23 | why.

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Anne Vacchiano

Eu não subia em um palco, nem mesmo em um pequeno, há mais de um ano. E, foi como estar em casa de novo. E tudo teria ficado tão bem se meus olhos não tivessem encontrado os dele. 'E os dela também', pensei automaticamente.

Porra, eu estava me odiando nesse momento. Estar sem Gavi me deixava entediada, e o tédio me fazia refletir. Penso tanto na maneira em que eu faço as pessoas se afastarem de mim, por puro medo. Medo de chegar perto demais e me viciar. E dessa forma, eu acabo machucando as pessoas que mais se importam comigo.

Peguei meu caderno de composições e minha caneta.

Eu não acho que está acabado
Senti de novo quando te vi
Depois de te jogar no inferno
Você não poderia me odiar
Mais do que eu me odeio

Suspirei, me sentindo cansada mesmo depois de dormir por dez horas seguidas.

Eu só queria me sentir viva mais uma vez, sem essas inúmeras preocupações. E eu queria pedir desculpas, queria dizer a verdade e nunca consigo. Eu queria que Gavi soubesse que eu me importo. Sempre me importei.

Me sentei no chão frio da sala, com os dedos tremendo, insistindo para que eu ligasse. Mas eu não devia! Semana passada mesmo ele tinha uma loira muito bonita ao seu lado no lugar que custumava ser meu. E ele estava tão feliz que poderia ter passado com aquela Ferrari estúpida por cima de mim. Ah, se eu morresse pelas mãos dele, voltaria para atazana-lo a vida inteira.

Ri com o pensamento de correr atrás dele com uma vassoura.

Ver ele foi... estranho. Senti uma coisa no meu peito que nunca tinha sentido antes. Como se eu estivesse por muito tempo sem respirar e de repente o ar entrasse em meus pulmões. Foi um alívio. E pela maneira que ele me olhava, por um instante parecia que ele sentia o mesmo. Ou talvez eu esteja ficando maluca. Provavelmente a segunda opção, até porque ele parecia bem feliz com aquela loira desconhecida. Branca demais, jamais teria o poder de uma morena.

Queria ligar para Carol, mas essa hora ela provavelmente estaria com Pedri e eu não queria a atrapalhar. Agora ela era minha única amiga de verdade, porque as outras meninas tinham seus namorados e por acaso, são todos amigos do Gavi.

Estava sentindo falta da minha casa pela primeira vez desde que pousei em Barcelona. Falta da comida italiana de verdade, do clima, das pessoas. De estar com as pessoas que eu conheci pela a minha vida inteira. E agora, eu podia voltar. Não tinha mais contrato, não tinha mais namoro, então eu estava livre. No entanto, me sentia presa a esse lugar, a esses assuntos pendentes que tento ignorar.

Me levantei dali e decidi tomar um banho bem quente. Banhos quentes me desestressavam. Enquanto a água caia por todo o meu corpo, eu me sentia tranquila. Tentava com todas as forças não pensar nas mãos dele por todo o meu corpo. De tantos caras esse maldito conseguiu me deixar obcecada por uma transa.

Eu 'tava muito ferrada mesmo.

Estava tentando me lembrar de todas as discussões idiotas, de todos os estresses que passei com ele, de toda a antipatia que eu tinha, de tudo o que me fazia o odiar. Mas, infelizmente, isso só aumentava a minha saudade. Era a primeira vez que isso acontecia porque eu nunca ligava tanto assim para ninguém. Se eu quisesse alguém de novo, encontrava outra pessoa para colocar no lugar. A diferença era que ninguém conseguia substituir ele. E isso me fazia querer gritar.

Queria conseguir me lembrar do que eu pensava o tempo inteiro antes de conhecê-lo. Nada tem importância igual...

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lie to me - pablo gaviOnde histórias criam vida. Descubra agora