26 | the heart wants what it wants.

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Pablo Gavi

Era uma manhã gelada em Barcelona.

E eu acordei sozinho na minha cama mais uma vez. Me levantei devagar, fui tomar um banho gelado para despertar e acalmar os nervos do corpo.

Ao sair já vestido, encarei a cama vazia.

A última mulher que dormiu aqui tinha sido Anne. Depois disso eu nunca mais dormi com ninguém. A única pessoa que beijei foi Violet, e depois daquele dia nos tornamos bons amigos. Ela era a única pessoa com quem eu estava conseguindo me abrir nesses últimos dias e eu era muito grato por isso. Principalmente porque dos meus amigos, ela era a única que não conhecia Anne de fato.

Ainda estou escutando suas músicas. A nova versão que lançou do seu álbum pode ter me tocado até mais que a primeira. Fiquei perdido em uma linha onde ela diz:

Eu queria que você voltasse
Eu queria nunca ter desligado o telefone
Queria que você soubesse disso
Nunca te esquecerei enquanto eu viver
Queria que você estivesse aqui agora

Eu gostava de acreditar que suas músicas eram sobre mim. Sobre nós. Que eu era o cara da sua vida. Eu queria que elas fossem sobre mim.

E ainda sim eu a mandei ir embora.

A mandei ir, porque se ficasse eu nunca mais conseguiria me afastar. E eu temia o que seria de nós dois se voltássemos a ficar juntos. Dessa vez seria real desde o início, então seria de fato um relacionamento. A questão era: estaríamos prontos para esse nível de compromisso?

A única coisa que eu sei é que não consigo me imaginar com alguém que não seja ela.

Mas eu tinha dúvidas, e ainda sentia um pouco de amargura pela forma como tudo aconteceu. A forma como disse que estaria comigo e me deixou para trás.

Eu respirei fundo ao me levantar da cama onde estava sentado e me preparei para descer.

Mamãe estava aqui e eu não sabia como reagir. Não sabia como ela tinha reagido com tudo isso. Menti para ela, para Aurora e para todo mundo.

– Bom dia, mãe – comprimentei a senhora que estava sentada na bancada da cozinha, com um copo de café na mão.

Me sentei ao seu lado, colocando café para mim também.

– Como está? – questionou me olhando de forma meiga.

– Estou bem, e você? Aurora? Papai?

– Todos estamos muito bem, querido – ela sorriu. – Como está Anne?

Pisquei atordoado com a pergunta.

– Bem, eu suponho – dei de ombros. Então ela franziu o cenho. – O quê?

– Eu não acredito em nada que a internet diz. Nem antigamente, e principalmente não agora que você é uma pessoa pública – respirei fundo, a encarando. – Vai me contar o que aconteceu?

– É tudo verdade, tudo o que disseram. O contrato... tudo. Talvez apenas não a parte em que disseram que ela era uma "vadia mercenária".

Minha mãe balançou a cabeça várias vezes e tomou mais um gole de café antes de voltar a falar.

– Você sabe que eu te conheço mais do que ninguém, não sabe? – assenti. – Acha que eu não teria percebido se não gostasse dela? Eu sei que tinha alguma coisa, independente de tudo. E eu posso não ter a conhecido tão bem, mas ou ela é filha da Michelle Pfeifer, ou ela gostava muito de você.

Foi difícil escutar essas coisas da minha mãe. Uma coisa ter enganado pessoas que não me conheciam. Mas ela me dizer que eu não estava enganando... que percebia que eu sentia algo... era demais.

lie to me - pablo gaviOnde histórias criam vida. Descubra agora