34- Olhe para mim

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                              Kiara

Segunda-feira.

Desço as escadas tomando cuidado para não fazer barulho. Levantei mais cedo porque Johnny queria começar a ensaiar o quanto antes para a apresentação da semana que vem.

Passei um bom tempo procurando as chaves da moto de JJ, até finalmente achá-las, em uma das gavetas da sua escrivaninha. E mais tempo ainda tentando sair de seus braços sem acordá-lo, antes disso.

Me sento devagar no sofá para calçar os sapatos, me preocupando em não acordar ninguém. Max, por outro lado, tinha outros planos, já que tenho certeza de que qualquer um em um raio de 10 Km ouviu seus latidos, quando ele me viu pela porta de vidro do quintal.

- Não, Max! - Sussurro indo em direção à porta. - Não, não late.

Abro a passagem para que ele se acalme. Max ergue o funcinho contra minha palma assim que me alcança, finalmente ficando quieto.

- Bom garoto. - Sorrio vendo-o se acalmar.

Suas orelhas se erguem quando um barulho vem da porta da frente.

- Pelo sorriso no seu rosto, nós dois tivemos uma ótima noite ontem. - Topper provoca assim que passa pela entrada. - E se eu tivesse que adivinhar, diria que você não dormiu no meu quarto.

O encaro de longe, me levantando assim que Max vai em direção a ele.

- Não sei do que está falando. - Descoverso sorrindo.

- Claro que não sabe. - Topper ri. - Onde vai?

- Treinar. - Respondo passando a mochila sobre os ombros e indo até a porta. - Johnny quer se adiantar para a apresentação de semana que vem.

- E o que eu digo para JJ quando ele acordar e você não estiver mais na cama com ele?

- Até mais, Topper! - Ignoro sua provocação saindo de casa.

A Harley preta brilha sob o Sol quando a tiro da garagem. Encaixo o capacete sobre a cabeça e passo uma das pernas pelo acolchoado.

Curiosamente, meu avô havia me ensinado a pilotar. August Carrera serviu a marinha e se aposentou cedo demais, o que o deixou entediado e inclinado a atividades pouco seguras.

Apesar de fingir ser durão, papai me disse que ele chorou quando me viu pela primeira vez no berçário. Acho que foi o dia em que ele decidiu me tornar uma miniatura de si mesmo.

Sorrio como se ele pudesse me ver agora...

[...]

A lâmina do meu patim derrapa mais uma vez, arruinando completamente o final do meu salto.

Eu não era uma pessoa particularmente reflexiva, mas essa manhã foi como se o mundo tivesse desabado em minha cabeça.

Sobrecarregada.

Era como eu me sentia.

Eu tinha um plano bem formado quando cheguei em Yale. A patinação, seria meu foco principal, minha grade de aulas seria exatamente igual a dos meus pais e eu me formaria em 4 anos, como a terceira geração de Carrera's em Yale.

Sem amigos, sem namorados, sem festas...

Sem distrações.

Como tinha que ser.

E hoje de manhã a sensação de falha havia me acertado em cheio.

Johnny me encara confuso do canto da pista, antes de deslizar até mim.

Whatever It Takes - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora