09 | habits.

899 63 15
                                    

Pablo Gavi

Eram 23h da noite e eu batia na porta do quarto de visitas. Vacchiano aparentemente andava com todo tipo de roupa em seu carro, e estava se arrumando para a festa.

Eu tinha vestido apenas uma camisa branca, uma calça preta e uma jaqueta verde militar. Não era nada muito chique de qualquer maneira.

Quando ela abriu a porta, me permiti a apreciar.

Já estava acustumado com sua aparência a muito tempo, e não me surpreendi quando ela apareceu como sempre.

Estava com um vestido preto de mangas, e tinha uma jaqueta jeans por cima de seus ombros. Botas rosas em seus pés, e maquiagem simples. Era só o que bastava.

Ela era uma completa chata mandona, mas isso jamais me deixaria cego.

– Tudo pronto? – questionei.

– Sim – ela disse, mordiscando o lábio inferior.

– Você sabe que...

– Sim, em qualquer lugar com pessoas nós somos um casal – ela disse como se tivesse decorado exatamente essas palavras. Suspirei.

– Isso quer dizer que, se pretende dar a louca hoje como parece, dê a louca escondido. Ou é melhor que fique quieta mesmo.

– Eu nunca trairia o Marcus – respondeu em outro tom, e eu percebi que tinha atingido um limite.

Apenas descemos e entramos no meu carro.

– O que você faz quando quer espairecer? – ela perguntou depois de vários minutos na estrada.

– Eu corro.

– Literalmente? – ela perguntou franzindo sua testa, com uma expressão curiosa.

– É. Eu acordo de madrugada e corro – ela pareceu admirada.

– Antes eu escrevia músicas – ela começou devagar. –, para colocar as ideias no lugar, sabe. Agora...

– Eu acho que você está se martirizando, Vacchiani, sério – admiti. – Isso não passa de uma fase ruim – senti seu olhar pesar em mim. – Você não acredita realmente que isso vai durar, acredita?

– Eu não sei – sua voz parecia desconcertada. – É assustador sentir que está perdendo a única coisa que te mantém de pé.

Eu sabia que ela ainda tinha álcool em seu organismo, já que estava sendo sincera demais. Isso não era coisa dela.

– Ninguém perde um dom, Vacchi. O que é nosso fica com a gente até a nossa morte. Você sempre vai ser compositora.

Ela suspirou, e percebi que ela já não queria mais esse tipo de conversa. Talvez esperasse que eu dissesse algo rude, talvez ela estivesse afim de discutir – o que não seria estranho – e se frustou com a minha reação. A verdade é que eu realmente acho que ela está surtando demais, e que é provavelmente só ansiedade. E eu não quero ser o vilão da vida dela agora.

– Vamos encontrar Pedri e a namorada dele quando chegarmos – a avisei quando já estávamos perto do local. – Provavelmente ficaremos com eles o tempo todo.

– Tudo bem.

– E, por favor, não beba mais do que consegue - pedi novamente, mas sabendo que não adiantaria.

Sabia que ela só tinha insistido em vir para esquecer dos problemas. Não sei porque concordei, já que terei que cuidar da mesma.

Talvez eu só goste de ter alguém que precisa de mim.

lie to me - pablo gaviOnde histórias criam vida. Descubra agora