36- Tempestades

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Kan teve que se segurar na parede, sentiu uma leve tontura com tantas lembranças bombardeando sua mente assim que se lembrou de Pharn. 
Phat e Tony que estavam sentados no sofá na sala de descanso do hospital se levantaram imediatamente para ajudar.

- Kaaan - Phat gritou assustado segurando ele pelo braço
- O que aconteceu? -Tony questionou Pharn
- Nada de mais ele só teve um pouco de falta de ar devido algumas lembranças ruins. Ele está bem. Mas acho que precisamos conversar de novo nos 4....

Olhou para Kan que já estava recuperado do mal estar inicial.

- Você concorda com isso.? Já está na hora de você deixar isso sair não acha?
- Está bem.

Kan concorda porque com tudo aquilo com Gear e Phat e tanta coisa que o estava abalando era melhor mesmo resolver todas essas pendências do passado.

Os 4 se sentam no sofá. Phat e Tony ainda não entendem a situação.

É Pharn que começa a explicar...

Enquanto Pharn fala, Kan se sente transportado para o passado.
Um passado bem antes de ter conhecido Pharn.

*************

O que seria um sociopata? Era assim que os outros adolescentes lhe chamavam na escola. Ninguém mexia com Kan. Ele era temido por quase todos, mas falavam nas suas costas. Ele não entendia o termo sociopata,  mas não ligava se fosse mesmo um.
Não ligava pra nada aliás. A única coisa que lhe importava estava dentro da sua casa. Sua mãe e seu pai.

Kan cresceu assim valorizando apenas aquelas duas pessoas.
Eram seu mundo sua razão de viver.

Ele próprio sabia que tinha levantado um muro extremamente grande entre ele mesmo e a sociedade. 
Mas se sentia confortável assim.

Quando Sui nasceu era como se seu mundinho fechado de repente ficasse muito grande.
O sorriso dele era Sui, seu coração virou Sui.
Uma criatura pequenininha que provava que ele tinha sim empatia, que ele podia sim amar e apreciar outras pessoas.

Quando a pequena tinha pouco mais de 3 anos Kan estava já trabalhando muito em tempo integral e via ela poucas vezes, sentia falta, tanto dela como de seus pais.
Os pais marcaram uma viagem em família para matar as saudades, mas bem naquela data kan não pode ir com eles e ficou de se encontrar com a família um pouco depois.

Como sua mãe tinha parentes em um vilarejo bem afastado é pra lá que iriam para descansar.
No dia da viagem entretanto teve uma grande tempestade e vários barcos sofreram os efeitos dessa tempestade.

Infelizmente um desses barcos era o que os pais de Kan e Sui estavam.

Quando Kan soube disso foi um sofrimento extremamente, por que estavam fazendo buscas e ele não sabia se sua família estava viva ou morta.

Se juntou a equipe de buscas e não encontraram nada por dias. Rios e mares eram um caos nessa época de tempestades.

Sofreu muito durante 3 longos dias. E já tinha perdido toda e qualquer esperança. Se sua família tinha partido, ele quis partir também.

Estava a beira do colapso e de cometer uma loucura,  não ficaria em um mundo onde não gostava de ninguém 3 onde não existia mais ninguém que gostasse dele.

No meio desse desespero foi que alguém o achou em uma noite de tempestade, fazendo buscas sozinho nas margens das águas.
A pessoa o levou para casa, cuidou dele, o salvou de si mesmo.
Quando Kan abriu os olhos na manhã seguinte não reconhecia o local, mas reconheceu um choro.
Olhou para o lado e uma pequena criança se debatia na cama ao lado da sua chorando e se agitando.

- Calma pequena...

Um rapaz pega ela no colo e lhe dá uma mamadeira e ela logo se acalma.

- Sui.... Kan sussurra a garganta dói.

O rapaz que está usando uma máscara e roupas como se fosse um enfermeiro lhe olha.

- Ooh você acordou também? Finalmente eim. Estava preocupado já.

- Sui...

O rapaz fica com os olhos arregalados.

- Você conhece essa pequena? Eu pesquei ela esses dias do rio, estava em uma cesta...- o rapaz ri, contando como salvou a pequena criança, mas já imaginava que ela tinha sido vítima de um dos vários barcos que sofreram com a terrível tempestade que teve no vilarejo.

Kan olha pra ele com os olhos mais gratos do mundo. Acaba de perceber que consegue ter empatia por alguém mais que sua própria família.

O rapaz coloca a criança nos braços de Kan, e pela primeira vez em dias ele consegue respirar aliviado. Imagina que seus pais tentaram salvar a pequena até o fim.
Sentia no coração a partida deles, mas se sentia feliz por não ter perdido parte da razão da sua verdadeira felicidade, porque a outra parte, seus pais, não veria nunca mais nessa vida.

*********

Enquanto Pharn contava a história de como salvou tanto Sui quanto Kan a alguns anos, Kan não conseguiu resistir e deixou as lágrimas rolarem sem se conter.

Phat chorava também pendurado no braço de Kan e tentando consolar ele.

- Eu vi pelo seu olhar que você é muito fechado e não deixa ninguém entrar, mas também vi que você, Phat e Gear parecem ter algo especial. Não sabemos quando ele vai acordar e vocês vão resolver esse assunto entre vocês. Mas sei como você fica quando perde alguém que ama. Estamos aqui pra ajudá-lo. Estamos aqui pra ajudar e apoiar uns aos outros.
Pharn finaliza.

Tony pega as mãos de Kan entre as suas, estava totalmente sensibilizado com a história dele.

- Calma. Vamos deixar Gear acordar pra ver o que  vocês decidem. Mas pra mim, pelo Pharn, vocês já são parte da nossa família. Você não está sozinho Kan.

- Você nunca mais vai ficar sozinho... - Phat sussurra no ouvido de kan enquanto faz carinho em seu cabelo, a cabeça de kan caída no ombro do menor.

Seu corpo soluçava de leve. Finalmente ele acredita que não está mais sozinho.

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