lie to me - pablo gavi

13 | intenção.

Pablo Gavi

Devo dizer que senti falta de saídas com amigos, ou seja, saídas sem uma garota de cabelos incrivelmente castanhos e olhos marcantes. Já não a via há duas semanas e não irei fingir que não estou apreciando esse tempo. Mas isso tudo nos transformou em um tipo de metamorfo, como se na maior parte do tempo fôssemos uma pessoa só. Ela disse que estava focada em músicas agora que voltou a escrever, e eu me sentia tão feliz quanto aliviado. Mesmo começando a gostar de sua companhia, eu estava realmente precisando de um espaço.

Ora mas que sensação boa era sair dos treinos e ir direto para minha casa. Fazer tudo o que eu precisava e dormir – sozinho ou acompanhado as vezes. Senti nesse tempo que não devia nada a ninguém, e era como respirar de novo.

Vacchiano realmente estava nos braços de Marcus – provavelmente estava com ele neste momento –, e foi quando eu entendi que espaço era bom. De certa forma, senti como se estivesse pressionando ela de alguma maneira. Porque as vezes eu a pegava me encarando e parecia difícil. Não digo que ela me desejava, mas sei que é difícil amar alguém e estar o tempo todo com outra pessoa que não significa tanto. Então esse espaço também era uma boa colaboração minha em seu relacionamento.

Eu tinha acabado de chegar em casa, incrivelmente cedo para um sábado e resolvi organizar ideias.

Esse ano já estava praticamente encerrado. Hoje era dia vinte e oito de dezembro, e eu suspirei ao pensar em um novo começo. Meu Natal tinha sido completamente normal, apenas os quatro membros de minha família aqui em casa. Vacchiano havia passado seu Natal na Itália, com sua grande família. Ela era filha única, mas tinha uma legião de primos e tios, que aparentemente estavam enchendo sua grande casa italiana. Claro que a distância nesse dia importante havia gerado alguns boatos, mas passaríamos o Ano Novo juntos.

Minha carreira não estava 100% estável, mas estava muito próxima do normal. De volta ao time titular, joguei outros dois jogos nesses dias, sendo uma vitória e um empate. Eu me sentia feliz nesse momento, tudo estava se encaixando aos poucos e eu estava muito confortável com o tal relacionamento que eu levava á cerca de três meses. Me surpreendo ao lembrar que já fazem três meses – não pareceu tanto tempo assim. Estranho pensar que três meses não são muita coisa, realmente não são quase nada.

Quando tudo acabasse, eu iria direto á Pedri para conversar. Ele é meu melhor amigo, e ainda me sinto muito mal por ter que mentir para ele também. Acho que sempre me sentiria mal por mentir para as minhas duas famílias: a de sangue, e meus companheiros do Barcelona. Esse era o pior fator de toda essa situação, e eu nunca mais esconderia nada deles depois disso. Me sentir como um impostor, um vilão de desenho animado, embrulhava meu estômago por completo. Eu admito que nunca cheguei nem perto de ser o herói, mas curtia me encaixar no título de anti-héroi.

Ultrapassar minhas barreiras me deixava desnorteado, e era assim que me sentia perto de Vacchiano. Ela estava constantemente me desafiando, me obrigando a sempre estar fazendo mais e isso me deixava sem controle. Uma coisa importante sobre mim é que eu odeio não ter controle. Por isso Vacchiano era tão perigosa para mim, estar com ela me deixava indefeso.

Era como dirigir um Maserati novo em uma rua sem saída. Sim – pensei –, eu estava citando frases da música da garota. Não podia negar que era uma boa música, e eu meio que conseguia entender a sua letra. Ela simplesmente falava sobre a intensidade que as coisas podem ter; o que era engraçado, já que ela era a pessoa mais intensa que eu havia conhecido em toda a minha vida.

Uma pequena parte de mim, que eu tentava romoer profundamente, se perguntava se um dia ela poderia escrever sobre mim. Não esperava que isso realmente acontecesse, mas fiquei com isso na cabeça desde a fala de minha mãe. E, querendo ou não, eu era um fator considerável em sua vida. Vamos lá, não seria tão impossível assim.