Kanya esta na rua, não sabe bem onde, aquele bairro é estranho pra ela. Caminha uma quadra, duas talvez mais. Quando olha para os pés está só com um pé de sapato, não sabe onde perdeu o outro. Seu corpo devia estar cansado, mas não sente nada. Não sente mesmo nada. Será que é o choque? Ela não sabe.
Depois de algumas horas e de perder o outro sapato também, seus pés estão feridos.
Senta na calçada. Pega seu telefone.
Olha a lista de contatos os 3 de destaque em cima.Bean
Yiwaa
Mãe
Seu pai a expulsou de casa quando era ainda tão nova, seu pai jurou que nem na morte a perdoaria. Ninguém em casa aceitou. Nem a mãe. Mas de vez em quando seu telefone tocava, era a mãe, conversavam por pouco tempo. A mãe sempre queria saber se ela comeu, se estava trabalhando, se vivia bem.
Quando se deu conta já estava ligando para ela, mas mesmo a mãe dizendo alô, Kanya não respondeu.
-Prem? É você meu filho?
A voz suave da mãe, o jeito como ela ainda lhe chamava sempre. Tudo isso fez com que finalmente as lágrimas rolassem
-O que você tem? Venha pra casa. Seu pai está numa viagem, volta só daqui dois dias, venha ver a mamãe.
Sua mãe estava preocupada, Kanya sentia. Mas não sabia se devia ir ou não, se não era melhor ir pra casa, falar com Yiwaa.
-Sabe que a mãe ainda te ama não é Prem?
Ia pra casa, precisava do abraço da mãe.
*************
Depois de chorar tanto que a cabeça já doia, Kanya finalmente conseguiu falar. Não queria entrar em detalhes com a mãe, só explicou que teve um problema com um rapaz, que não foi grave, mas o rosto delicado do filho com uma marca vermelha e os pés machucados provavam que foi sim grave.
Seu filho era um bom menino quando pequeno, sempre estudando, nunca deu trabalho ou teve problemas com outros colegas, era sempre o mais alegre, o mais carinhoso. Mas desde que começou com as ideias de mudar, todos na família foram contra... Por que seu pequeno Prem não podia ser normal? Todos sofriam com o desejo dele de mudar, inclusive e principalmente ele mesmo.
A mãe lhe abraçou por um tempo, até sentir que estava realmente melhor, depois foi fazer algo para ela comer, mesmo Kanya dizendo que não queria nada. Mãe é mãe!
Kanya ficou na sala. Fazia horas que estava evitando pensar. Mas agora que chorou tudo que tinha pra chorar e estava um pouco mais tranquila, começou a lembrar.
Bean, a sala, o desejo, a descoberta, a rejeição, o tapa, a ameaça.
Seu coração estava partido.Começou a analisar que essa era a verdadeira personalidade de Bean, pelos negócios que ele tinha, pelos comentários no restaurante. Ela se envolveu e enganou a pessoa errada.
Não foi sincera pq teve medo, mas estava errada de qualquer forma. O que um homem como aquele e com aquele tipo de poder e aquela beleza ia querer com alguém como ela?
"Princesa..."
Se iludiu com isso, achou mesmo que era a princesa dele. Achou que podia ser um peixe que cria asas. Só esqueceu que isso não existia. Nunca teve nada entre eles. As noites que ia dormir só após conversar por horas com ele, as fotos que trocaram, as mensagens de bom dia, boa tarde e boa noite. Nada, para Bean aquilo nunca foi nada.
"Eu enganei ele."
Gostava tanto de alguém pela primeira vez em anos, mas nada justifica seu erro. Mas suspirou fundo, acabou. Bean nunca mais quer lhe ver e ela nunca mais vai procurá-lo. Vai ter que aprender a viver assim. Ainda tem o emprego, a melhor amiga, o sonho de lecionar. Tudo ia indo tão bem. Mesmo que isso com Bean fosse algo grande, não podia deixar que seus sonhos fossem despedaçados assim.
Chegou a sorrir. Depois do que aconteceu na casa de Bean, nada no mundo podia ser pior...- O que você faz aqui?
Uma voz áspera e sem nenhum pingo de sensibilidade perguntou. Kanya se assustou, seu pai retornou antes de viagem, a mala ainda ao lado da porta.
Kanya não pensou duas vezes se levantou rápido. Tinha um motivo pra não voltar pra casa esses anos todos. Conhecia bem o pai, todos que conviviam com ele sabem como ele é.
Ao ouvir eles a mãe de kanya volta imediatamente da cozinha. Mas não pode impedir o marido, ninguém pode. Mesmo assim tenta.
-Prem só veio visitar por uns minutos, ele já está de saída.
-Prem? Quem é esse? Não vejo nenhum outro homem nessa sala, só essa coisa- Aponta para o próprio filho.
Kanya baixa os olhos e pega a bolsa, não diz nada, só que sair logo dali antes que tudo desmorone.
- Estou falando de você...
- Aaai, aai pai.
O pai a segura com força pelo cabelo e a joga no chão. A mãe está desesperada, mas sabe que se intervir vai ser pior.- Quem lhe deu o direito de pisar na minha casa novamente?
O pai fala, mas não só com a voz é que quer conversar. Chuta, soca, empurra, puxa o filho pelos cabelos compridos que ele tanto odeia, é isso que sente, ódio, criou um bom menino, não aquilo.
Sentia raiva e constrangimento diante de toda família, e o motivo estava ali na sua frente agora, o motivo tinha a coragem de pisar na sua casa novamente enquanto ele estava fora. Parece que o desgosto que sentiu por anos estava tentando descontar agora.
- Você é uma vergonha, não deveria ter nascido. Tinha um futuro tão brilhante e olha no que foi se tornar !?
Kanya não respondia, nem podia, não tinha nem forças, já havia levado tantos tapas antes, do pai, de outros na rua, nessa noite de Bean. Estava tão cansada.
O
O corpo inteiro já doía, a boca sangrava, o couro cabeludo ardia. Será que isso não era suficiente para o seu pai? Quando ele iria parar? Quando o filho que tanto odiava estivesse morto?Nem pensar Kanya conseguia mais. A mãe tentou intervir novamente, mas dessa vez o pai empurrou sua mãe pra longe, Kanya sentiu medo que a mãe caísse e se machucasse e se colocou entre os dois, o golpe do pai foi tão forte que quem caiu foi ela, pesadamente em cima de uma mesinha de centro que era de vidro...
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Nos pertencemos
FanfictionFIC DE NÚMERO 2 Um trisal que apareceu do nada na história anterior, ganhou uma estória somente deles 🤭 Um estudante, um mecânico e um aspirante a mafioso, o que os três podem ter em comum? Talvez nada, talvez tudo, uma história que começou ao aca...