11 | leão.

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Pablo Gavi

Eu sairia do treino direto para a gravadora. Nem sei direito o que fazem em uma gravadora, mas Vacchiano disse que eu deveria ir.

Tinha passado os últimos três dias evitando qualquer pensamento que incluísse o seu nome. E realmente estava funcionando... na verdade, eu só tinha me lembrado disso hoje.

Chegando no local, eu reconheci o carro vermelho de Vacchiano e estacionei logo atrás. Não sabia se apenas deveria buscar ela ou ficar aqui. De qualquer maneira, entrei e após passar por alguns corredores complicados, encontrei a sala em que estava.

Era uma sala pequena e vermelha, tinha um sofá preto, uma extensa mesa de som com duas cadeiras atrás e um vidro na frente, levando á um local menor com um microfone. Achei interessante pois nunca tinha vindo a uma gravadora.

– Boa noite – comprimentei, e três corpos se viraram.

Era Vacchiano, e dois homens que pareciam a estar ajudando. Produtores ou sei lá.

– Boa noite – ela disse e me encarou insinuativa, então eu me aproximei e deixei um beijo em sua testa. – Eu escrevi uma coisa – alertou e eu não evitei um sorriso sem dentes. – É mais um poema, mas acho que da maneira certa, pode se tornar uma música legal.

– É sério? Isso é ótimo – elogiei.

Estava muito ciente do que isso significava e me dava uma sensação boa no coração.

– Não vai ler para mim? – questionei depois de um tempo, e ela parecia estar esperando justamente isso.

– Tudo bem – respirou fundo e tirou um papel de seu bolso esquerdo. Sentada no sofá ao meu lado, ela pigarreou. – Ama-lo é como tentar mudar de ideia, uma vez que já está em queda livre; como as cores do outono, tão brilhantes, antes que percam tudo – ela me encarou fixamente ao terminar. – É só isso.

– Está... ótimo – respondi, meio desnorteado. – Desculpa, é difícil elogiar você. Mas fez um trabalho incrível.

Ela continuou com seus olhos fixos em mim, com aquela expressão de tentar enxergar mais do que pode ver. Era uma mania que ela tinha desde o primeiro dia e eu nunca tinha entendido a razão.

Era difícil elogiar ela porque eu nunca conseguia encontrar as palavras certas. Nunca queria parecer muito sincero nem muito falso, e achar o equilíbrio entre as duas coisas era muito complicado.

– Obrigada, Pablo – disse e me deu um beijo na bochecha.

Ela só me chamava de Pablo quando estávamos em público, mas eu nunca mesmo havia a chamado pelo seu nome. É um limite que eu estabeleci por alguma razão desconhecida, mas não estava afim de o cruzar. Acho que no minuto que a chamasse de Anne, tudo seria diferente.

Pela primeira vez eu havia prestado atenção em um beijo na bochecha. Ela vivia fazendo isso, já que não nos beijavamos em público – e nem no privado –, mas agora eu queria realmente sentir. Queria sentir o seu toque.

Fui tirado dos meus pensamentos quando ambos os homens disseram que iriam embora, e Vacchiano apenas terminaria de organizar umas coisas antes de sair.

– Como se sente? – perguntei, me referindo ao fato recente e ela estralou seus dedos.

Como me sinto? – repetiu, entusiasmada. – Eu 'tô feliz! Isso que você ouviu não foi um terço do que eu escrevi.

– Espera, tem mais? Por que não me mostra também?

– Não achei que seja do tipo que eu gostaria de compartilhar – respondeu simples. – Mas, não sei, parece que tudo pode dar certo. Acho que é a mesma sensação de marcar um gol em uma final.

lie to me - pablo gaviOnde histórias criam vida. Descubra agora