Whatever It Takes - Jiara

23- Cedro e hortelã

                             Kiara

Sexta-feira.

Minha testa soa e meu peito expande freneticamente, enquanto as lágrimas rolavam sem controle pela terceira vez na semana.

- Aconteceu de novo? - Sarah empurra levemente a porta, revelando Cleo, que vinha logo atrás com uma caneca fumegante de algo, que deduzi ser chá.

Eu não tinha esses pesadelos a anos. Dois anos para ser exata, mas fazem três dias desde que eles voltaram. Não tenho certeza se a competição e os treinos serviram de gatilho ou se meu subconsciente está me pregando uma peça.

Felizmente, ou infelizmente, os ataques de pânico só aconteceram uma vez desde que os sonhos voltaram. Desde que eu volto a ter oito anos. Desde que eu revivo repetidamente a noite em que passei duas horas chorando incessantemente debaixo de uma cadeira de arena. Sarah e Cleo têm me ajudado desde que me ouviram na primeira noite.

Olho pela janela, concluindo que ainda estava escuro, apesar ter certeza de que já passava das 2:00 da manhã.

- Desculpe ter acordado vocês. - Me ajeito na cama e limpo o rosto. - Não percebi que tinha feito barulho.

- Pode parar. - Cleo me repreende. - Nós somos suas amigas, e vamos acordar de madrugada quantas vezes você precisar. - Ela me estende a caneca de chá.

As garotas sabiam sobre o acidente, e sobre o quanto isso me perturbava, e estavam sempre lá quando eu precisava.

- Você já contou isso para Jonh B? - É a vez de Sarah falar.

Ela perguntou isso nas últimas duas vezes, e eu dei a mesma resposta.

- Não... - Suspiro. - E agradeceria se você não dissesse nada.

- Não entendo o porquê de ele não poder saber. - Cleo resmunga.

- Eu já expliquei isso. - Me levanto depois de deixar a caneca sobre a mesa de cabeceira, indo em direção ao banheiro para lavar o rosto. - Além do mais, Jonh B tem os próprios problemas.

Jonh B passou semanas se sentindo culpado depois do acidente. Ele alegava que se estivesse lá, talvez eu não tivesse tanto trauma daquele dia. Levou mais de um mês para que eu e meus pais o convencessem de que aquilo não foi culpa de ninguém, e que não podeia ter sido previsto.

- Nós só queremos ter certeza de que você está bem. - Sarah se explica.

Seco o rosto e volto para cama. As garotas se sentam, e encostam na cabeceira, como fizeram nas últimas duas noites. Volto para debaixo dos cobertores, me perguntando o que fiz para merecer amigas tão boas, e ao mesmo tempo, me sentindo um pouco mal por dar tanto trabalho.

- Sinto muito por isso. - Me ajeito sobre a cama.

- Melhor você não começar com isso de novo. - Cleo resmunga puxando a coberta.

- Somos suas amigas e preocupação execiva vem com o pacote. - Sarah anúncia, antes de se cobrir.

A loira havia me convencido de que se ficassemos todas juntas, evitaria pesadelos, ou pelo menos ajudaria caso eles voltassem. Além disso assistir Sarah e Cleo brigando como um casal de velhas sobre quem esstá puxando o cobertor, era entretenimento puro.

- Melhor nenhuma de vocês me chutar de novo. - Brinco.

- Eu já disse que não fui eu. - Cleo se isenta da culpa.

- Claro que não, você estava ocupada roubando a droga da minha parte do lençol. - Sarah provoca.

Outra dicussão se inícia, e meu sorriso cresce involuntariamente.