04| Joan Didion.

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"Eu sei por que tentamos manter os mortos vivos: fazemos isso para mantê-los conosco

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"Eu sei por que tentamos manter os mortos vivos: fazemos isso para mantê-los conosco. Também sei que, se quisermos viver, chega um ponto em que devemos abandonar os mortos, deixá-los ir, mantê-los mortos."

Cécile nunca se sentiu tão feliz.

Charles saiu às pressas do apartamento depois de um momento constrangedor — para ele. A escritora não parecia mais tão interessada em ajudá-lo com seus problemas, muito pelo contrário, parecia finalmente estar indo resolver os dela. Leclerc se sentiu feliz com isso, mesmo que de uma maneira triste, de alguma maneira o piloto pensava que o parceiro dela não merecia tê-la ao seu lado. Ela não é reabilitação para que o homem aparecesse quando quisesse e a deixasse quando tivesse vontade.

— Por que não me disse que viria? — a loira perguntou.

— Na noite em que nos conhecemos você me disse que a vida é uma eterna roda de surpresas e que as adorava. Sei que é difícil para nós dois lidarmos com essa distância, mesmo que ela seja necessária e uma escritora que eu não gostava tanto assim, me ensinou que a gente mata a saudade pensando na razão dela.

— Essa escritora por acaso é russa?

— Sim, mas isso não importa muito, ela é o amor da minha vida, sabe? — brincou o americano.

Essas visitas tinham algumas regras implícitas. Aconteceu uma vez, passaram dois dias juntos em Shanghai, nunca disseram em voz alta, mas queriam falar sobre isso em algum momento. Eles não se beijavam, poderiam dormir juntos, mas sem sexo, os limites deixavam os abraços, assistiam filmes juntos, mas não grudados, não queriam tornar aquilo mais doloroso do que já era. Bom, Adam não queria piorar aquilo pra ela.

O cineasta havia sido casado há muito tempo com outra diretora, o casamento durou quatro anos, acabou por ele não conseguir ser presente o bastante e nunca conseguiu falar sobre os seus sentimentos de verdade. Eles não brigavam, não discutiam, muito menos se amavam. O divórcio aconteceu em um ano específico, dez anos depois, Adam finalmente conseguiu se abrir sobre o assunto e escreveu um filme sobre a situação.

Her.

No filme, o solitário escritor Theodore desenvolve uma relação de amor especial com o novo sistema operacional do seu computador. Surpreendentemente, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa, uma entidade intuitiva e sensível chamada Samantha. Foi por esse homem que Cécile se apaixonou.

Pro inspirado, calado e solitário. Ela gostava das madrugadas que passavam escrevendo sentados no chão da sala, lendo poesias um para o outro, cantando músicas no karaokê da televisão. A vontade de viver que ele tinha combinava com a dela, seus sonhos eram parecidos, as viagens que gostavam de fazer juntos. Não eram iguais, mas se completavam.

Adam era sempre a primeira pessoa a ler os livros de Cécile, enquanto ela era a primeira a ler seus roteiros. Antes de amantes, eram amigos, parceiros de vida e de trabalho, todas essas coisas pesavam em ambos, a saudade era tão grande que fazia tudo doer muito. Ele decidiu pegar a rota mais difícil, cabia a ele também tentar aliviar o peso pro lado dela.

Clássico| Charles Leclerc.Onde histórias criam vida. Descubra agora