foi só uma surra. Mas da próxima vez eu vou matar você.

O menino tenta se soltar desesperado, mas está com o corpo travado contra o chão. - Você entendeu bem o que eu falei? Balance a cabeça !
O garoto balança a cabeça em concordância e Kan o libera. Ele sai correndo imediatamente, bem a tempo pois a mãe de kan acaba de virar na esquina.

- Meu amor, por que não está na escola? E porque está com essa aparência todo sujo e suado? Olha só o seu cabelo.
A mãe sorri enquanto arruma o cabelo dele no lugar.
- Estava jogando bola com os meninos.
- Só isso mesmo?
- Sim mamãe, agora vamos fazer compras.
Ele sorriu pra mãe e tudo estava bem.

O tempo passou e Kan cresceu assim era o mesmo desde aquela época, ninguém lhe tirava do sério com facilidade, mas também quando tirava se arrependia muito depois.
Ele não mexia com ninguém, estudava direito, ia da escola para casa sem se envolver em coisas que envergonhassem seus pais e assim vivia no seu próprio mundinho.

Vez ou outra vinha um louco que se metia a zombar dele ou da sua condição financeira, mas logo o sujeito aparecia com a cara toda roxa e estava tudo certo. Namorar Kan nunca quis também.
As vezes pensava em si mesmo como alguém sem nenhum sentimento afetivo fora da família. Como nada o abalava com facilidade, também ninguém o conquistava facilmente.

Sempre se interessou por homens, gostava dos mais novos, gostava de sair e se divertir, às vezes pegava o contato e via a pessoa outras vezes. Mas era começar a falar em relacionamento que ele saia fora.
Foi sempre assim e sentia que sempre seria assim.

Mas Kan era bonito, sempre tinha um ou outro apaixonado por ele.
Um desses era Tawan, conheceu ele em uma situação complicada, em uma briga que se envolveu com muita gente e seria massacrado caso Tawan e alguns amigos não intervissem. Desde então, Tawan é uma pedra no seu sapato volta e meia aparece declarando seu amor.
Isso deixa Kan exausto e ele imagina quando sua dívida de gratidão com Tawan vai ser paga pra ele finalmente poder socar a sua cara.