Nos pertencemos

23- Confusão de sentimentos

-Phat me passa a outra chave...

Kan está no chão tentando resolver um problema em uma das motos que vão participar da corrida agora a tarde, está concentrado em deixar tudo certo para não terem nenhum acidente, essa moto estava apresentando alguns sinais de que não estava em perfeitas condições na última corrida.

O rapaz ao lado dele, um jovenzinho que vem como tantos outros para aprender, lhe estende a ferramenta que ele pediu, mas assim que Kan segura o rapaz não solta, fazendo com que Kan levante o olhar.

- O que foi Pete?
- Aah agora você sabe meu nome?
- Como assim?
- Uma hora eu sou Gear, outra eu sou Phat, e finalmente voltei a ser Pete.

O rapaz ri de forma descontraída, está claramente brincando com o mecânico mais velho. Mas Kan fica tenso ao ouvir aquilo. Se levanta e chama um dos outros mecânico mais experientes e pede pra que assuma seu posto nessa noite, pq ele não se sente bem, desde ontem a noite tem algo lhe incomodando.

E agora estava dizendo o nome dos dois homens assim sem nem se dar conta.

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" Eu amo vocês "

A água cai na cabeça, ombros, peito, está fria, o corpo dele treme, mas Kan não muda para o quente, continua o banho no modo frio mesmo.
Sua cabeça latejando já.

" Eu amo vocês "

Ele dá um soco, primeiro de leve na parede do banheiro, depois outro e outro até a mão arder e o sangue escorrer com a água.

- Que merda Phat, por que você tem que estragar as coisas entre nós?

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- Quanto que é ursinha?
- Essa eu não sei, vamos voltar para do 5?
- Você só quer saber da tabuada do 5, é bem espertinha.

Kan sorri e logo depois beija de leve a cabeça de Sui. Ele está sentado na cama dela, e ela já deitada para dormir. Os dois fazem juntos a tabuada ou Kan contava histórias na hora de dormir.
Hoje em especial Sui não parecia querer pegar no sono.

- P'Pai? Como machucou a mão?

Kan ri da palavra que ela inventou, mais logo fica sério com a menção do machucando em sua mão que está coberta por um enorme curativo feito pela senhora que cuida de Sui.
- Não foi nada, só estou meio confuso...
- Com o que?- a garotinha sorri de forma descontraída e isso dá um pouco de coragem a Kan pra falar o que vai na sua mente de verdade.

- São coisas de adulto, as vezes quando alguém diz que ama a gente, isso é um pouco difícil de aceitar.
- Você me ama?
- Claro ursinha, hoje e sempre.
- Kan ama Sui, e não é difícil para Sui aceitar. Então porque é difícil você aceitar o amor de alguém?
- Quantos anos você tem? 18?

Ele ri.

- Só 5, vou fazer 6.
- Mas já quer falar como adulta. Aceitar o amor de um parente, não é igual aceitar o amor de alguém que vem de fora.
- Então eu só posso amar você?
- Claro que não, você deve amar todos que te amarem. Você nunca deve ser como eu.

Não demora pra Sui pegar no sono.
Kan vai para o quarto e se senta na cama, pensativo ainda.
O telefone toca... é  Phat. Mas ele não quer falar com Phat no momento, logo depois toca novamente e é Gear, mais mesmo assim ele não atende. Não quer falar com eles essa noite.

Ainda quer estar com eles, sente falta do calor deles dois, do cheiro, do gosto... mas esta muito confuso nesse momento e não consegue aceitar aa palavras de Phat.

"Desculpe, mas eu não posso amar vocês, eu não sei onde vai dar isso, eu tenho uma criança para proteger. Qual o nosso futuro? Nós não temos futuro."

Quando Phat disse aquilo na noite passada, Kan sentiu uma pressão esmagadora no peito.
Nunca foi assim quando esteve com os dois.
Tudo era sobre chamas, suor e tesão.
Nunca foi sobre carinho, relacionamentos e amor.

Ele pensou que estaria com os dois por um longo tempo ainda. Mas pra isso acontecer Phat não podia estar pensando neles três como um só. Pensando nos três como namorados.

No mínimo eram amigos, amigos com muitos benefícios.