lie to me - pablo gavi

25 | pra que juízo.

Pablo Gavi

– Então você mora longe dos seus pais desde criança? – Violet perguntou, seu queixo sustentado por suas mãos enquanto ela me observava.

– Basicamente. Eu sempre morei com meus amigos do La Masia e até seus pais, desde os 11 anos.

– É um culé a vida inteira então – ela respondeu.

– Eu sou. Por isso é tão importante 'pra mim jogar aqui.

– Eu não entendo muito sobre futebol, mas a partida de hoje determina o campeão da Copa do Rey, não é?

– Sim, hoje é a final – expliquei, achando estranho alguém não entender sobre isso. Na minha cabeça, todo mundo é obcecado por futebol.

– E qual é o outro time?

– O Villareal. Um time consideravelmente pequeno, mas que esse ano está provando que merece estar na primeira divisão.

– Como a bela americana que sou, não tenho nenhum time – revirei os olhos com a afirmação. – Então hoje estarei torcendo pelo Barcelona.

– Toda torcida é bem vinda – respondi, sorrindo fraco.

Bufei irritado quando, ao olhar para o camarote da arquibancada, vi a silhueta de Vacchiano por um momento. Mas não era ela. Eu não a via á tempos, e nem tinha tido nenhuma notícia. E eu teria que me contentar com isso, porque foi tudo o que eu pedi.

Interessante como as coisas que queremos as vezes são muito boas em teoria, e muito ruins na prática. Não que minha vontade realmente fosse mandar ela ir embora daquele jeito, mas no momento foi o que pareceu certo. E sim, eu não podia não pensar no que poderia ter acontecido se eu tivesse simplesmente escutado. Simplesmente conversado. Mas eu fugi, exatamente como ela fez.

Sempre gostei de me considerar tão melhor que ela. Tão mais maduro, mais altruísta, mais tudo. Mas, observando á distância, percebo que somos apenas farinha do mesmo saco. É claro que muitas vezes não concordamos com as coisas e odiamos a atitude um do outro, mas uma coisa é certa: quanto mais parecida a pessoa for de você, menos você terá facilidade para gostar dela. A maturidade é conseguir enxergar que, debaixo de toda a teimosia e individualismo da gente, teríamos agido da mesma forma.

Talvez eu tivesse feito com ela a mesma coisa que ela fez comigo naquele dia. Talvez eu tivesse me priorizado e deixado o amor de lado também. Talvez eu também usaria duas pessoas por causa da minha própria confusão. Admito que eu estive mais confuso do que nunca nesses últimos meses.

Mas, mesmo que tudo fosse diferente, talvez as coisas acontecessem da mesma forma.

E eu nunca saberia.

– Gavi! – a voz feminina perguntava, enquanto passava as mãos sobre meu cabelo suado.

– O quê? – questionei, me sentindo estranho.

– Você simplesmente saí de órbita as vezes, pensei que estivesse até enlouquecendo...

– Vai demorar um pouco para eu enlouquecer, viu? – afirmei, vendo ela abrir um pequeno sorriso. – Sabe, eu estou me sentindo estranho hoje. Não sei porquê, as coisas só parecem um pouco sem sentido.

– Está estranhando não ver um certo alguém com seu nome na camisa? – olhei feio para a garota, que me encarava firmemente. – Seria tão mais fácil se você simplesmente admitisse que sente falta dela.

– Nem tudo tem a ver com Anne Vacchiano – balancei a cabeça. – Todo mundo só sabe me dizer isso o tempo inteiro e está ficando cada vez mais chato.