30 | dancing with our hands tied.

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Pablo Gavi

Geralmente eu não era uma pessoa da manhã. Acordava meio rabugento na maioria das vezes, tendo que me segurar para não ser mal educado com as pessoas. Mas nessa manhã, meu coração acordou em paz total. Anne Vacchiano estava enrolada pelos meus braços, nos fazendo ficar o mais próximos que conseguíamos.

Sua respiração indicava que ela ainda estava dormindo, e eu resolvi não me mexer na cama para não acordá-la.

Ontem á noite foi tudo o que eu poderia ter desejado. Principalmente por termos nos resolvido. Tinha medo de que vir aqui fosse em vão.

Quando eu finalmente disse aquelas três palavrinhas, senti como se meu peito derretesse. Eu me sentia em paz. E essa moça de cabelos castanhos sobre mim era a razão.

Sorri ao enxergar um par de botas rosas no chão de seu quarto, imaginando que ela deixou naquele ponto específico para facilitar seu uso, já que usava todos os dias. Admito que senti falta de me irritar por simples pares de sapatos.

Senti seu corpo se mexer levemente sobre o meu, indicando que ela estava acordando.

– Bom dia – eu sussurrei. Ela sorriu de olhos fechados.

– Dia – ela respondeu, sua voz um tanto arrastada.

Ela abriu os olhos lentamente, com um sorriso fácil em seus lábios. Me inclinei levemente sobre ela, que deixou um selinho casto em meus lábios.

A garota fez menção em se levantar, mas eu a puxei contra meu peito rapidamente, vendo ela suspirar.

– Eu tenho que escovar os dentes – reclamou, tentando se afastar.

– Fica só mais um pouquinho – pedi e ela parou de se mexer. Eu sorri. – Sei lá, parece que os nossos problemas não vão alcançar a gente enquanto estivermos na cama.

– É, eu sei. Podemos adiar isso o quanto quisermos – respondeu. – Quando você vai embora?

– Minha passagem é para daqui três dias – ela riu baixo. – O quê?

– E se eu tivesse te mandado ir? Teria que ficar preso aqui por três dias.

– Como se eu fosse perder uma oportunidade de turistar – disse irônico.

– Ai, perdão, senhor viajante. Fala como se não odiasse deixar sua casa – eu a acompanhei no riso.

As vezes me esquecia do quanto nos conhecíamos. Do quanto nos entregavamos nas entrelinhas mesmo sem perceber.

– Não tenho culpa de ser caseiro – admiti, e ela se levantou um pouco para me encarar.

– Eu adoro isso.

– Eu ficar em casa? – eu virei a cabeça para o lado, mostrando confusão.

– Você ser tão diferente de mim em algumas coisas. E tão igual em outras.

– É por isso que dá certo – respondi e ela virou os olhos.

Percebi que sua mente saiu dali por um instante, e a cutuquei para que voltasse a realidade.

– O quê foi? – questionei.

– 'Tô pensando em algo que eu quero escrever. Sei lá, nós dois somos algo tão lírico.

– É o que eu digo, eu sou seu muso – dei de ombros, sorrindo.

– Sério, Gavi, penso que se eu tivesse feito tudo isso, mas com outra pessoa, nunca teria sido a mesma coisa. Eu poderia até ter ganhado fama e essas merdas, mas foi por causa de você que eu voltei a escrever. Por causa dos meus sentimentos incubados que eu não podia expressar em palavras.

lie to me - pablo gaviOnde histórias criam vida. Descubra agora